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sábado, 16 de março de 2019

PROSEANDO COM MEU ESPELHO.

 
 


Esta semana, após 63 anos andejando por este mundão, entrei pela primeira vez em um hospital para um procedimento cirúrgico. Coisa mediana, mas só o fato de ser anestesia geral me deixou encagaçado. Foram três horas e meia de bisturi neste corpo véio que os tatus de cemitério vão comer por inteiro, algum dia.
 
Mas o pior foi o tempo que fiquei na Sala de Recuperação. Foram cinco horas vendo de tudo num ambiente triste, pesado, dolorido. Ali eu me consolei pois meu caso era flor perto de tantos. Ali eu percebi o quanto somos minúsculos perante tudo isto que chamamos vida.
Quando, finalmente, cheguei no quarto e me olhei no espelho, rosto inchado, ele (o espelho) veio com a mesma prosa de todas as manhãs quando começo meu dia. Só que desta vez lhe retruquei.
Começou assim a ladainha:
- Tchê. Tu DEVES tirar retrato SEMPRE de bombachas!
- Tchê. Tu TENS que emagrecer. NÃO PODE comer doces. Repara teu diabetes. Pegou teus remédios?
- Tchê. Tu NÃO DEVES  chorar em público. PARA de te vitimizar com saudade dos teus filhos!
- Tchê. NÃO postas fotos em restaurantes. Quantos por aí mal tem o que comer!?
- Tchê. Não postas fotos de viagens. Quantos conhecidos teus estão trabalhando nestas horas (ou nem tem emprego)!?
- Tchê. NÃO escrevas sobre futebol. Tu tens amigos colorados!
- Tchê. NÃO escrevas sobre política. Tu tens amigos "coxinhas e petralhas"!
- Tchê. Tu TENS que manter tolerância com as opiniões nas redes sociais e com os conchavos nos festivais!
- Tchê. Tu TENS que parar de escrever poesia rimada e metrificada. A moda hoje é a prosa descompromissada, em textos longos!   
- Tchê. Tu TENS que cortar teu cabelo!
- Tchê.... - CHEGA, gritei. Passamos tempo demais nos julgando! Isto é cansativo! Quero ser feliz do MEU jeito!  

E só não quebrei o espelho porque era do hospital. Mas o meu, que não venha mais se fresquear.  

 

  

 

sábado, 28 de outubro de 2017

AS INTEMPÉRIES DA CARREIRA SOLO



Quinta-feira a noite fizemos a gravação de parte do programa Do Litoral a Fronteira, conduzido pelo meu amigo Jairo Reis, em sua 201 edição, onde a grande atração foi o gaiteiro crioulo de São Luiz Gonzaga Ricardo Comassetto acompanhado pelo violonista Pedro Terra, lançando seu CD solo "Genuino".  O programa vai ao ar na íntegra neste domingo das 6has 8h da manhã pela Rádio Bandeirantes AM 640 e FM 94.9.   

Mas o que me levou a escrever a presente matéria foi por ver o esforço do Ricardo Comassetto na divulgação de seu belo trabalho (é um dos melhores CDs instrumentais dos últimos tempos). Apesar da alegria pelo êxito de gravar sua marca num disco, era notório o seu ar cansado. Havia viajado praticamente o dia todo, teria uma apresentação no Boteco Tchê durante a noite e, as 4 hs da manhã, já estaria na estrada rumo a Curitiba para cumprir novos compromissos na noite seguinte.
 
Eu sei que isto é algo comum no meio artístico mas, o que me entristece, é ainda ouvir de muitos que "músico não é profissão". E, sob essa alegação, pagam mal, quando pagam. 
 
Esta prosa com o humilde, competente e excepcional gaiteiro de botoneira Ricardo Comassetto me levou a outro tipo de reflexão:
 
Vale a pena o músico sair da "zona de conforto" de integrar um grupo, sendo apenas "mais um do todo", uma semente das diversas que compõe a romã, para se tornar a própria romã?
 
Nesta situação ele ganha pouco e não é destaque. Ao mesmo tempo não precisa preocupar-se com os encargos de liderar um grupo, sair atrás de patrocínios, shows, resolver problemas estruturais e financeiros que surgem a todo o momento além de divulgar seus trabalhos como faz, atualmente, meu amigo Ricardo Comassetto.
 
Isto tudo sem falar no capital a ser empregado na estrutura de um grupo, por mais simples que seja.
 
Quando o meu amigo Paulo Fogaça, após longos anos como intérprete, deixou o grupo Chiquito e Bordoneio (já havia trabalhado nos Tiranos e Nativos) para fazer carreira solo, tivemos este tipo de prosa. 
 
Então fica a pergunta: - É melhor ser soldado ou comandante? Ser coadjuvante ou protagonista, correndo todos os riscos que acompanham tal situação? 
 
De toda a forma, parabéns a quem enfrenta tais intempéries, como faz agora o parceiro Ricardo Comassetto. Sucesso, meu galo! 
 
 
 
 
    

sábado, 25 de fevereiro de 2017

DO "GAUCHÊS" PARA O PORTUGUÊS...


.... SOBRE O JAPONÊS
 
 
 
 Gurizada, é o seguinte: Canso de dizer que nosso blog é voltado para as tradições gaúchas, coisa e tal. Que nosso público alvo são os amantes da cultura riograndense

Então eu vos pergunto: o que a foto aí de cima tem a ver com isso? Nada! Mas ela é muito representativa dessa gente trabalhadora, de tradições milenares, que vem lá do outro lado do mundo. Por isto eu pensei assim: vamos colocar um texto bem gaudério que compense a imagem não ser do sul. Então aí vai, com a devida tradução do "gauchês" para o português, sobre o japonês.

O retrato (foto) aí de riba (cima) vem de regalo (presente) para os incréus (descrentes) do forcejo (trabalho) e do falquejo escolar (estudo).

O povo de luz baixa (olhos amendoados) dá amostra do pano (demonstra) de como sair das patas da égua (dificuldades) estribado (firmado) na lida ( serviço).

Rebrotaram de um borralho morto (fogo apagado) após esgualeparem-se (ficarem feridos) de lombo e espírito (corpo e alma) por uns foguetes covardes (bombas atômicas).

Hoje são laranjas de amostra (exemplos) para o resto do povaréu (mundo).

E aqui pela província (Rio Grande) ainda nos descem o pau (criticam) por cultivar nossos repasses (tradições). Mas lá na querência do acendimento da chama crioula (terra do Sol Nascente) eles tem esta balda (costume) há mais de dois mil anos e ninguém fica de beiço torcido (contrariado). Lado avesso (ao contrário), eles se entonam (orgulham) pelos seus que já bateram as botas (ancestrais que morreram).

Que esta chapa (imagem) nos faça queimar os miolos (pensar).

Matuto com meus botões (penso comigo mesmo) que agora o bilhete (texto) ficou nos conformes (de acordo) com o blogue (blog)!

Ass: Léo Ribeiro
 
 
 

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A DURA VIDA DOS GRUPOS DE BAILE


NO RIO GRANDE DO SUL 

antigamente se tocava a troco da bóia,
hoje os grupos de baile tem que manter grandes estruturas
Foto: arquivo IGTF
 

"Quem me olha com apreço,
chapéu tapeado na testa,
não sabe o quanto padeço
quando estou longe de festa" 
 
Este é o refrão de uma letra que fiz para o conjunto Os Tiranos falando da visão ilusória que muitos tem do artista no Rio Grande do Sul. O povo encherga seus ídolos como pessoas diferentes imaginando que aquele momento de puro brilho em cima do palco é extensivo a vida toda, que ninguém, ali, tem problemas por vezes até maiores do que os outros.  
 
Na verdade a missão do músico é esta, levar contentamento ao seu público, só que ele, muitas vezes, disfarça grandes dissabores como a própria dificuldade de ali estar. 
 
Vamos pegar como exemplo um grupo de baile de médio porte. 
 
Para se montar um conjunto gauchesco mediano (estruturalmente falando) não se gasta menos que duzentos e cinquenta mil entre equipamento e ônibus.  
 
O preço que um grupo de baile desta envergadura cobra para animar um fandango gira em torno de 7 a 12 mil reais. Os grupos grandes (que não são muitos), vão de 13 a 20 mil. Os pequenos fixam o cachê de 2 a 6 mil.  
 
O envolvimento de técnicos, músicos, motorista, etc..., sempre falando de um conjunto nem oito nem oitenta, é em torno de 10 a 15 pessoas.  
 
Em suma. Com o que sobra, quando sobra, o conjunto tem que rezar para que tudo ocorra dentro da mais perfeita normalidade e não se danifique nenhum aparelho, não estrague a condução, ninguém adoeça... 
 
Enquanto isso, qualquer Zé Ruela sertanejo cobra dez vezes mais do que isto e nossos rodeios pagam de bom grado porque tudo que é dos outros é melhor.  
 
Mas os problemas não param por aí.  
 
Dentre os conjuntos, não há uma associação (para não dizer união) que padronize seus interesses e, por isso, acabam se devorando, seja por uma guerra de valores onde, para ganhar a concorrência, o grupo acaba baixando sua tabela, seja por, simplesmente, um não ajudar ao outro. 
 
Inclusive grupos tradicionais, há anos no mercado, baixam seus valores para ganhar espaço de seu concorrente.   
 
Os próprios contratantes, na maioria Centros de Tradições, não estão muito preocupados com a qualidade musical de quem convidam para animar seus bailes. Querem o menor preço. 
 
Até o prazer de gravar um disco e ver suas músicas fazendo sucesso já não é mais o mesmo. Primeiro porque a internet corre na frente e divulga o CD antes do mesmo ser lançado, não dando lucros ao autor, segundo porque as rádios, com raras exceções, não rodam mais músicas gauchescas e vão nos entupindo os ouvidos com sertanejos universitários. As antigas gravadoras que brigavam a tapa pelos artistas gaúchos, reduziram drasticamente seus trabalhos e quem quiser gravar, tem que pagar. 
 
E se as emissoras não tocam, a música não é ouvida e o conjunto tem que nadar de pala contra a corrente na divulgação de seu trabalho. Há quantos anos não vemos uma canção fazer sucesso como dezenas de músicas antigamente? 
 
Acrescente a tudo isto o perigo de nossas estradas; os fins de semana longe da família; as desavenças dentro do próprio grupo que originam, muitas vezes, pendengas judiciais e ações trabalhistas... 
 
E para o mal dos pecados, entramos nesta crise financeira onde o divertimento vem em último plano. 
 
Então, meus amigos de rádio, promotores de eventos, pessoas ligadas à música e povo que aprecia a cultura gaúcha. Valorizem os conjuntos riograndenses. Eles são compostos por verdadeiros heróis.


Léo Ribeiro    
 

 

sábado, 15 de outubro de 2016

BAIANO CANDINHO


Uma obra de fundamento presenteada pelo amigo Nelson Blehn
 
Uma das passagens históricas que mais me fascina e sobre a qual constantemente busco conhecimento é a do Baiano Candinho (1846-1898), desertor da Guerra do Paraguai, que se estabeleceu na antiga colônia alemã de Três Forquilhas na década de 1870.  Não é ficção. São fatos que fazem parte de nosso passado. 
 
Cheguei a escrever uma poesia sobre este personagem.
 
Ainda hoje, tantos anos após sua morte, há quem idolatre e quem odeie suas atitudes de Robin Hood dos pampas. Corajoso, brigão, sempre armado e cercado de gente de sua iguala, liderou o Bando do Pinto, que levou este nome porque mandavam e desmandavam na região da Serra do Pinto, roubando gado em São Francisco de Paula e revendendo ou doando aos pobres por toda a encosta da Serra Geral. 
 
O melhor e mais completo livro que li sobre o tema foi Noite de Reis escrito em 1935, e reeditado em 2007 pela AEC – Associação de Estudos Culturais, de Osório, obra do então intendente municipal de Osório Fernandes Bastos (1895-1938).  Baiano Candinho, que na verdade era cearense, torna-se um personagem quase mítico no litoral gaúcho, muito em parte pela grande obra do escritor-intendente. 
 
O título da obra tem origem na morte do herói/ladrão. Após a Revolução Federalista (1893-1895), quando lutou como maragato (do Partido Liberal), foi surpreendido e degolado na “Noite de Reis” de 1898. 
 
Pois agora esta verdadeira relíquia chega às minhas mãos. Chama-se E a Vida Continua. É um livro de 380 páginas escrito por Elio Eugenio Müller, nada mais, nada menos, que bisneto de Baiano Candinho.
 
Mil gracias, meu "ermão" Nelson Blehn, que, na tarde de autógrafos, lembrou deste amigo, comprou e me regalou. 
 
Vou ler com o maior carinho e atenção.  
 
 Sepultura de Baiano Candinho, em Itati
 
 
 
  
 
   

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

DINHO E FORTUNATI SAEM, E JÁ VÃO TARDE!


O Prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, sancionou no dia 28 de setembro, a Lei nº 10.939 de autoria do Vereador Dinho, que altera o nome do Acampamento Farroupilha.
 
De Pouco adiantaram as manifestações dos principais envolvidos, os acampados, contrários a citada Lei, inclusive colhendo milhares de assinaturas e espalhando faixas pelo Acampamento Farroupilha durante as festividades de setembro (fotos abaixo).
 


 
Mas o castigo veio a cavalo pois o vereador que serviu de hospedeiro aos idealizadores do projeto e que foi o quarto legislador a ser procurado (os três primeiros não aceitaram) acabou não se reelegendo. Muito por culpa desta infeliz proposição. Espera-se que aqueles que buscaram seu apoio arrumem um encosto para o ex-vereador.
 
Da mesma forma o atual prefeito, com a sanção da Lei, sai mas deixa seus pelos pela porteira. Já vai tarde. Pobre do candidato Sebastião Melo que tem que firmar este prego em polenta até o fim de outubro.
 
Queremos deixar claro que não temos nada contra a pessoa de Nico Fagundes que foi um grande nome dentro da cultura gaúcha. Apenas achamos que não deveriam alterar algo que já está consagrado. Se fosse para modificar que se chamasse de Bento Gonçalves da Silva ou Antônio de Souza Netto.

Que seus amigos e corporativistas de plantão, tomem tenência e ponham a história e a tradição do Rio Grande acima destas bajulações pessoais.
 
Esperamos, agora, que as entidades envolvidas com o tradicionalismo e com o Acampamento que foram contrários a troca mas se achicaram, entrem com um novo Projeto de Lei e alterem novamente esta inhaca. Não mudaram a Avenida de Castelo Branco para Legalidade?  
 
Eis a sanção do prefeito:  
 
LEI Nº 12.129, DE 28 DE SETEMBRO DE 2016.

Altera o caput do art. 3º-A e o inc. II do caput do art. 5º da Lei nº 7.855, de 25 de setembro de 1996, e alterações posteriores; altera a ementa e o art. 2º da Lei nº 10.028, de 20 de julho de 2006; e altera a ementa, o art. 1º, o caput e os §§ 2º e 3º do art. 2º, o caput do art. 3º, o caput do art. 4º, o caput do art. 4º-A e o art. 5º da Lei nº 10.428, de 6 de maio de 2008, alterada pela Lei nº 10.939, de 2 de agosto de 2010; denominando Nico Fagundes o Acampamento Farroupilha.

O PREFEITO MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE

Faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu, no uso das atribuições que me confere o inciso II do artigo 94 da Lei Orgânica do Município, sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º  Fica alterado o caput do art. 3º-A da Lei nº 7.855, de 25 de setembro de 1996, e alterações posteriores, conforme segue:
“Art. 3º-A  Dos recursos arrecadados por meio de doações ou outras formas de apoio financeiro de empresas ou de entidades não governamentais relacionados ao Acampamento Farroupilha Nico Fagundes, a Comissão Especial e o Comitê Gestor deverão prestar contas à sociedade, por meio do Diário Oficial Eletrônico de Porto Alegre (DOPA-e) e do Portal Transparência Porto Alegre, discriminando sua origem e seu destino, até 30 (trinta) dias após a realização desse evento.
.........................................................................................................................” (NR)

Art. 2º  Fica alterado o inc. II do caput do art. 5º Lei nº 7.855, de 1996, e alterações posteriores, conforme segue:
“Art. 5º  .....................................................................................................................
....................................................................................................................................
II – Acampamento Farroupilha Nico Fagundes, localizado na Estância da Harmonia, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho.” (NR)


Art. 3º  Fica alterada a ementa da Lei nº 10.028, de 20 de julho de 2006, conforme segue:
“Institui, no Município de Porto Alegre, a função simbólica de patrono ou patrona da Semana Farroupilha e determina-lhe a assunção da chefia honorária do Acampamento Farroupilha Nico Fagundes.” (NR)

Art. 4º  Fica alterado o art. 2º da Lei nº 10.028, de 2006, conforme segue:
“Art. 2º  Fica determinada ao patrono ou à patrona da Semana Farroupilha a chefia honorária do Acampamento Farroupilha Nico Fagundes.” (NR)

Art. 5º  Fica alterada a ementa da Lei nº 10.428, de 6 de maio de 2008, alterada pela Lei nº 10.939, de 2 de agosto de 2010, conforme segue:
“Institui, no Município de Porto Alegre, o Acampamento Farroupilha Nico Fagundes e dá outras providências.” (NR)

Art. 6º  Fica alterado o art. 1º da Lei nº 10.428, de 2008, alterada pela Lei nº 10.939, de 2010, conforme segue:
“Art. 1º  Fica instituído, no Município de Porto Alegre, o Acampamento Farroupilha Nico Fagundes, a ser realizado anualmente, para a promoção de eventos artísticos e culturais alusivos à tradição rio-grandense, especialmente a manutenção dos ideais da Revolução Farroupilha.” (NR)

Art. 7º  Ficam alterados o caput e os §§ 2º e 3º do art. 2º da Lei nº 10.428, de 2008, alterada pela Lei nº 10.939, de 2010, conforme segue:
“Art. 2º  O Acampamento Farroupilha Nico Fagundes será organizado pela Comissão Especial constituída na forma do art. 2º da Lei nº 7.855, de 25 de setembro de 1996, e alterações posteriores.
…................................................................................................................................
§ 2º  A permanência do Acampamento Farroupilha Nico Fagundes deverá compreender o período de 25 de agosto a 20 de setembro.
§ 3º  O desmonte dos galpões do Acampamento Farroupilha Nico Fagundes deverá ser feito nos 10 (dez) dias subsequentes ao seu encerramento, sob pena de, em caso de não atendimento desse prazo, não ser admitida a inscrição do infrator nesse evento, no ano subsequente.” (NR)

Art. 8º  Fica alterado o caput do art. 3º da Lei nº 10.428, de 2008, alterada pela Lei nº 10.939, de 2010, conforme segue:
“Art. 3º  A organização do Acampamento Farroupilha Nico Fagundes deverá editar, anualmente, seu regulamento, observando:
.........................................................................................................................” (NR)

Art. 9º  Fica  alterado o caput do art. 4º da Lei nº 10.428, de 2008, alterada pela Lei nº 10.939, de 2010, conforme segue:
“Art. 4º  As entidades interessadas em participar do Acampamento Farroupilha Nico Fagundes deverão apresentar projeto cultural a ser implementado no período de sua realização.
.........................................................................................................................” (NR)

Art. 10.  Fica alterado o caput do art. 4º-A da Lei nº 10.428, de 2008, alterada pela Lei nº 10.939, de 2010, conforme segue:
“Art. 4º-A  Fica criado Comitê Gestor para o acompanhamento e a fiscalização do recebimento e da utilização dos recursos relacionados ao Acampamento Farroupilha Nico Fagundes, oriundos do Orçamento Municipal, de arrecadações, de doações ou outras formas de apoio financeiro de empresas e de entidades não governamentais.
.........................................................................................................................” (NR)

Art. 11.  Fica alterado o art. 5º da Lei nº 10.428, de 2008, alterada pela Lei nº 10.939, de 2010, conforme segue:
“Art. 5º  Fica vedado qualquer tipo de cobrança para o ingresso no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho durante o Acampamento Farroupilha Nico Fagundes.” (NR)

Art. 12.  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE, 28 de setembro de 2016.

José Fortunati, Prefeito.
Roque Jacoby, Secretário Municipal da Cultura.

Registre-se e publique-se.
Urbano Schmitt,
Secretário Municipal de Gestão.




sexta-feira, 23 de setembro de 2016

CARTA ABERTA DE UM GAÚCHO


Esta matéria eu escrevi no final de setembro de 2014. Agora, alguém foi lá no facebook e "curtiu" e a postagem voltou a milhão, novamente. Fui reler meus escritos e percebi que é um tema atemporal, ou seja, se eu vier a recolocá-la daqui há uns 30 anos, estará atual. Então, compartilhei de mim mesmo aqui no blog para àqueles leitores que não leram anteriormente:

 
CARTA ABERTA DE UM GAÚCHO

Agora que passaram os festejos farroupilhas, algo que instiga, que agita, que revolta algumas pessoas intolerantes e que vem arrebanhando muitos adeptos sem personalidade, inclusive dentro do próprio gauchismo, quero dar uma dicas a ilustres que nesta época do ano reaparecem com seus textos bem articulados para atacarem àqueles que têm por culto, ou mesmo por gosto, usar umas bombachas.

Creio que muitos destes que escrevem são do tempo dos antigos LPs, também chamados de “bolachões” e por isso não estranharão se eu lhes propuser para o próximo ano “virarem o disco” (ou, para que os mais novos entendam), trocarem o tema, não baterem na mesma tecla.

Digo isto por que todos eles, anualmente, são intencionalmente tendenciosos a vincularem os nossos costumes com a Revolução Farroupilha fixando a identidade do gaúcho com um determinado período histórico. Para estes, o Rio Grande do Sul nasceu no dia 20 de setembro de 1835. Com todos os seus tempos de escola estes colunistas, escritores, mestres acadêmicos, e seus puxas, acabam se nivelando ao gaúcho que vai ao “acampamento” para comer, beber, ouvir uma gaita, dar “cantadas” numa “chinoca”, e se achar o maior “cara” do mundo. Ao determinar que o tradicionalista de hoje vive de histórias fantasiosas de uma guerra que para eles, de repente, nem aconteceu, estes “gaúchos por acidente geográfico” (pois gostariam de ter nascido em Paris, Rio, Nova York...) se equiparam ao bombachudo de rompantes, de falar alto, de faca na cintura, mas que nem imagina quem foi um João Simões Lopes Neto, por exemplo. 
     
- Caros amigos (para não dizer caras-pálidas): O chimarrão, nosso mate-amargo, nossa comunhão fraternal, símbolo da hospitalidade que não pode faltar em qualquer rancho sulino por mais humilde que seja, vem lá das missões guaraníticas, portanto, bem antes da revolução farroupilha.

- O Cavalo, extensão das pernas do gaúcho, e que foi arma letal da briosa cavalaria farrapa, enfrentando por quase dez anos todo o império, com menos homens, menos armas, mas muito mais valentia, se faz presente em nossa terra bem antes deste decênio heroico e ajudou a gauchada a sustentar as fronteiras brasileiras nas Guerras Cisplatinas, enquanto a côrte comia, bebia e promovia saraus no Rio de Janeiro. Além disto foi parceiro de trabalho nos tempos das sesmarias sem alambrados, no reponte do gado alçado, na formação cultural do gaúcho. Nos dias de hoje, continua amigo fiel nas lides de campo, nas centenas de cavalgadas de integração familiar, nas festas e rodeios. 
 
- A bombacha, que vocês orgulham-se de nunca ter vestido, mas que a milhares de rio-grandenses serve de segunda pele, nem existia na época da revolução. Surgiu a partir da Guerra do Paraguai. Se vivêssemos a cultuar exclusivamente o tempo que vocês maldosamente apregoam, teríamos que andar por aí, pelas praças, pelos shoppings, pelas “casas”, de CHIRIPÁ.

- As nossas danças, as nossas músicas, as nossas poesias, nossa literatura regional é toda posterior a Revolução Farroupilha e poucas destas manifestações artísticas fazem referência exclusiva e esta epopeia que tanto nos orgulha mas que não é motivo único de nossa existência. 

- Talvez a grande mágoa de vocês seja a escolha do 20 de setembro como o Dia do Gaúcho, mas queriam o que? A data em que Elis Regina nasceu? Também gosto da “formiguinha” mas não é para tanto... Poderíamos, talvez, escolher o 01 de março de 1845, data do Tratado de Paz de Ponche Verde, ou o 11 de setembro de 1836, data da Proclamação da República Rio-grandense, mas aí seria tudo dentro do mesmo tema (Revolução Farroupilha - Guerra dos Farrapos).    

Ficaríamos aqui indo além, enumerando dezenas de fatos que desvinculam os costumes do gaúcho da Revolução Farroupilha e ligando-os, muito mais, a sua labuta de peão, a sua vivência nas estâncias, a busca de trabalho na cidade grande e a consequente saudade do campo, a sua veia artística, a sua adaptação com a rudeza do clima, a sua alma desbravadora e colonizadora, mas nem desejamos tudo isto em face de que também temos orgulho pelos feitos heroicos de nossos antepassados farrapos, mas não só disto. 

Vivenciamos intensamente os dias de hoje pois estes são os nossos momentos mas, no mesmo compasso, cultuamos uma tradição bonita, pura, legada por nossos antepassados. A Revolução Farroupilha teve narrativas épicas que deixaram marcas indeléveis na nossa história e permanecerá como um marco na alma de todos os rio-grandenses mas nossa devoção ao Rio Grande vai bem além de uma Guerra e talvez por tudo isso sejamos um povo diferente de nossos irmãos brasileiros (nem melhores, nem piores – apenas diferentes) o que magoa, inibe, enrubece estes escritores e cria rompantes indesculpáveis em alguns gaúchos que se julgam superiores. 

Ninguém precisa andar de bombachas, de lenço no pescoço, de chapéu tapeado na testa... Só precisamos que respeitem o nosso espaço assim como respeitamos o espaço que não nos pertence. Se não gostam de nosso proceder, por nos considerarem retrógrados, por preservarmos costumes antigos, por apreciarmos músicas que vocês não apreciam, por termos um atavismo que vocês não têm, por termos identidade própria, desvinculem-se de nós

Que busquem outros temas para seus pitorescos escritos. O universo é vasto. O Brasil é rico em diversidades culturais. Preocupem-se com os carnavais, as festas juninas, os festivais de Parentins, as religiosidades nordestinas, os pantaneiros, os sertanejos... Se nossa história é fictícia, que comentem sobre Harry Potter, O Senhor dos Anéis, Guerra nas Estrelas, O Rei Leão, mas nos larguem de mão....

E parem com esta ladainha de que comemoramos e vivemos em função de uma guerra que perdemos pois aí vou ser obrigado a pergunta-lhes (um questionamento que não é meu) e guardando as devidas proporções: - Jesus Cristo não cumpriu sua missão porque morreu crucificado? A sua história é “fictícia”?  A Escócia, recentemente, não obteve nenhuma vantagem embora seu SIM tenha sido rejeitado, como país independente da Inglaterra?

Quem lê sabe e não precisa vir um "historiador" clarear nossas ideias de que nem todos os revolucionários eram separatistas, ou mesmo abolicionistas, ou que os alemães não se integraram na luta... Mas qual é a guerra que teve integração total de seus habitantes? Estas pessoas de quem falo se pegam apenas no que lhes importa para defender seus pensares. Não bombeiam o todo. O resultado político do embate.

Aproveitamos a olada e solicitamos aos detentores do poder público e que não sabem utilizá-lo, a não ser em benefício próprio, que não queiram empurrar goela abaixo da tradição, costumes que não fazem parte da mesma. Objetivem seu trabalho naquilo para que são pagos por nós, contribuintes. Respeitamos todos os segmentos da sociedade mas queremos preservar, fidedignamente, aquilo que nos foi repassado, caso contrário, na primeira curva da estrada, não enxergaremos mais o quão bonita e prestimosa foi a nossa história. 

Cordialmente 

Léo Ribeiro
Um Peão do Rio Grande do Sul
 
 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

PERGUNTAR NÃO OFENDE


Os vereadores de Porto Alegre aprovaram na tarde desta quinta-feira (25) o projeto de lei que altera o nome do Acampamento Farroupilha para Acampamento Farroupilha Nico Fagundes. Falecido em junho de 2015, o tradicionalista, cantor e compositor Antônio Augusto Fagundes, mais conhecido como Nico Fagundes, nasceu em 1934, no interior do município de Alegrete, cidade que anos mais tarde seria homenageada por ele com a canção Canto Alegretense.

A proposta é de autoria do vereador Dinho do Grêmio (DEM). O projeto segue para a sanção do prefeito José Fortunati.
 
Este ano recebi, do 35 CTG, o Troféu Antônio Augusto Fagundes
fato que muito me orgulha, mas não muda meu modo de pensar
 
Então eu pergunto:
 
- Se estamos diante de um evento que comemora a Revolução Farroupilha, o que Antônio Augusto Fagundes tem a ver com tal epopeia? Onde ficam nomes como Bento Gonçalves da Silva e Antonio de Souza Netto? O vereador Dinho sabe quem são estas pessoas? 
- Se é para nominar "in memoriam" apenas por importância cultural não haveria uma longa lista a começar por Barbosa Lessa?
- Se existe a necessidade de homenagear alguém que tenha feito algo pelo evento não seria o caso de reverenciar o poeta Luiz Menezes que, ao lado de Eraldo de Carvalho (Xiru) e Índio Sepé, estruturaram o Acampamento dentro do Parque da Harmonia? Tendo o "canhão" da RBS no costado Antônio Augusto Fagundes não poderia ter feito algo mais que gravar o Galpão Crioulo no local? 
- Entidades como MTG, IGTF, ACAMPARH, Comissão Gaúcha de Folclore e o povo que ali vivencia o gauchismo foram consultados?
- Não seria este ato de um vereador completamente alheio à nossa cultura, encampado por colegas que não estão nem aí para as nossas tradições, um oportunismo político em busca de visibilidade?
- Por que nossa briosa Câmara não luta pela criação do Museu do Gaúcho, por um Parque Temático permanente, por mais recursos para o próprio Acampamento, já que só o que temos a mostrar para os turistas são sapateadores em churrascarias?     
- Por que obscuros legisladores municipais (que até já tentaram retirar o Acampamento do Parque e levar para o Porto Seco) não preocupam-se com projetos de reais valores para  a comunidade ao invés de discutirem sobre saleiros nas mesas, cores clubísticas nas paradas de ônibus e troca de nome do Acampamento?
Respeito e admiro a obra de Antônio Augusto Fagundes mas penso que esta festividade não tem que receber denominação alguma. É Acampamento Farroupilha e pronto. Sei que vou arrumar encrencas com esta postagem, mas... é a minha opinião.     
 
 
 
  
 
 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

ASSIM FICA DIFÍCIL!


PROMOTOR DE JUSTIÇA USA ATÉ MARTIN FIERRO PARA JUSTIFICAR INDEFERIMENTO A PEDIDO DE TOMBAMENTO
DO GRÊMIO GAÚCHO

Todo o esforço de um dos poucos legisladores municipais a preocuparem-se com as tradições gaúchas e em manter a nossa memória cultural, Bernardino Vendruscolo (na foto com este blogueiro), parece estar sendo em vão.

Ontem, na boca da noite, o tribuno entregou-me cópia da negativa do Promotor de Justiça Alexandre Sikinowski Saltz em promover o tombamento do prédio que abrigou o Grêmio Gaúcho, a primeira entidade tradicionalista do Estado, presidida pelo Major João Cezimbra Jacques, hoje Patrono do Tradicionalismo.

A solicitação do ilustre vereador acontece, e é negada, pela segunda vez. Com certeza tais indeferimentos não levam em conta o real valor histórico deste imóvel que agora serve de abrigo a mendigos e drogados.

E o interessante é que o MP se justifica utilizando, inclusive, uma sextilha do saudoso poeta argentino José Hernandez.

Vejam a fundamentação na íntegra:

É caso de indeferimento da instauração de inquérito civil.

Em que pese a busca por novos elementos de convicção, as novas diligências apenas ratificaram o que já estava consignado nos autos do expediente: a desnecessidade de preservar o imóvel, que se encontra descaracterizado de suas estruturas originais.

Evidenciado que o prédio encontra-se em estado avançado de degradação, havendo apenas resquícios daquilo que outrora foi. O relatório da EPAHC juntada à primeira representação expôs que paredes, forros, pisos e estruturas de cobertura foram demolidos e substituídos por novos elementos. Externamente, as fotos incorporadas nestes autos traduzem a decomposição do bem que, para alguns, faz parte da história da tradição gaúcha.

A situação do imóvel traz a mente a memória da decadência já descrita por José Hernandez em seu Martin Fierro.

"Es la memoria um gran don.
Calidá muy meritória;
Y aquellos que en esta historia
Sospechen que les doy palo,
Sepan que olvidar lo malo
También es tener memroia"
(José Hernandez, El Gaucho Martin Fierro)

É de se acreditar que a memória do Rio Grande do Sul já está preservada pelos inúmeros Centros de Tradições espalhados pelo mundo. Através destes se mantém pulsante os costumes de nosso povo e a identidade e homens e mulheres que marcaram os caminhos da formação de nosso Estado. Por isso, não há de se falar em esquecimento da história Rio Grandense ou sequer de Major Cezimbra Jacques.

Ademais, para além da situação de ruína, o imóvel foi declarado de utilidade pública para fins de desapropriação, com vistas à ampliação a Avenida Tronco.

Sendo assim, não há necessidade de tutela a ser promovida por esta Promotoria no caso em questão, tendo em vista inexistir objeto de valor histórico-cultural a ser preservado. Tão logo não se afigura a necessidade de prosseguimento com atos investigatórios ou manejo de Ação Civil Pública.

Alexandre Sikinowski Saltz
Promotor de Justiça   
  
Nota do blog: Enquanto membros do nosso poder judiciário pensarem desta maneira, amparados por intelectos do executivo que não dão o menor valor à seu patrimônio histórico, como poderemos repreender um pichador de monumentos? Como desejar possuir uma cultura própria e diferenciada? Como poderemos repassar aos nossos filhos um passado que, em pouco tempo, não sobrará nem ruínas? 

Berço do tradicionalismo recebeu um "Não" do MP  
   


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O POETA E O BOI FRANQUEIRO


SEBASTIÃO FONSECA DE OLIVEIRA
 
 
 
Sebastião Fonseca de Oliveira é Presidente da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos Franqueiros (ABCBF) e um guerreiro em busca das origens e culturas gaúchas. Ele faz um resgate histórico do Gado Franqueiro, a primeira e mais pura raça que movimentou o comércio no Rio Grande do Sul por séculos e que agora sofre ameaça de extinção.

Orelhano, Franqueiro ou Chimarrão, o gado xucro gaúcho. No início do século XVII, a região onde hoje é o Rio Grande do Sul, era considerada “terra de ninguém”, nela viviam os índios Guaranis e Charruas. Nesta época começou a ser ocupada com a chegada da Companhia de Jesus, que fundaram as Missões Jesuíticas. 

As missões jesuíticas, nessa região, tinham como principal característica o grande número de índios guaranis convertidos por grupos pequenos de religiosos. Com o objetivo de garantir a alimentação dos índios convertidos, o Padre Jesuíta Cristóvão de Mendonça introduziu o gado nas missões em 1634.

Em 1641, os bandeirantes saqueando e escravizando os índios entram em guerra e expulsam os jesuítas da região. Na fuga dos jesuítas, grande parte do gado se espalhou pela região, virando selvagem. Essas cabeças de gado por não ter predadores naturais se multiplicaram em rebanhos e devido ao clima, alimentação e terreno formaram a raça xucra e resistente ao ecossistema gaúcho. O pampa tem uma vegetação apropriada, os rios foram as cercas naturais e assim se formou as condições favoráveis para um grande rebanho conhecido hoje e dando origem ao gado “Franqueiro ou Orelhano”, (ou chimarrão, como se dizia na época). Essa raça hoje se encontra em perigo de extinção!

Mas além de preservar o boi franqueiro o bonjesuense Sebastião Fonseca de Oliveira é um grande poeta e declamador com larga história discográfica integrada com os hermanos do Plata (Uruguai e Argentina), pois são vastas as suas obras com a participação de renomados artistas gauchos. Fonseca também dedica-se a pesquisar o povoamento das sesmarias serranas tendo publicado livro sobre o tema.

Com toda o seu passado cultural, sua sensibilidade e versatilidade artística, vive meio que ermitão, solito com seus pensares pelas ermos de um galpão num fundo de campo em São Francisco de Paula.

Sebastião é o típico gaúcho que, por sua importância e conhecimento, vai se esvaindo deste Rio Grande velho (e a reposição é menor do que se espera).


   
 
 
 
 


quinta-feira, 25 de junho de 2015

A TRADIÇÃO GAÚCHA PERDE UM ÍCONE



Nesta madrugada uma revista voltada para a Ordem Maçônica solicitou-me alguns escritos, em forma de depoimento, sobre Antônio Augusto Fagundes, que morrera no final da noite de ontem (24/06) aos 80 anos de idade.

Respondi que, sobre suas atividades relacionadas com as tradições gaúchas eu até poderia manifestar-me. Já em relação a pessoa Nico Fagundes, pouco eu teria para colaborar pois, embora fizéssemos parte de diversas entidades comuns, como a própria maçonaria (era obreiro da Loja Província de São Pedro), Academia Maçônica de Letras, Estância da Poesia Crioula e tendo os mesmos gostos por cavalgadas e pelo folclore riograndense como um todo, nunca tivemos convivência. Eu não fazia parte do seu rol de amizades e ele não compunha o meu, embora este artista completo, gentilmente, tenha prefaciado um livro de minha marca. Nosso contato se resumiu a um encontro no IGTF para estas tratativas. Seus escritos enobreceram aquela publicação. O problema é que não gosto de opinar sobre o que não conheço ou conheço pouco, embora pela televisão se notasse que era uma pessoa emotiva.

Agora, em relação a sua contribuição cultural posso dizer que sou um admirador de seu trabalho, pois Antonio Augusto Fagundes praticamente dedicou sua existência em prol do gauchismo indo a fundo em suas ingerências sobre o folclore no Sul do Brasil, e isto, por si só, arrebanha a minha estima. 

Antropólogo, historiador, folclorista, poeta, ator, compositor, escritor, professor de danças, comunicador de rádio e televisão, diretor do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, enfim, Nico Fagundes era múltiplo em se tratando de conhecimentos.

Homem viajado, advogado, estudioso, de personalidade forte, ao mesmo tempo que arrebanhou milhares de amigos também bateu de frente com muita gente (como o pajador Jayme Caetano Braun). Chimango de cruz na testa só botou lenço vermelho uma vez na vida (e para o mal dos pecados na capa de um disco). Na verdade era um gaúcho de posições firmes e que defendia com afinco as suas convicções. Particularmente eu gostava de seus afrontamentos com aqueles escritores que, até hoje, tem por balda criticar nossos costumes.    

Sua vivência dentro do regionalismo começou cedo quando, em 1954, a convite do poeta Lauro Rodrigues, passou a fazer parte do 35 CTG (foi seu patrão mais novo) e a escrever uma coluna sobre regionalismo para o jornal A Hora. 

Desse momento em diante foram inúmeras e imensuráveis suas atividades dentro do mundo tradicionalista sendo, até, o mentor e diretor da Escola Gaúcha de Folclore, de nível superior, que existiu por seis anos. 

Sua convivência  com artistas e poetas da época como Teixeirinha, Gildo de Freitas, Honeyde Bertussi e dezenas de renomados nomes, lapidaram sua formação. 

Já descrevemos, em postagem anterior, toda a biografia deste grande ícone. Biografia, esta, que, como já disse, tem a minha admiração e me serve de exemplo e paradigma. 

Antônio Augusto Fagundes foi (e será sempre) uma legenda e, ao lado de pessoas como Adelar Bertussi, Telmo de Lima Freitas, Paixão Cortes e alguns mais, serviu de esteio de angico para sustentar, neste plano, as nossas tradições. 

Agora, sob as bênçãos do Supremo Arquiteto do Universo, que vá em paz morar na Estrela de Adelbaran, local que, segundo o próprio Nico, os gaúchos que partem hão de reencontrar-se.  



           

sexta-feira, 1 de maio de 2015

PARIDO NO TEMPO ERRADO


 
Me aclimatei ao mundo em que vivo e gosto por demais do meu trabalho e da minha gente. Contudo, se me fosse dado a oportunidade de ter vivido em uma outra época, com certeza, seria ali por 1840, no ventre do Rio Grande do Sul, andando livre por estas paragens e tomando uns tragos por estes bolichos de campanha, de acordo com este cenário das filmagens de O Tempo e o Vento. Que época boa deveria de ser. 
 
As desavenças se resolviam na prosa e, sem mais recursos, no braço ou no ferro branco. Eu não iria ter que aturar situações como a covardia e o despreparo de integrantes da polícia militar do Paraná, a roubalheira da Petrobras, a bandidagem solta e a gente presa em casa, a falência dos Estados e a falta de escrúpulos dos governos, a rapinagem de todos os partidos  andejando de nariz empinado nas Câmaras, nos Ministérios e no Senado, o baixo nível de nossas redes de comunicações, a droga mandando num País outrora promissor... Parei por aqui pois me tapei de nojo.

Apesar de tudo, e de muito mais, um bom 1º de Maio a todos nós, trabalhadores, verdadeiros brasileiros.





  

segunda-feira, 27 de abril de 2015

É ISTO O QUE EU DEFENDO:


A PRESERVAÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL


Todos sabem, mas nunca é demais repetir, que a nossa identidade cultural passou a ser revitalizada pelo “Grupo dos Oitos” ao final da segunda grande guerra, tendo como motivo basilar a invasão de valores do povo da América do Norte, via televisão, revistas e principalmente cinema. O Brasil estava sendo aculturado massiva e inconscientemente por costumes sociológicos alheios ao chão nativo. Isto sem falar nas barreiras impostas aos pendores naturais de cada Estado, na ditadura Vargas. 

Hoje, sete décadas após, o ciclo se fecha e o perigo da unificação das culturas se manifesta através da globalização, via internet. 

Mas o que me assusta, é que esta padronização não está tão longe assim de nós, gaúchos, como parece. Basta ver que a outrora bela e pura cultura caipira (e mesmo a sertaneja), quase que evaporou-se do Estado de São Paulo apesar dos esforços de pessoas como Inezita Barroso, Monteiro Lobato, Cornélio Pires, Mazzaropi, o pintor Almeida Junior e outros que pelearam pela preservação das raízes. Dos costumes caboclos, o pouco que ainda resta são algumas minguadas Festas do Divino pelo interior paulista.

Musicalmente falando, a moda de viola se arrasta e Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, Pedro Bento e Zé da Estrada, e outros da mesma estirpe, só vivem em nossa lembrança. Não deixaram herdeiros. Os trabalhos autênticos perderam a queda-de-braço para o rebolativo sertanejo universitário.

E quem desejar conhecer um típico rodeio dos Estados Unidos, não precisa cruzar a América Central. Vá até Barretos.

Poderíamos fazer igual citação a outros Estados da Federação onde o rap, o funk, o raggae, e similares ditam as regras nas “baladas”.  O baião, o forró, o frevo, estão tornando-se apenas uma mostra musical, uma forma de “conhecer antes que morra”, para os turistas que visitam o nordeste. 

Por estes e por outros motivos, penso bem antes de elevar críticas a pessoas e entidades que vem cumprindo o seu papel de guardiões dos rumos já definidos por quem estruturou nossa estampa regional sul-brasileira, por quem tem compromissos com a autenticidade, e me tapo de angústia com quem prega a diversidade cultural não com o intuito de promover outras manifestações, mas com o fim de definhar aquela que recebemos de nossos ancestrais.

Embora respeitando e valorizando os hábitos de povos que migraram e ajudaram na formação de nosso Estado, o cerne folclórico rio-grandense é aquele oriundo da influência do solo pampeano sobre seus habitantes, ou seja, nós. Sim, pois nós temos história própria.

O mundo todo admira a preservação dos costumes orientais. Como pode, em meio a progressista Tóquio, uma tradição milenar manter-se autêntica, atrativa, e tão representativa?

É simples mas difícil. 

As tradições japonesas, ou russas, ou turcas, ou ciganas, enfim, mantém-se numa redoma que não permite a invasão “alienígena” a qual começa com uma liberação aqui, outra ali, mais uma acolá, e quando nos damos por conta tudo aquilo que é fidedigno, genuíno, legítimo, lídimo, original, não existe mais. E aí não tem volta.

Sei que poderei ser taxado de velho, antiquado, retrógrado, um homem fora do tempo, ao redigir este texto. Mas não sou assim (apesar de uma certa idade). Vivo meu mundo, olho para a frente, viajo, aprecio manifestações artísticas, sociais, lingüísticas e comportamentais de diversos povos e por isto mesmo afirmo. Temos que viver intensamente o presente, alicerçar o futuro, mas lutar com todas as armas na defesa da preservação do passado, da história e da memória. 

Poderia ter dedicado minha vida a tantas outras coisas mas preferi o rumo que irmana homem e cavalo, campo e cidade, vestido de prenda e bombacha. E ao fim de tudo reafirmo. Não me arrependo.

Nós somos ás águas dos rios que passam e vão embora. A Tradição Gaúcha é o próprio rio, que é o mesmo, que é perene, que tem nome e identidade. Não vamos mudar seu curso.



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

É MUITA MELANCOLIA!



Da mesma forma que o tema de surrar cavalo é useiro e vezeiro em nosso meio musical, penso que andamos muitos saudosos em nossas composições. É muita melancolia. Lembranças da infância, da querência, recuerdos de um tempo que não volta mais. Todo mundo tomando mates solitos pelas madrugadas da vida...
 
E não é só na letra. Noventa por cento (isto mesmo, 90 %) das músicas festivaleiras são milongas. Não tenho nada contra milongas, ao contrário, é um ritmo reflexivo (mas que também pode ser alegre). O problema é que a grande maioria são melodias arrastadas, lamuriosas, devagar quase parando.
 
E quando se casam um letra triste com uma melodia mais triste ainda, quase desato no choro.
 
Não estou pregando aqui a musicalidade fandangueira, que tem letra simples mas de compasso contagiante. Cada coisa no seu lugar. Mas ando com "saudades" (opa) de alguns clássicos festivaleiros que "marcaram a minha mocidade" (opa)... É melhor eu parar pois parece que fui contagiado!
 
 
   

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

SEMPRE ESTOURA NA CULTURA...



Em breve o nosso amigo, pajador Paulo de Freitas Mendonça, apresentador brasileiro no Festival Del Chamame de Corrientes, república Argentina (fotos) nos trará um relato do que foi a maravilhosa edição de 2015 deste evento folclórico sem igual por estas paragens. É a união de um povo ao de redor de um ritmo criado na própria região que, por seu compasso contagiante, ganhou o mundo e nutre especial preferência dos gaúchos.
 
São dias e dias de lotação máxima no anfiteatro e uma empolgação pouco vista em outros espetáculos. Mesmo sob chuva a festa não para. Para se ter uma ideia, são mais de 500 pessoas apenas na organização do festival, com dezenas de atrações que reúne os maiores artistas do gênero. O Rio Grande do Sul, além de Paulo Mendonça, sempre se fez representar com grandes delegações de músicos convidados.
 
Por aqui, o que nos deixa tristes, como gaúchos, é ver o esforço de meia dúzia de pessoas abnegadas, em cada localidade, para erguer um festival, com pouca ajuda financeira, sem patrocínios e, muitas vezes, sem o reconhecimento e a participação da própria comunidade. 
 
Fala-se que o Estado está quebrado e já se escuta que muitos projetos culturais serão cortados, como já está acontecendo agora, com a TV E. Também acho que, nesta situação, deve-se priorizar a educação e a segurança mas como um batalhador por nossa cultura fico triste com tudo isto (e com muito ciúme de quem consegue organizar e manter um festival como este de Corrientes). Mas vamos esperar que, um dia, a gente retorne ao nosso posto de Estado referência em cultura.



quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A TRIBO DE CADA GAÚCHO


Hay os gaúchos gaudérios que preferem andejar solitos. Não gostam de ajuntamentos. Na solidão dos galpões ou dos varzedos dos campos é que sentem-se a vontade. Na prosa com Deus, com os cuscos, com os passarinhos, dispensam a vida povoeira. 

Contudo, tem aqueles que procuram viver em grupos identificados, ou seja, as chamadas "tribos". Pessoas que gostam de determinados divertimentos, de administrarem o tradicionalismo ou apenas "curtirem" em conjunto o que os nossos costumes de bom nos oferecem.  

A Tribo dos Tradicionalistas: São aquelas pessoas normalmente vinculadas ao Movimento Tradicionalista Gaúcho e preocupadas em zelar pelos regramentos desta entidade. Suas vestes são unificadas e tipificadas pelas "Diretrizes das Pilchas" com lenços grandes, bombachas largas, casacos de palitós e botas discretas. 

A Tribo das Cavalgadas: É composta por pessoas que gostam deste envolvimento de natureza e animais. Revivem, em suas andanças, o tempo das tropeadas. A amizade e o companheirismo é um dos principais elementos desta tribo (da qual eu faço parte). Acima, os Cavaleiros da Neve, de São Francisco de Paula.

 
A Tribo das Invernadas: É composta, em sua maioria, por gente joven (embora tenhamos algumas invernadas "Xirus") e são consideradas a "Alma" de um Centro de Tradições. Nos dias de hoje, em face da importância dos concursos, o profissionalismo e o grupo de danças caminham lado a lado. Se por um lado é bom, por outro torna as disputas um tanto acirradas.

A Tribo dos Laçadores: Em face aos inúmeros rodeios crioulos que proliferam pelo Estado e aos valores das premiações, esta é uma das "tribos" que mais cresceu. O debate sobre o "tiro-de-laço" (é esporte ou é cultura?) parece interminável e levou a criação de uma federação independente do M.T.G. e os "caça-prêmios" andejam por aí...

A Tribo dos Dançadores: São aquelas pessoas que andejam de galpão em galpão na busca, simplesmente, de divertimento através da dança. Conhecem todos conjuntos, as músicas, os outros dançadores, e são felizes desta maneira. Muitos não tiveram a vivência campeira e aprenderam seus passos nos cursos de danças de salão.

A Tribo dos Improvisadores (trovadores e pajadores): Se reúnem em associação, se encontram em festivais do gênero, e tem em comum esta característica, ou seja, o dom de fazer verso de improviso. São os herdeiros de Jayme Caetano Braun e Gildo de Freitas. Em seu benefício, hay diversos eventos próprios para expressar sua arte. 

A Tribo dos Poetas, Declamadores e Amadrinhadores: É aquela voltada para o agrupamento de pessoas com inclinação para a arte da poesia. Encontram abrigo para manifestação de seu telurismo em diversos festivais pelo Estado, além de entidades cinquentenárias como a Estância da Poesia Crioula, a Academia Xucra do Rio Grande.     

A Tribo dos Grupos de Fandango: É aquela composta de músicos, compositores, profissionais encarregados de levar alegria aos dançantes através da musicalidade galponeira. São dezenas, centenas de conjuntos que através da sonoridade campeira (ou mais urbana) todos os fins de semana entreveram os pares nos salões do Rio Grande e do Brasil.      

A Tribo dos Domadores: São aqueles índios que ganham os "cobres" saracoteando no lombo xucro dos aporreados pelos rodeios do Rio Grande, Uruguai e Argentina. Para estes grupos chamados de ginetes, 8 segundos (tempo limite) é uma eternidade e quanto mais corcoveador o animal mais chance de levar seu prêmio que, não raro, pode ser um automóvel.

A Tribo dos Festivaleiros: Tem sua origem nos longínquos pagos de Uruguaiana com a criação da Califórnia da Canção Nativa. De lá para cá esta tribo muito cresceu revelando grandes nomes para a musicalidade do Rio Grande do Sul. Hoje em dia os festivais estão um pouco em baixa e os seus participantes seguem carreiras solos.

A Tribo dos Criadores: São aqueles gaúchos voltados para as lides campeiras, especialmente para a criação de eqüinos e mais especificamente os cavalos crioulos. São facilmente encontrados e identificados em remates, leilões, exposições, principalmente onde tiver uma disputa tipo Freio de Ouro.  

Então, meu amigo. Qual é sua tribo?