RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

domingo, 12 de abril de 2020

ENTREVISTA COM PAULINHO MIXARIA


Eu sempre tive uma admiração muito grande pelo artista Paulinho Mixaria. Fui a vários shows seus. Uma vez assisti uma apresentação sua em Gravataí numa noite que, quem tivesse um pouco de medo não saia de casa, era chuva derramada de balde. Tudo alagado. Quando saí de Porto Alegre pensei: com esse tempo vai ter meia dúzia de gatos pingados. Cheguei lá e... ginásio abarrotado. Gente saindo pelo ladrão. Gosto de seus espetáculos porque, além da sua criatividade, via uma figura simples, humilde.
 
Quando conheci a pessoa Paulinho Silva, percebi que ele não era muito diferente de seu personagem. Um ser humano divertido mas sempre carregando suas raízes roceiras e, mais que isto, se orgulhando de suas origens.
 
Por esse motivo, neste domingo de Páscoa um tanto diferente, trago para nossos fiéis leitores do blog esta entrevista que o Paulinho, gentilmente, nos concedeu, a qual mostra um pouco da história deste guerreiro que peleia meio solito, mas sem esmorecer jamais. E assim, com seu esforço e seu trabalho, alcançou o merecido sucesso e reconhecimento no Brasil inteiro.
 
 
Paulinho Silva (Paulinho Mixaria) e Léo Ribeiro
 
 

Blog - Antes de abordarmos o seu personagem você poderia nos falar um pouco da pessoa Paulinho Silva, de sua história até chegar a consagração  como Paulinho Mixaria, esta figura carismática e admirada? 
Paulinho Mixaria - Nasci em Taquari, sai aos dois anos de lá, aí morei em Santo Antônio da Patrulha, Taquara, Parobé, aonde fiquei até os 18 anos, quando casei e vim morar em Gramado aonde permaneço até hoje. No dia 09 de abril, agora, completou 32 anos que estou em Gramado.
Blog - Como foi a composição de seu personagem? A escolha pela bombacha remendada...
Paulinho Mixaria - Eu sou de uma região bem caipira. Ali era roça. A minha família não tinha lida de campo, cavalo... Pra nós isso tudo foi muito romantizado, na prática a gente não viveu isto. Isto, até hoje, é meio romantizado. Pouca gente vive, realmente, essa lida de campo e gado. Poucos tem essa vivência. A maioria dos nossos compositores vive isto poeticamente falando e comigo também. A minha família é da roça, do cabo da enxada, capinando para os outros pois não tinham terras deles, plantavam de a meia. Então, eu sempre vi minha família, os mais velhos, tios e avós assim, de bombacha velhas, remendadas, remangadas. Esta foi a realidade que eu vivi. A última imagem que eu tenho do meu avô materno, vivo, é ele capinando na roça, já doente, de bombacha remendada e remangada. Então é dali que eu venho. Eu não sou um gaúcho de fronteira e nem da serra, eu sou da roça mesmo e o meu personagem não é bem um personagem, eu sou meio atrapalhado, desse jeito, até pra conversar. Estudei pouco. Então vem dali esta minha imagem, porque o gaúcho não é só de lida de campo, é também da roça e é de lá que eu venho.
Blog - Seus espetáculos arrastam verdadeiras multidões lotando teatros, feiras, Centros de Tradições. De quantas pessoas é formada sua equipe? O roteiro é você quem faz?
Paulinho Mixaria - Normalmente eu viajo solito, mesmo. O pessoal me contrata e quando alguém pode ir comigo eu levo e se não pode eu vou sozinho. Chego lá e faço o trabalho. Por vezes alguém da família me acompanha mas não é sempre. Então, minha equipe é, praticamente, só eu. Tem a minha família que me dá o respaldo na parte de criação de conteúdo, internet, essas coisas assim.. Tem meu filho que ajuda, minha nora, minha esposa, mas nas viagens, nos shows propriamente, é só eu mesmo.
 
O roteiro sou eu quem crio e na verdade é tudo meio na hora. Eu não levo nada escrito antes, eu não penso: vou desenvolver um assunto. Não. É na hora que surge. Eu vou improvisando e o improviso que dá certo acaba fazendo parte do próximo show.   
Blog - Como consegue manter o público focado durante tanto tempo? Já aconteceu de esquecer o texto?
Paulinho Mixaria - O segredo é fazer com que ele (show) passe rápido, não no sentido de fazer curto mas no sentido de fazer com que a pessoas que foram buscar aquilo (humor), recebam de tal jeito que não vejam o tempo passar.
 
Já. Já esqueci o texto muitas vezes mas eu uso muito do improviso. Qualquer coisa que surja eu uso pegar como um gancho para brincar, para improvisar.
Blog - Você é um humorista que não usa a piada chula, apelativa, para alcançar o sucesso. Ao contrário, nas entrelinhas de seus textos sempre tem uma mensagem de fundamento. Nestas horas de incertezas pelas quais atravessamos que recado você deixaria para seus milhares de fãs?
Paulinho Mixaria - Sempre fiz humor que não tem palavrão, que não tem racismo, que não tem homofobia, que não tenha nada que, propositadamente, possa ofender alguém. 
Na verdade de uma certa idade pra diante eu comecei a participar de CTGs, eu escrevo poesias, já editei 4 livros de poesias, tudo produção independente, eu também escrevo músicas, muito simples, para alguns cantadores nossos. Em CTGs eu trovava, dançava chula, balaio, dança dos facões, tatu novo, cana verde, essas danças. Cheguei a ser posteiro de danças do CTG Fogão Gaúcho, de Taquara... Então eu tenho essa formação da arte feita com respeito, com carinho e cuidado. Eu sempre procurei passar este aprendizado. O artista, em todas as áreas, é um mensageiro que Deus mandou para alegrar a vida dos outros de alguma forma, seja quem pinta um quadro, quem escreve um poema, quem canta uma música, quem faz um passo de dança, enfim, quem conta uma piada, o palhaço que pinta a cara... todos eles são pessoas que receberam uma missão para tornar a vida dos outros um pouco mais leve, mais alegre. Eu sempre levei o humor com muita responsabilidade e sempre procuro passar mensagens de fundamento porque, principalmente crianças e jovens, as vezes não querem ouvir os pais, os mais velhos em casa e querem ter a última palavra e como no show sou só eu que falo, eu falo e tá falado, não deixo eles responderem (risadas) aí as mensagens talvez cheguem com mais facilidade. 

Eu acho que é isto aí. Quem faz a arte tem que fazer por amor a arte. O dinheiro virá, ou não, com o amor empenhado em cada tarefa.  
 
Léo Ribeiro - Gracias, meu querido amigo.