RETRATO DA SEMANA

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domingo, 16 de fevereiro de 2020

POSTAGENS DE FUNDAMENTO


Tenho a maior consideração por quem dedica seu tempo as pesquisas históricas e, no mundo de ostentações do facebook, as publica para conhecimento dos interessados.
 
Não o conheço pessoalmente mas queria dar meus parabéns ao Paulo Mena que faz este incansável trabalho cultural e nos brinda constantemente com suas publicações.
 
Por vezes não concordo com algumas colocações e debatemos fraternalmente mas isto faz parte do processo democrático e nem todos os autores pesquisados, ou lidos por mim, são donos da verdade. Mas a instigação a leitura já é um grande passo.
 
Publicamos hoje em nosso blog uma pesquisa sobre a imprensa gaúcha na revolução de 1923. Se os leitores imaginam que a guerra de informações, os fakes, são modismos de agora, tenham certeza que vem de longos tempos. 
 
Adelante, meu amigo.     


Paulo Mena
 
 
A imprensa gaúcha na Revolução de 1923. 
Durante o período no qual a Revolução de 1923 se desenrolou, a violência contra a imprensa de ambos os lados foi predominante. A oposição promoveu o empastelamento de diversos jornais governistas, ocorrendo, em alguns casos, o espancamento de seus redatores. Na cidade de Quaraí, a sede do jornal, O Cidadão, Órgão do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) fundado em 1908, foi destruída, quando Honório Lemes, tomou a cidade. Este periódico, de acordo com o pesquisador João Batista Marçal, foi o de maior longevidade, em Quaraí, circulando em torno de 30 anos.
O Diário Popular (1890) de Pelotas, quase sofreu o mesmo destino, tendo a intervenção de Zeca Neto (Condor dos Tapes) que impediu a sua destruição. O Dever, fundado em Bagé, em 1901, circulou até meados da década de 30, sendo porta-voz do Partido Republicano Rio-Grandense.
Em resposta aos maragatos, os borgistas procuraram silenciar os jornais da oposição, por meio das autoridades, proibindo a circulação de diversos periódicos, entre eles: O Correio do Sul (1914-2008) fundado, em Bagé, por Fanfas Ribas que sofreu represálias; o Correio da Serra, de Santa Maria, fundado, em 1917, por Arnaldo Melo, que circulou até 1930, defendendo a bandeira maragata.
Em Porto Alegre, segundo o jornalista e pesquisador Francisco Rüdiger, em seu livro Tendências do Jornalismo (2003), O Democrata foi a principal vítima da repressão. Fechado pela polícia, este periódico era contrário à ditadura de Borges de Medeiros e à presidência de Arthur Bernardes (1875-1955), trazendo em seu cabeçalho o curioso dístico: “Rezemos no altar da Pátria, o “De Profundis”, da ditadura rio-grandense”. Outro periódico de oposição ferrenha, surgido em Porto Alegre, foi a Última Hora que realizou intensa campanha contra a candidatura de Borges de Medeiros.
Lançado em 1914, a Última Hora, foi o porta-voz da oposição, cobrindo em suas matérias a Revolução de 23. Este periódico deixou de circular em fevereiro de 1926.
Um dos expedientes utilizados, pela máquina borgista, era o controle policial que foi vivenciado pelo historiador Walter Spalding (1901-1976). Este e outros amigos que trabalhavam na redação do jornal Última Hora, ao saírem da redação, na Rua dos Andradas, percebiam a vigilância de policiais fardados ou disfarçados, especialmente, na hora da saída do jornal para serem vendidos. Esses policiais eram os primeiros a comprá-los, ainda dentro da redação, visando à análise das matérias e à tomada de providências, caso não aprovassem o conteúdo. Na cidade de Pelotas, Frediano Trebbi, responsável pelo jornal O Rebate, foi surrado na rua e, posteriormente baleado pela Brigada Militar. Diante desse quadro de brigas e perseguições, muitos jornalistas se refugiaram no exterior, onde se publicou, entre outros jornais, A Liberdade, de André Carrazoni.
Segundo o jornalista Carlos Reverbel (1912-1997), os heróis mais pungentes, no confronto de 1923, foram Honório Lemes e Fanfa Ribas: o primeiro nas coxilhas e o segundo nas colunas do Correio do Sul.
As arbitrariedades no jornalismo político-partidário rio-grandense, na época, eram marcantes devido ao monopólio do poder, exercido pelos chimangos, que limitava o espaço de atuação da oposição maragata, confundindo as funções do político com as do jornalista.
Não podemos nos esquecer de jornais político-partidários cuja longevidade comprova sua força e poder doutrinário. Neste aspecto se destacam A Federação (1884-1937) que durou 53 anos; O Diário Popular de Pelotas (1890) terceiro mais antigo jornal, ainda em circulação, no RS e a Gazeta de Alegrete (1882) o jornal mais antigo do interior do estado ainda em circulação. Estes três periódicos foram fundados no século XIX.
Representando à oposição maragata, após a proclamação da República (1889) destacou-se, em termos longevidade, o Echo do Sul. Este periódico foi publicado primeiro em Jaguarão em 1855 com o título de Jaguarense, passando a chamar-se Echo do Sul a partir de 1857, quando foi transferido para Rio Grande.
Em sua fase inicial foi conservador, passando mais tarde a fazer oposição ao PRR. Encerrou suas atividades em 1937. O Echo do Sul circulou por 80 anos, tendo maior duração que o jornal A Reforma (1869- 1912), do líder maragato Gaspar Silveira Martins (1835-1901) representando o Partido Liberal, durante o Império e, depois, já no período republicano o Partido Federalista (PF).
PAULO MENA PESQUISADOR
Fonte de Consulta: Texto de Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite, site observatoriodaimprensa.com.br