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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

UM DEDO DE PROSA COM: GIOVANI GRIZOTTI



No dia de hoje nosso blog tem a satisfação de prosear com uma pessoa por demais importante no meio jornalístico brasileiro. Trata-se de Giovani Grizotti, repórter investigativo que, através de sua dedicação, competência e coragem, nos brinda com matérias que fazem estarrecer os mais incrédulos. É gaúcho, é nosso, este parceiro velho que tanto orgulha sua Pátria e sua gente.

Mas hoje não vamos entrar nos meandros de sua profissão. Vamos, sim, saber um pouco do lado gaudério, do ente preocupado com a cultura de nosso Estado. Giovani Grizotti, para quem não sabe, é o elo de ligação entre o tradicionalismo e este império das comunicações que é a RBS. Sem vangloriar-se de seus feitos, sem puxar brasa para o seu assado, sem a telinha no rosto, vai introduzindo os costumes sulinos nesta imensa e importante empresa filiada a Rede Globo.

Mas, como goela de João-grande, vamos reto e direto ao assunto.      

Blog - Onde começou teu gosto pela cultura regional do Rio Grande do Sul?

Giovani Grizotti - Meu galo, acho que foi durante uma cavalgada do mar, logo que comecei na Rádio Gaúcha, há mais de 15 anos. Conheci o Vilmar Romera, figura fantástica que eu assistia pela tv, quando era guri em Barros Cassal. Aliás, na minha cidade natal, eu não gostava de música gaúcha (hoje, minha paixão), era bem cola fina mesmo. Pouco me envolvia no CTG local, até porque não tinha dinheiro pra comprar pilcha e participar da invernada de danças.


Blog - Sua inclinação é maior por festivais, rodeios, cavalgadas, bailes, música, poesia...? Por que?

Giovani Grizotti - Tchê, na verdade, luto muito pelo campeirismo,  o laço, os rodeios. Acho que nunca foram valorizados devidamente na mídia. Na verdade, é um esporte muito popular, talvez, só perdendo para o futebol. E nós, da imprensa, sempre fechamos os olhos para isso. Reportagem sobre rodeio? Só quando tinha polêmica em Vacaria. Conseguimos mudar essa visão. Hoje, nossa programação cobre e bem os rodeios. Também gosto muito e luto por espaço, na RBS, para a nossa música regional. Havia um tempo em que só os artistas da antiga gravadora da RBS conseguiam espaço da RBS. Acho que ajudei a mudar esse modo de ver a coisa. Atualmente, não falta espaço na tv para os nossos artistas. Porém, acho que ainda estamos devendo. E para os festivais. E vamos pagar essa dívida. Eles merecem ser mais divulgados. 

Blog - Qual teu estilo preferido dentro da musicalidade gauchesca (nativista, galponeira, etc..) e quais teus artistas prediletos?

Giovani Grizotti - Tchê, meu negócio é música de galpão mesmo, fandangueira, pra dançar. Meu grupo preferido é Os Monarcas, não tem jeito. É possível que amizade com o Gildinho e outros integrantes da banda, como o João dos Santos, exerça influência sobre essa preferência. Mas tem também Os Serranos, O João Luiz Corrêa, Os Mateadores. Acho que cada artista tem uma qualidade: o César  & Rogério, por exemplo, são amigos que admiro muito. Talvez, os músicos de show que mais "botam" gente pra dentro de um CTG. E  o que dizer da humildade do  Joca Martins. A interpretação de "Os Cardeais", que está no novo CD dele, me fez ir às lágrimas. E o João Chagas Leite? Grande  ídolo!  Mas, claro, não podemos fechar os olhos para os compositores. O Vaine Darde, por exemplo, é um mestre, assim como tu (só mestres possuem a capacidade de compor letras como Brasil de Bombacha e Por Quem Cantam Os Cardeais, por exemplo).


Blog - Na tua opinião quais os grandes vultos vinculados a história e a cultura do Rio Grande?

Giovani Grizotti - Tchê Léo, sabe que não cultuo heróis inatingíveis e do passado. Meus heróis são pessoas que fazem o presente: o Paixão Côrtes, o seu Irineu da Luz, que deu a primeira armada, dando origem ao tiro de laço, em Esmeralda, a Dona Zezé, uma senhora lá de Capão, que mantém um forno comunitário para a comunidade carente...Pessoas assim é que, pra mim, são vultos, "heróis". Gente com quem convivo. Colegas de trabalho, amigos, cada um com a sua qualidade. Aprendo muito com eles.


Blog - Todos sabem de teu esforço para que nossos costumes apareçam nas redes sociais, jornais, rádios e televisões do Grupo RBS. O que você acha que está faltando para que o tradicionalismo seja mais divulgado?

Giovani Grizotti - Olha, acho que na RBS não falta mais nada. Estamos preenchendo todos os espaços possíveis, graças a Deus. Nunca houve tanto interesse, inclusive da direção, sobre este tema. Teremos, este ano, um programa especial, transmitido durante o horário da Sessão da Tarde, para todo o RS,  no dia 20. E, na semana que vem,  teremos a gravação do quadro do Fantástico Repórter por 1 dia, no Acampamento Farroupilha. Enfim, meu amigo, pelos outros veículos não posso falar, mas garanto que na RBS as tradições gaúchas estão tendo cada vez mais visibilidade. Porém, não podemos esquecer do seguinte: nossa cultura não é melhor do que as outras. Portanto, essas campanhas que pedem para a RBSTV derrubar programas como o Esquenta para exibir o Galpão Crioulo beiram a ingenuidade. Tudo tem limite. Se queremos mais espaço, temos de fincar cos pés no chão. Lutar por mais espaço, mas com argumentos.


Blog - Qual o segredo para o blog G1 Repórter Farroupilha, que você alimenta, ser tão acessado?

Giovani Grizotti - Tchê, esse é meu xodó. Nunca imaginei que o portal de notícias mais acessado do país, pertencente a uma das 5 maiores redes de TV do planeta, o G1,  fosse dar espaço a um blog sobre tradições gaúchas. Sabe, Léo, é o único blog regional do G1. Disputa o mesmo espaço com alguns dos principais colunistas, apresentadores e comentaristas da Globo. Não é pra se orgulhar? Então, acho que muito da visibilidade se deve a isso. E, claro, no blog faço jornalismo, apuro, busco novidades e, como não poderia deixar de ser, coloco nele um pouquinho do meu perfil profissional do dia-a-dia, que busca a investigação mais aprofundada. E deu tão certo que o Repórter Farroupilha deixou de ser virtual e foi para as ruas, mostrar a Semana Farroupilha na programação da RBSTV. Aliás, sabe qual meu objetivo sempre: que uma nota do blog seja citada por um tal blog do Léo Ribeiro, que é referência pra mim. Rsrs


Blog - Cite um fato marcante em que você tenha participado, dentro da cultura rio-grandense?

Giovani Grizotti - Tchê, acho que a viagem com os Monarcas, aos Estados Unidos, foi algo inesquecível. Me emocionei mesmo. Algo que nunca mais esquecerei. Crianças pilchadas brincando de roda, em inglês...Agora, te confesso que, mais recentemente, o momento que equivaleu a um prêmio para mim foi quando, na redação do Fantástico, "vendi" a pauta do Repórter por 1 dia, ao diretor do programa. Mostrei um vídeo de um menino gaiteiro de 5 anos e falei: "Luizinho (Luiz Nascimento), é isso que queremos mostrar ao Brasil". E ele topou na hora. A primeira coisa que fiz foi ligar pro nosso diretor César Freitas pra contar a novidade. Colocar a cultura gaúcha no Fantástico , programa para o qual trabalho, só que com outro tipo de reportagem, era meu grande objetivo.


Blog - Se você tivesse o poder (fosse presidente do MTG ou IGTF) o que faria, ou mudaria, em prol das tradições de nosso Estado?

Giovani Grizotti - Rapaz, acho que o Bertolini tem feito muito. E é um cara arejado, de boas idéias. O IGTF acho que deixa a desejar, até porque depende de verba governamental. IGTF, pra mim, tinha que tratar de tradicionalismo. E só. Mas, este ano, até carnaval promoveu. Enfim,  a primeira coisa que eu faria era criar um plano de fortalecimento dos CTGs, com foco no cartão tradicionalista. As pessoas precisam se sentir estimuladas a se associarem a um CTG. É isso que traz receita. E perceber alguma vantagem nisso, que não seja apenas participar de um baile por mês (isso quando o ingresso não é cobrado até mesmo dos sócios). Eu ampliaria os convênios, para garantir descontos em lojas, etc...E tentaria criar uma rede para garantir acesso livre a eventos tradicionalistas, a quem portar o cartão. Atualmente, nem a rodeio se entra mais com o cartão tradicionalista.


quarta-feira, 19 de junho de 2013

ENTREVISTA COM CLEBER VIEIRA



PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO GAÚCHA DE LAÇO


Há poucos dias atrás foi criada a Federação Gaúcha de Laço, sendo eleito como primeiro mandatário o agropecuarista Cleber Vieira (foto). Nosso blog, em uma entrevista com seu Presidente, traz aos seus leitores alguns posicionamentos desta nova entidade.

Blog: Muitas pessoas desejam saber quem é o tradicionalista Cléber Vieira, Presidente da Federação Gaúcha de Laço. Poderia fazer um breve histórico sobre sua pessoa?
               
Cleber Vieira: Cleber Vieira, agropecuarista e comerciante, casado, 3 filhos, 57 anos, presidente do Sindicato Rural de Porto Alegre desde 2005, onde pegamos um sindicato falido com 20 associados, hoje temos sede (linda) e 900 associados (sem receita pois sindicatos vivem de arrecadação do ITR e POA não tem ITR), mentor e realizador do rodeio Nacional Cidade de Porto Alegre e Fepoagro (Feira Agropecuária da Produção de Porto Alegre), construtor de tudo o que tem na parte campeira e pista de provas do Parque Harmonia (sem dinheiro publico amigos), criador de ovinos e cavalo crioulo, esporte predileto. Há 57 anos LAÇO, um dos 1º a fazer acampamento farroupilha no harmonia, organizador do desfile no ano de 2000 e 2001, diretor campeiro da 1ª/RTMTG 2000/2001, e por ai vai, meu amigo. Diversos serviços prestados para nosso tradicionalismo, muitos de a cavalo e laço na mão, há anos.

Blog: Por quais motivos foi criada a Federação Gaúcha de Laço?

Cleber Vieira: Criamos por exigência dos gaúchos laçadores, pois estamos acéfalos de representantes neste esporte tradicional. Há muito, queremos sim dar um norte sem fugirmos do tradicional e fazer do ato de laçar um esporte o que é de fato, mas não de direito, além de facilitar com a federação a vida dos nossos rodeios com projetos direcionados a ajudar os realizadores sem cobranças absurdas, mas com respeito e coordenação ouvindo e sendo ouvido por todos e não por uma minoria repressiva.

Blog: Como será estruturada, de forma organizacional e regimental, a Federação? 

Cleber Vieira: Estrutura física e organizacional teremos que montar, mas não será difícil pois estamos com o RS ao nosso lado, organizaremos com representantes em todo o estado o que já vamos começar, regimentar com foco na legalidade, regulamentando no proposto do direito tanto na área contábil como fiscal. Temos, na diretoria eleita, representantes de vários municípios do estado.

Blog: Alguns tradicionalistas alegam que a Federação de Laço poderá desvirtuar a verdadeira tradição, como por exemplo em relação a indumentária. Isto pode acontecer?

Cleber Vieira: Não, não irá acontecer isto, primamos por indumentárias tradicionais, sem esquecermos que temos muito em comum com os países do prata e em muito nossas indumentárias se aproximam e levando em conta que nosso Estado foi colonizado por varias etnias temos a fronteira, serra, as missões e o litoral com peculiaridades comuns. Deveremos respeitar suas indumentárias sem ser radical e ouvindo historiadores, mas no geral manteremos o que hoje vivenciamos sem deixar de olhar para nossos antepassados. É importante dar mais atenção a visitantes de outros estados respeitando suas respectivas indumentárias, aceitando e respeitando sem a ira e sem acharmos que somos só nós no mundo.

Blog: Uma das alegações contrárias a Federação de Gaúcha de Laço é o caráter mercantilista que os novos rodeios podem tomar. Existe esta preocupação?

Cleber Vieira: Os rodeios por si só se moldaram e como esporte o laço é sem dúvida uma competição e vemos isto bem sem e a ira dos outros, o gaúcho com seus costumes sempre foi um competidor saudável, tanto no campo como na cidade e não vimos hoje nada de anormal em premiar uma competição isto estimula faz crescer os eventos e não temos até o momento desprestigio algum neste tipo de competição, ao contrario estimula as pessoas a treinar, aperfeiçoar suas habilidades a arte á fazer melhor do que seu companheiro da mais brilho, enaltece o competidor e vencedor, não temos o ranço de ver jogatina nisto como outras entidades, muito pelo contrario cria elementos de fomentar o comércio em prol do cavalo.

Blog: Quais as convergências, ou divergências, em relação ao MTG?  

Cleber Vieira: Como relação ao MTG, respeitamos á "entidade MTG", mas não concordamos com muitas de suas atitudes e regras que seus comandantes empregam nos últimos anos (nós e todo o RS). Se o amigo perguntar no meio do cavalo, cavalgadas e rodeios, vai obter uma rejeição de 90% (experimente fazer uma enquete em seu blog). Como uma entidade representativa pode não ter por merecimento o respeito de seis supostos comandados? Ora, então temos que olhar para o lado e ver onde estão errando (se é que estão, na visão deles não, nas dos gaúchos do cavalo sim,) onde estão sendo prepotentes (o que o são e muito), assim não cometeremos os mesmos erros. Divergimos mas respeitamos quem achar o contrario, e que fique como estão, os contrários venham com nós, pois achamos que tem espaço para todos. O cavalo crioulo não encontrou seu espaço? Nem por isto o MTG terminou. Sendo assim, amigos, respeitamos a entidade não seus métodos elaborados por pessoas que passam e a entidade fica.

Finalizando:

Assim, amigos, criamos uma entidade para agregar, Laço, Cavalgadas ou outro esporte que tenha o cavalo como primordial sem deixar de ser tradicional do nosso amado Rio Grande do Sul, de nossos costumes, representar, ajudar, facilitar e o mais importante respeitar o direito individual das pessoas, ouvir, ser ouvido, sem ranço, sem raiva, onde amigos poderão participar com amigos sem rotular de onde é ou de onde veio, o esporte tradicional do laço ou cavalgadas é para fazer amizades e fortalecer as existentes, rodeios e cavalgadas é reunião de famílias e amigos, local de fazer amigos, receber ou ser recebido sem questionar se é daqui ou dali e sim se é do cavalo! Se não for, bom ai sente e tome um mate porque aqui é lugar de pessoas.

Foto: Blog G! - Repórter Farroupilha

terça-feira, 11 de junho de 2013

DOIS DEDOS DE PROSA COM ÉRLOM PÉRICLES


Nosso blog, na data de hoje, tem a satisfação reproduzir uma entrvista que fizemos há poucos dias com o grande músico, compositor e arranjador Érlon Péricles, um dos maiores expoentes da nova geração festivaleira, que acumula prêmios em cima de prêmios nos eventos onde participa e que hoje a noite, no Theatro Túlio Piva, estará lançando um novo trabalho, CD/DVD, intitulado Na Estrada Do Sul. Foi um prazer charlar contigo, meu mano "véio"!


Blog: Onde começou seu gosto pela musicalidade Gauchesca?
Érlon Péricles: - Vem desde a infância. Me criei no campo até os 11 anos de idade, e esse contato me deu uma visão da realidade campeira. Associado a isso, sempre frequentei os CTGs desde pequeno, meu pai era da patronagem, então a musicalidade campeira era muito próxima de mim, através das tertúlias musicais nas rodas de cantorias missioneiras, e as rádios locais que sempre tocavam musicas gauchas em sua programação! Eu lembro também da proximidade musical com os meus tios maternos, que tinham um conjunto chamado OS IRMÃOS BORGES, que animavam fandangos na região das Missões, e minha infância foi sonorizada por 2 LPS do conjunto e mais um do GILDO DE FREITAS, além de um vinil da 9ª CALIFORNIA DA CANÇÃO NATIVA de URUGUAIANA

Blog: Quais seus ídolos na seara musical sulina?
Érlon Péricles: - Depende do ponto de vista. Se formos falar em ícones, sito Cenair Maicá e Telmo de Lima Freitas. Depois vem os ídolos com os quais além de admirá-los, eu convivo, ai posso citar Luiz Carlos Borges, Vinícius Brum, Mano Lima, entre outros. E como identificação musical, a figura de Elton Saldanha é com certeza a maior!

Blog: Tens idéia de quantos prêmios festivaleiros já recebeste?
Érlon Péricles: - Entre premiações de 1º, 2º e 3º, melhor melodia, melhor letra e musica mais popular em torno de 130 premiações.

Blog: Qual a maior dificuldade nestes caminhos de artista rio-grandense?
Érlon Péricles: - Através dos tempos os músicos gaúchos vem se profissionalizando cada vez mais. O campo de trabalho é que parece que não esta evoluindo da mesma forma. Embora tenha melhorado um pouco, os artistas ainda sofrem com cachês baixos, pouca estrutura de palco, luz e sonorizações que deixam a desejar, principalmente em eventos mais distantes dos grande centros populacionais. A frequente transferência de datas por questões de falta de patrocínios e aprovação de leis da cultura também atrapalha.Aliado a isto, vejo que a musica gaúcha só roda em horários específicos nas rádios gaúchas, o que limita a divulgação. Mas estas são questões históricas que estão sendo trabalhadas com muita seriedade pela geração atual, e acredito que as melhoras virão com o tempo.

Blog: Você é considerado um dos maiores compositores do Estado. De onde vem tanta inspiração?
Érlon Péricles: - Ao meu ver, a composição existe de duas formas. A inspiração e o trabalho. A inspiração vem “de graça”, é uma luz, uma dádiva, um presente divino a quem tem um dom. O trabalho é uma repetição, um estudo e um aprimoramento do dom que se tem. No meu caso, o exercício é o meu maior aliado. A prática diária, o experimento, a curiosidade e a inquietação musical me fascinam. Então pra mim é assim que funciona. Muita coisa vem de graça, vem de forma espiritual, outras eu busco no dia a dia, com pesquisa e dedicação. O instrumentista tem que exercitar o seu instrumento diariamente, estudar escalas, conhecer a música. O compositor também tem que ser assim, tem que buscar o seu aprimoramento, para cada vez mais estar apto a receber a inspiração. E fazer música pra mim é uma necessidade, um prazer, um vício, estou sempre fazendo música, mesmo que não aproveite toda a produção. 

Blog: Além de músico, cantor e compositor, que outra atividade lhe fascina?
Érlon Péricles: - A produção musical. Aprendi a lidar com equipamentos e gravadores desde quando senti a necessidade de gravar a minha própria produção. Começei em casa, depois trabalhei junto ao Studio Master de Santa Maria e hoje tenho o meu próprio Studio. Lá faço produções de CDs, gravações de músicas para triagens de festivais, propaganda, arranjos, enfim tudo que envolve produção musical. 

Blog: Fale um pouco sobre seu novo trabalho (CD e DVD) a ser lançado ainda este mês.
Érlon Péricles: - O Cd\Dvd NA ESTRADA DO SUL, é um registro de 25 anos de carreira, um resumo da minha produção musical. Mostra principalmente a veia mais campeira e rural do meu trabalho e um pouco das canções mais projetadas. É bem como é a minha carreira, que iniciou nos festivais e hoje busca horizontes mais específicos, mais populares, com foco na arte regional gaúcha. Foi gravado ao vivo e isto tem uma particularidade muito grande, pois conta com a energia do público, que com certeza é um diferencial. É um DVD com o repertório do show que eu apresento, com canções alegres que falam das coisas da nossa terra, nossa cultura e as nossas tradições. Parceria com a gravadora SONARE DISCOS de Santa Maria.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

DOIS DEDOS DE PROSA COM: ÉRLON PÉRICLES


Nosso blog, na data de hoje, tem a satisfação de postar estes Dois Dedos de Prosa, com o grande músico, compositor e arranjador Érlon Péricles, um dos maiores expoentes da nova geração festivaleira e que acumula prêmios em cima de prêmios nos eventos onde participa. Érlon Péricles está lançando um novo trabalho, CD/DVD, intitulado Na Estrada Do Sul. Foi um prazer charlar contigo, meu mano "véio"!


Blog: Onde começou seu gosto pela musicalidade Gauchesca?
Érlon Péricles: - Vem desde a infância. Me criei no campo até os 11 anos de idade, e esse contato me deu uma visão da realidade campeira. Associado a isso, sempre frequentei os CTGs desde pequeno, meu pai era da patronagem, então a musicalidade campeira era muito próxima de mim, através das tertúlias musicais nas rodas de cantorias missioneiras, e as rádios locais que sempre tocavam musicas gauchas em sua programação! Eu lembro também da proximidade musical com os meus tios maternos, que tinham um conjunto chamado OS IRMÃOS BORGES, que animavam fandangos na região das Missões, e minha infância foi sonorizada por 2 LPS do conjunto e mais um do GILDO DE FREITAS, além de um vinil da 9ª CALIFORNIA DA CANÇÃO NATIVA de URUGUAIANA

Blog: Quais seus ídolos na seara musical sulina?
Érlon Péricles: - Depende do ponto de vista. Se formos falar em ícones, sito Cenair Maicá e Telmo de Lima Freitas. Depois vem os ídolos com os quais além de admirá-los, eu convivo, ai posso citar Luiz Carlos Borges, Vinícius Brum, Mano Lima, entre outros. E como identificação musical, a figura de Elton Saldanha é com certeza a maior!

Blog: Tens idéia de quantos prêmios festivaleiros já recebeste?
Érlon Péricles: - Entre premiações de 1º, 2º e 3º, melhor melodia, melhor letra e musica mais popular em torno de 130 premiações.

Blog: Qual a maior dificuldade nestes caminhos de artista rio-grandense?
Érlon Péricles: - Através dos tempos os músicos gaúchos vem se profissionalizando cada vez mais. O campo de trabalho é que parece que não esta evoluindo da mesma forma. Embora tenha melhorado um pouco, os artistas ainda sofrem com cachês baixos, pouca estrutura de palco, luz e sonorizações que deixam a desejar, principalmente em eventos mais distantes dos grande centros populacionais. A frequente transferência de datas por questões de falta de patrocínios e aprovação de leis da cultura também atrapalha.Aliado a isto, vejo que a musica gaúcha só roda em horários específicos nas rádios gaúchas, o que limita a divulgação. Mas estas são questões históricas que estão sendo trabalhadas com muita seriedade pela geração atual, e acredito que as melhoras virão com o tempo.

Blog: Você é considerado um dos maiores compositores do Estado. De onde vem tanta inspiração?
Érlon Péricles: - Ao meu ver, a composição existe de duas formas. A inspiração e o trabalho. A inspiração vem “de graça”, é uma luz, uma dádiva, um presente divino a quem tem um dom. O trabalho é uma repetição, um estudo e um aprimoramento do dom que se tem. No meu caso, o exercício é o meu maior aliado. A prática diária, o experimento, a curiosidade e a inquietação musical me fascinam. Então pra mim é assim que funciona. Muita coisa vem de graça, vem de forma espiritual, outras eu busco no dia a dia, com pesquisa e dedicação. O instrumentista tem que exercitar o seu instrumento diariamente, estudar escalas, conhecer a música. O compositor também tem que ser assim, tem que buscar o seu aprimoramento, para cada vez mais estar apto a receber a inspiração. E fazer música pra mim é uma necessidade, um prazer, um vício, estou sempre fazendo música, mesmo que não aproveite toda a produção. 

Blog: Além de músico, cantor e compositor, que outra atividade lhe fascina?
Érlon Péricles: - A produção musical. Aprendi a lidar com equipamentos e gravadores desde quando senti a necessidade de gravar a minha própria produção. Começei em casa, depois trabalhei junto ao Studio Master de Santa Maria e hoje tenho o meu próprio Studio. Lá faço produções de CDs, gravações de músicas para triagens de festivais, propaganda, arranjos, enfim tudo que envolve produção musical. 

Blog: Fale um pouco sobre seu novo trabalho (CD e DVD) a ser lançado ainda este mês.
Érlon Péricles: - O Cd\Dvd NA ESTRADA DO SUL, é um registro de 25 anos de carreira, um resumo da minha produção musical. Mostra principalmente a veia mais campeira e rural do meu trabalho e um pouco das canções mais projetadas. É bem como é a minha carreira, que iniciou nos festivais e hoje busca horizontes mais específicos, mais populares, com foco na arte regional gaúcha. Foi gravado ao vivo e isto tem uma particularidade muito grande, pois conta com a energia do público, que com certeza é um diferencial. É um DVD com o repertório do show que eu apresento, com canções alegres que falam das coisas da nossa terra, nossa cultura e as nossas tradições. Parceria com a gravadora SONARE DISCOS de Santa Maria.

sábado, 10 de novembro de 2012

CEVANDO UM MATE COM GLÊNIO FAGUNDES

Glênio Cabral Portela Fagundes, crioulo do Cacequi, RS, casado com Maria Francisca Fagundes, pai de seis filhos, por sua sabedoria terrunha, por sua autenticidade, é destes gaúchos de se “lavar com um bochecho d’água” como ele mesmo diz.


Autor de três discos, um CD e do livro Cevando Mate, além de vários trabalhos editados em revistas e periódicos, sempre na área do crioulismo, Glênio, em 1952, foi um dos fundadores do grupo musical Os Teatinos, que permaneceu em atividade durante vinte e cinco anos, como um esteio de pau-ferro que não lasca com dentadas de potranca.

Talvez a pessoa que mais tenha participado como jurado pelos festivais do Rio Grande, Glênio, por longo tempo, conduziu com maestria o programa Galpão Nativo da Televisão Educativa do Estado, onde se aposentou.

Pois este pensador, este ícone da cultura sul-continentina é nosso convidado para dois dedos de prosa neste findar de tarde de um sábado de novembro. 

Blog- Estamos cevando um mate com um especialista no assunto. Com um cevador de mates. Isto é correto?

Glênio – Sim, pois ... não sou verde porque já sou maduro. Quanto ao especialista, todo o mateador terrunho se orgulha de saber cevar um mate.

Blog – Nos conte um pouco sobre sua tragetória dentro do tradicionalismo.

Glênio – Nasci na região da campanha, Mesopotânea Crioula, entre os Rios Ibicuí e Cacequi, local onde está enterrado meu umbigo. Dentro das nossas tradições de campo, se o filho fosse varão, o pai procurava um local onde houvesse tido uma batalha e enterrava ali o cordão umbilical do filho para que esse saísse um guerreiro. Se fosse menina, o cordão era enterrado no piso da cozinha,para que saísse uma dona de casa de mão cheia.

Continuando a prosa, eu e meu mano Paulo Fagundes passamos nossa infância no campo, vivenciando as lides campeiras, cursando as faculdades dos galpões.

Nosso primeiro instrumento foi uma cordeona de voz trocada. Aos quinze anos de idade, mais ou menos, por influência do Tio Jarbas Cabral, criador do conjunto Os Gaudérios, buscamos intimidade com a guitarra crioula.

Lembro que em uma destas viagens do Tio Jarbas a fronteira, na passagem pelo Cacequi, ele nos deixou um violãozinho tenor, quatro cordas, pouco maior que um cavaquinho. Ao regressar ficou muito decepcionado com os sobrinhos, pois a tampa do instrumento havia sido arrancada e nela havia um eixo com duas rodas... Lembro que foi a mais linda “carreta” que cobriu a geografia pampeana de nossa infância.

A nossa convivência musical foi sempre sem fronteiras. A presença da música pampeana era normal em nossa região. Como decorrência natural, procuramos um conhecimento maior não só da cultura de campo do nosso Estado, como dos atuais países do Mercosul.

Praticamos a cultura crioula no Galpão do Palácio Piratini durante dez anos.

Participamos de muitos espetáculos, painéis, conferências, palestras, júris de música nativa, elaboração de regulamentos de festivais, criação do Troféu da Linha Campeira, da Califórnia de Uruguaiana, estudos de guitarra com o professor Isaías Sávio, cursos de teoria e solfejo, curso de harmonia com o maestro Arnaldo Albuquerque...

Me encanta a arte da dança, desenho, escultura e pintura e todas essas manifestações dentro do gauchismo. Enfim, sou um produto do campo.

Blog – És um profundo conhecedor da língua guarani. Onde começou este conhecimento?

Glênio – Gostaria de ser um profundo conhecedor da minha gente guarani e falar fluentemente este idioma que é o “avá ñe-ë” (língua da gente). Na realidade, todos nós do Rio Grande do Sul falamos o avá ñe-ë ao empregarmos a toponímia guarani, quando pouco, ou quase nada sabemos destes topônimos tão nossos.

Sou um curioso, sim, a lamentar a não existência de um curso de introdução a língua da nação guaranítica. Minha curiosidade tem início com um “Lutier” da guitarra, Don Alberto Salmeron, criador da guitarra Salmeron, que falava fluentemente o avá ñe-ë. Bem mais tarde fiz um curso de introdução a língua guarani, que foi promovido pelo IGTF.

Blog – Você não tem coragem de “surrar” uma guitarra, ao contrário, faz carícias e, ao fazê-las, toca na alma de quem escuta. De onde vem esse telurismo?

Glênio – A guitarra tem sido o grande veículo de minha sensibilidade, por onde a natureza e os meus afetos se manifestam serenamente...

Minha mestra é a terra, onde a vida cresce em silêncio...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

CONFRARIA VERSO E PROSA

Integrantes da Confraria Verso e Prosa levando, através de sua arte, o seu carinho ao Lar das Meninas, entidade que abriga jovens menores em Santana do Livramento.

Numa época em que a poesia vai perdendo espaço para as correrias do mundo moderno e as entidades de cunho poético vão envelhecendo e terminando por falta de renovação, nos surge lá da fronteira com o Uruguai, na histórica e legendária Santana do Livramento de tantas pessoas ilustres, uma confraria de jovens poetas que pode ser a luz no fim do túnel para esta arte tão importante na cultura do Rio Grande.

Confraria Verso e Prosa, unção de poetas, declamadores compositores, que além do sangue versejador, corre em suas veias a preocupação social. Nenhum Gaúcho pode viver só para o tradicionalismo, virando o rosto para o cinturão de pobreza que cerca nossas cidades.

Essa gurizada de Santana, compondo e dizendo poemas como poucos nesta terra, são um nó-de-pinho que não deixa apagar nossa esperança de uma vida melhor através do verso, através do trabalho, através do humanismo.

Proseando com um de seus integrantes, Cristiano Ferreira Pereira, que, juntamente com Cláudio Silveira, ganhou a 3ª Querência da Poesia Gaúcha, de Caxias do Sul, com o poema Lições de Campo e Estrada, levamos aos nossos leitores como se forjou essa irmandade literária no garrão do Rio Grande.

O que é a Confraria Verso e Prosa?

Trata-se da união de um grupo de amigos que através da sua arte buscam propagar a cultura e os valores peculiares aos gaúchos, visando a elaboração de trabalhos bem fundamentados que visem retratar imagens positivas e reais da sociedade e do pampa, sem modismos ou populismos comerciais.

Destina-se a buscar a maior integração e ser motivo do encontro dos amigos, em reuniões festivas ou de trabalho, tanto para compor, como para ensaiar ou ainda a criação de eventos voltados a atuação artística, buscando angariar fundos para os mesmos através de promoções ou patrocínios obtidos para o coletivo dos elementos e não por individualidades.

Quando surgiu?

A Confraria Verso e Prosa surgiu de forma informal, por iniciativa de Juliano Moreno (músico e intérprete), José Cláudio Pereira – Zeca (poeta e declamador), Cláudio Silveira (poeta, pajador e compositor) e Cristiano Ferreira Pereira (poeta, declamador e compositor), em uma volta da cidade de Bagé, por ocasião da participação na Semana Crioula, justamente quando debatíamos a falta de eventos culturais e de trabalhos efetivamente focados no fundamento; não por acaso ao passar por Dom Pedrito. Foi no dia 02/04/2006.

Quem compõe a Confraria?

Além dos fundadores, fazem parte Ângelo Ribeiro Soares (poeta e músico), Jorge Luiz da Rosa Chaves (poeta e compositor), Abayubá Mendoza (declamador e poeta uruguaio – o “braço oriental” do grupo) e Fernanda Moreno (declamadora).

Somam-se todos os cônjuges, filhos, parentes e amigos do grupo, que auxiliam sobremaneira em equipes de apoio nos eventos e logística para festivais, entre outras tantas gauchadas.

Quais os eventos que já foram organizados pelo grupo?

O grupo já apoio inúmeros eventos, auxiliando na organização e logística, bem como equipes de avaliação, até mesmo fora de Santana do Livramento.

Organizou três edições do PARADOURO DA MÚSICA CAMPEIRA (“Onde as rimas e os sons do campo se encontram”), festival fechado ao público, que visa promover a integração entre músicos, poetas e intérpretes, na produção de músicas de cunho campeiro, num cenário de rara beleza, junto à nascente do Rio Ibirapuitã, em Santana do Livramento. Lá já surgiram trabalhos e parcerias premiados em diversos festivais no estado, inclusive vencedoras.

Cada edição do Paradouro tem uma segunda etapa, que é a apresentação pública das músicas, com caráter beneficiente. Entre outras entidades já foi beneficiada, por exemplo, o Lar de Meninas da cidade, entidade que abriga meninas menores de idade.

Está em fase de aprovação nos órgãos competentes nas esferas Municipal, Estadual e Federal, o 1º MARCO DA POESIA PAMPEANA, festival de poesia e declamação que será levado a efeito em parceria com o CTG Presilha do Pago, de Livramento, entidade que compartilha de valores convergentes ao do grupo. O evento deverá, obrigatoriamente, ter trabalhos de diferentes autores, intérpretes e amadrinhadores, com explícita abertura para trabalhos em língua espanhola, e valorização extra aos trabalhos de cunho campeiro.

Quais as participações marcantes e resultados obtidos pelos integrantes da Confraria?

Várias foram as premiações e andanças, mas cabe destacar que fomos abençoados em conseguir chegar a todos os lugares a que nos propusemos, independente de premiações, cujo objetivo maior era o registro de nossos trabalhos para a posteridade, somando em bons exemplos e o resgate de tipos, eventos, festividades ou paisagens peculiares aos fronteiriços, essas que muitas vezes víamos serem apresentadas de maneira destorcidas.

O maior resultado é, sem dúvida, o fato de haver o reconhecimento do trabalho individual e coletivo, cada vez maior, e a consciência de que visamos trabalhos de vida longa no cenário, sendo um somatório de aptidões com um objetivo comum: a preservação e valorização de nossa cultura, com a conquista valiosa de novos amigos e parceiros de causa.

Cristiano Ferreira, na foto em parceria com os poetas José Claudio Pereira e Claudio Silveira, junto com seu pai Jesus, que foi homenageado com o poema A Volta do Zé da Pinha, na 12ª Sesmaria de Osório

sábado, 1 de maio de 2010

DOIS DEDOS DE PROSA COM O FOLCLORISTA PAIXÃO CÔRTES


Neste 1º de maio, dia em que saudamos a todos os trabalhadores, nada melhor do que prosear com alguém que labutou por nossa cultura do sul do país, com um batalhador incansável na busca do resgate, da veracidade e da autenticidade de nossos costumes e que, aos 83 anos, continua trabalhando em prol de nossas tradições. João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes

Nascido a 12 de julho d 1927, em Sant’Ana do Livramento, RS, Paixão Côrtes tem suas origens ligadas á vida pastoril e iniciou muito cedo suas pesquisas folclóricas. No transcorrer dos tempos se viu obrigado a comprar sua própria aparelhagem (gravador, filmadora, máquina fotográfica, etc..) para registrar a cultura popular gauchesca. Deste trabalho resultou um acervo de milhares de slides, centenas de fitas e vídeos, enfim, um arquivo histórico sobre os usos e costumes do povo gaúcho.

Afora sua importância como folclorista, Paixão Côrtes foi um verdadeiro precursor de todo este movimento que visa cultuar nossas raízes, pois fez parte do Piquete da Tradição, também chamado do Grupo dos Oito que, em 1947, de acavalo e pilchados a moda gaúcha, acompanharam os restos mortais do General Farrapo David Canabarro pelas ruas de Porto Alegre e, no mesmo ano, criaram a primeira Ronda Crioula, precursora da Semana Farroupilha de hoje, sendo, esses fatos, a fonte inspiradora de tudo o que se percebe agora em se tratando de tradicionalismo.

Falar sobre a representatividade de Paixão Côrtes para o folclore gaúcho careceria de livros e livros. Para termos algumas pitadas do pensamento deste que é o maior vulto vivo da história regional do Rio Grande, nosso blog teve, com ele, dois dedos de prosa.

Blog – Depois de Paixão Côrtes, poucos ativistas dedicaram-se a pesquisar nosso folclore. Por que são poucos os interessados nesta área? Não há mais nada o que pesquisar?

Paixão Côrtes – Bem. Eu acho é que as pessoas estão mais preocupadas é em festar do que fundamentar. Estão mais voltados para a recreação e o lazer antes de procurar as raízes que deram origem a esses momentos literários, sociais e culturais. Mas eu acho que ainda há muita coisa para se pesquisar. Existem muitas manifestações que estão aí a espera de pessoas preocupadas em revitalizar essas fontes.

Só como informação: em 1950 eu pesquisei a dança jardineira, em Vacaria. Quarenta e quatro anos depois eu vim encontrá-la aqui, em Santo Antônio da Patrulha. Esperei 44 anos para que realmente reconstituísem com toda a fidelidade. Seria muito mais fácil se eu não tivesse essa preocupação de veracidade e do respeito ás fontes originais como muita gente, irresponsavelmente, anda fazendo por aí. Minha preocupação é essa: reconstituir fielmente para que as novas gerações sejam portadoras da verdadeira raiz nativa riograndense.

Blog – Sendo o maior estudioso do assunto, como o senhor vê as danças de invernadas artísticas de hoje?

Paixão Côrtes – O que eu acho é o seguinte: as pessoas, as vezes, tem dificuldade de interpretar o que a gente escreve por que não conhecem português. Então, para essas pessoas, torna-se difícil entender o que a gente escreve traduzindo expressões artísticas, coreógrafas, musicais e de vestuário. Como as pessoas acham mais fácil olhar e acrescentar sua opinião pessoal, o que nós estamos vendo aí é uma verdadeira fantasia de vestuário e uma deturpação de temas originais que eu encontrei. Não quero dizer que as danças que eu investiguei sejam as únicas, mas estas, até que me provem o contrário, são as primitivas, as originais.

Hoje é muito comum a modificação, a estilização, a deturpação em razão da falta de documentos da época.

Blog – Nosso povo gosta muito de prestar homenagens “in memorian”. Que homenagem o senhor gostaria de receber em vida?

Paixão Côrtes – Eu estou recebendo todas as homenagens de pessoas sinceras que comungam com o espírito que me levou a criar, em 1947 o início do movimento tradicionalista através do Departamento de Comunicações do Colégio Júlio de Castilhos e, conseqüentemente o 35 CTG, que sou um dos fundadores.

A todo o momento eu me reencontro com as novas gerações e isto é um júbilo que a gente carrega pois já com 83 anos mas perfeitamente lúcido e me sentindo espiritualmente jovem, bastante jovem, porque estou dando muitos cursos e dançando continuadamente. Ensino setenta e tantas danças a cada curso que dou, a cada exposição coreográfica que faço aos mirins, juvenis, adultos e o reencontro com xirus veteranos, são momentos de homenagens perenes.

Isto sempre pensei em minha vida: o rever amigos são momentos de glórias, assim como a glória está na preservação original de nossos estudos, no reconhecimento destes trabalhos por parte das novas gerações e na causa maior que é o bem estar de todos nós.

domingo, 28 de março de 2010

CEVANDO UM MATE COM GLÊNIO FAGUNDES



Glênio Cabral Portela Fagundes, crioulo do Cacequi, RS, casado com Maria Francisca Fagundes, pai de seis filhos, por sua sabedoria terrunha, por sua autenticidade, é destes gaúchos de se “lavar com um bochecho d’água” como ele mesmo diz.

Autor de três discos, um CD e do livro Cevando Mate, além de vários trabalhos editados em revistas e periódicos, sempre na área do crioulismo, Glênio, em 1952, foi um dos fundadores do grupo musical Os Teatinos, que permaneceu em atividade durante vinte e cinco anos, como um esteio de pau-ferro que não lasca com dentadas de potranca.

Talvez a pessoa que mais tenha participado como jurado pelos festivais do Rio Grande, Glênio, por longo tempo, vem conduzindo com maestria (agora ao lado da cantora Maria Luiza Benitez) o programa Galpão Nativo da Televisão Educativa do Estado.

Pois este pensador, este ícone da cultura sul-continentina é nosso convidado para dois dedos de prosa nesta manhã de domingo.

Blog- Estamos cevando um mate com um especialista no assunto. Com um cevador de mates. Isto é correto?

Glênio – Sim, pois ... não sou verde porque já sou maduro. Quanto ao especialista, todo o mateador terrunho se orgulha de saber cevar um mate.

Blog – Nos conte um pouco sobre sua tragetória dentro do tradicionalismo.

Glênio – Nasci na região da campanha, Mesopotânea Crioula, entre os Rios Ibicuí e Cacequi, local onde está enterrado meu umbigo. Dentro das nossas tradições de campo, se o filho fosse varão, o pai procurava um local onde houvesse tido uma batalha e enterrava ali o cordão umbilical do filho para que esse saísse um guerreiro. Se fosse menina, o cordão era enterrado no piso da cozinha,para que saísse uma dona de casa de mão cheia.

Continuando a prosa, eu e meu mano Paulo Fagundes passamos nossa infância no campo, vivenciando as lides campeiras, cursando as faculdades dos galpões.

Nosso primeiro instrumento foi uma cordeona de voz trocada. Aos quinze anos de idade, mais ou menos, por influência do Tio Jarbas Cabral, criador do conjunto Os Gaudérios, buscamos intimidade com a guitarra crioula.

Lembro que em uma destas viagens do Tio Jarbas a fronteira, na passagem pelo Cacequi, ele nos deixou um violãozinho tenor, quatro cordas, pouco maior que um cavaquinho. Ao regressar ficou muito decepcionado com os sobrinhos, pois a tampa do instrumento havia sido arrancada e nela havia um eixo com duas rodas... Lembro que foi a mais linda “carreta” que cobriu a geografia pampeana de nossa infância.

A nossa convivência musical foi sempre sem fronteiras. A presença da música pampeana era normal em nossa região. Como decorrência natural, procuramos um conhecimento maior não só da cultura de campo do nosso Estado, como dos atuais países do Mercosul.

Praticamos a cultura crioula no Galpão do Palácio Piratini durante dez anos.

Participamos de muitos espetáculos, painéis, conferências, palestras, júris de música nativa, elaboração de regulamentos de festivais, criação do Troféu da Linha Campeira, da Califórnia de Uruguaiana, estudos de guitarra com o professor Isaías Sávio, cursos de teoria e solfejo, curso de harmonia com o maestro Arnaldo Albuquerque...

Me encanta a arte da dança, desenho, escultura e pintura e todas essas manifestações dentro do gauchismo. Enfim, sou um produto do campo.

Blog – És um profundo conhecedor da língua guarani. Onde começou este conhecimento?

Glênio – Gostaria de ser um profundo conhecedor da minha gente guarani e falar fluentemente este idioma que é o “avá ñe-ë” (língua da gente). Na realidade, todos nós do Rio Grande do Sul falamos o avá ñe-ë ao empregarmos a toponímia guarani, quando pouco, ou quase nada sabemos destes topônimos tão nossos.

Sou um curioso, sim, a lamentar a não existência de um curso de introdução a língua da nação guaranítica. Minha curiosidade tem início com um “Lutier” da guitarra, Don Alberto Salmeron, criador da guitarra Salmeron, que falava fluentemente o avá ñe-ë. Bem mais tarde fiz um curso de introdução a língua guarani, que foi promovido pelo IGTF.

Blog – Você não tem coragem de “surrar” uma guitarra, ao contrário, faz carícias e, ao fazê-las, toca na alma de quem escuta. De onde vem esse telurismo?

Glênio – A guitarra tem sido o grande veículo de minha sensibilidade, por onde a natureza e os meus afetos se manifestam serenamente...

Minha mestra é a terra, onde a vida cresce em silêncio...



domingo, 7 de março de 2010

JOCA MARTINS


Foto: Juliana Spanevello

Hoje é domingo! Dia de puxar um cepo, cevar um mate, prosear com a patroa na varanda do rancho, bombeando, a lo largo, um bando de aves que se vão, na busca de outro verão. De fundo, do rádio a pilha, uma coplita crioula...

Mas falando em boa música me lembrei do Joca Martins. Mas bah! O Joca Martins! Este conhece...

O Joca Martins, meus parceiros, é destes índios zebrunos que quebram cristais quando cantam. Do que sai de sua garganta, tudo se aproveita. Como diz meu mestre Glênio Fagundes, sua cantoria é de lavar com um bochecho d’água.

Há 23 anos nas estradas do nativismo Joca Martins é considerado um dos maiores nomes da música gaúcha. Foi trilhando as estradas do Rio Grande do Sul desde 1986, entre festivais e apresentações, que conquistou diversas premiações. Entre elas se destacam o “Troféu Vitor Mateus Teixeira - Teixeirinha de Melhor Cantor em 2004” e dois Discos de Ouro. Um deles pelo disco "O Cavalo Crioulo" e outro pelo CD "Clássicos da Terra Gaúcha”.

Sou serrano, mas gosto por demais deste pessoal da zona sul do Estado. Seus versos são lapidados, suas melodias são cantos de riachos. E o velho atavismo gaúcho? “Cosa de loco”.

Proseei com o Joca, reculutei umas perguntas e aí estão as respostas.

Blog. Tens algum artista gaúcho que te inspiraste no começo
de tua carreira?
JM. José Cláudio Machado e César Passarinho

Blog. Qual teu momento mais marcante em cima de um palco?
JM. Quando lancei o CD 30 Anos de Califórnia, em Uruguaiana. O Público aplaudiu de pé e pediu mais um, já era uma honra pra mim estar naquele palco histórico e ser acolhido daquela maneira foi inesquecível!

Blog. Como foi tua experiência como vocalista de grupo de baile (Os Serranos)?
JM. Foi excelente, aprendi muito, conviver com Edson Dutra e Everton "Toco" Dutra, além de todo o pessoal da turma nova, me fez dar novos passos adiante na minha trajetória.

Blog. Como surgiu a idéia e qual foi o resultado de divulgar teu trabalho vindo de Pelotas a Porto Alegre de acavalo?
JM. A idéia surgiu de um sonho, sonho mesmo, sonhei que ia até a Capital a cavalo divulgando o novo CD "Por ter querência na alma". Era verão de 2002 e estava no meio das gravações do CD, envolvido e obviamente só pensava em tudo que se relacionasse com o disco, daí o sonho.
Bueno, achei que o sonho tinha fundamento e tratei de realizá-lo!

O resultado foi excelente, além da gauchada que foi , o pessoal parava na estrada, mandava abraço pra mim, perguntava notícia de todo pessoal da nossa música. Até notícia sobre o estado de saúde do Nico Fagundes me perguntaram, caminhoneiros que faziam o trecho quase todos os dias, paravam, perguntavam se precisava de algo, foi bueníssimo!

Não posso deixar de citar, que ia um carro de apoio que muito me honrou, o amigo e poeta Xirú Antunes, que me parceriava nos amargos junto com o motorista que era bem gauchão, o Lourival.

Além disto houve uma boa divulgação na mídia, que era um dos objetivos, mais espaço pra nossa música na mídia.

Pois é, minha gente. O ano de 2010 traz muitas novidades na carreira deste músico, que canta em prosa e verso a valorização da nossa terra. Atualmente finaliza, em Porto Alegre/RS, o DVD “O Cavalo Crioulo”, com produção da BR Filmes,gravado na Estância da Carapuça em Cristal/RS. Um trabalho de primeira linha, que será lançado no primeiro semestre de 2010.

Sucesso, Joca Martins.