RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

sexta-feira, 1 de março de 2024

 

REPONTANDO DATAS / 1º DE MARÇO


MORRE FRANCISCO SOLANO LOPEZ


Morte de Solano Lopez no Arroio Aquidabán
Pintura de Adolfo Methfessel 


A Batalha de Cerro Corá ou Aquidabanigui foi o último confronto da Guerra do Paraguai. Foi travada  no dia 1 de março de 1870, nas imediações de Cerro Corá, 454 quilômetros ao nordeste de Assunção. É notória por ter sido a batalha em que Francisco Solano López, presidente paraguaio, foi morto às mãos do Exército Imperial Brasileiro.

A Guerra do Paraguai perdurava por mais de cinco anos e, após numerosas batalhas, o exército paraguaio havia sido reduzido a velhos, doentes e crianças. A batalha de Campo Grande foi o último grande combate do conflito, que a partir de então se restringiu à lutas ocasionais, nos meses finais de 1869 e início de 1870. Neste período, o Conde d'Eu organizou expedições à procura de Solano López, seguindo o caminho que sua coluna havia passado. No trajeto os homens de López e os de Conde d'Eu faziam sofrer a população civil, seja por causa de supostas conspirações contra López, ou dos saques e maus-tratos infligidos pelas tropas imperiais. No dia 8 de fevereiro de 1870, López e sua coluna atingiram Cerro Corá.

As condições no acampamento eram deploráveis, com as quinhentas pessoas que acompanhavam López no extremo da fome e miséria. Em Cerro Corá abatia-se uma rês por dia, para alimentar a todos. Consequentemente, as posições defensivas organizadas pelo marechal eram deficientes, e a isso somava-se o fraco armamento presente. As tropas brasileiras, com cerca de 2 600 homens sob o comando do general José Antônio Correia da Câmara, se aproximaram e cercaram o acampamento, sem este saber. No dia 1º de março atacaram em duas frentes: pela parte frontal e pela retaguarda. Os dois pontos defensivos, um no arroio Tacuara e o outro no arroio Aquibadán, caíram rapidamente e o assalto ao acampamento durou poucos minutos, com a resistência se dispersando logo em seguida.

López foi cercado pelos brasileiros e, após negar a se render, foi ferido a lança pelo cabo Francisco Lacerda, gaúcho apelidado de Chico Diabo, se embrenhando na mata logo em seguida. O general Câmara o seguiu e o achou próximo ao arroio Aquibadán, onde negou-se novamente a render-se, sendo alvejado no coração pelo também gaúcho João Soares. Os fatos sobre sua morte são cercados por divergências e imprecisões. Logo em seguida a batalha foi encerrada, com cerca de 240 paraguaios presos e sete imperiais feridos. O tempo fez surgir interpretações acerca da figura de López, retratando-o tanto como um tirano cruel quanto a um grande líder paraguaio. No decorrer dos anos, o nome Cerro Corá se tornaria parte da cultura paraguaia, batizando ruas e parques. 

Tocamos neste tema porque nosso Estado foi uma da federações que mais enviou soldados para a guerra e por ser palco de violentos combates, como a invasão de Uruguaiana. 

Pessoas que haviam lutado por 10 anos na Guerra dos Farrapos se uniram para defender o Império, como foi o caso do general Antônio de Sousa Netto, que morreu em Corrientes, Argentina, após um combate. 


CHICO DIABO 

O GAÚCHO QUE MATOU SOLANO LOPEZ


Gravura de Chico Diabo - autor desconhecido


Existem histórias que, dependendo de como são contadas, passam por diferentes interpretações. Enquanto, em um contexto, alguém possa parecer bom, em outro, a índole da mesma personagem ganha distintas proporções.

Esse é o caso de José Francisco Lacerda, ou Chico Diabo. Eternizado pela história militar brasileira, o gaúcho é comumente considerado um herói nacional. Quando sua lenda é contada por paraguaios, contudo, as coisas mudam um pouco de figura.

Conhecido como o responsável pela morte de Francisco Solano López, o soldado brasileiro é considerado um grande vilão no imaginário do Paraguai.

Nascido em Camaquã, um município do Rio Grande do Sul, em 1848, Francisco Lacerda era um menino brincalhão, vindo de uma família muito pobre. A condição econômica, inclusive, fez com que ele começasse a trabalhar muito cedo.

Aos precoces 15 anos, Chico foi apresentado ao mundo da violência quando deixou que um cachorro entrasse na carniçaria onde trabalhava. Furioso com os prejuízos, o patrão do menino, um italiano rígido, começou a espancá-lo.

Reza a lenda que, desesperado e lutando pela própria vida, Chico agarrou uma faca e matou seu chefe. Jovem e amedrontado, ele correu para casa e, quando estava subindo a rua, foi reconhecido pela mãe, que o chamou de diabinho.

Mesmo em meio a um contexto tão terrível, o apelido se espalhou e o menino logo tornou-se Chico Diabo. Com medo das consequências do assassinato, no entanto, o jovem foi enviado para a propriedade de seu tio Vicente Lacerda, em Bagé.

Não demorou muito até que Chico entrasse no universo militar, em 1865. Na ocasião, os Voluntários da Pátria visitaram a casa de Vicente e, convidado pelo coronel Joca Tavares, o jovem gaúcho aceitou fazer parte do pelotão.

Anos mais tarde, em meados de 1870, o soldado e seus companheiros foram enviados até a Guerra do Paraguai. Durante o conflito, Chico foi promovido a cabo e, logo em seguida, lutou na Batalha de Cerro Corá, cujo desfecho o consagrou como herói.

Em meio ao terrível embate, enquanto cavalos galopavam por um lado e facas brandiam pelo outro, Chico Diabo acertou um golpe fatal. Sua lança, comprida e afiada, havia perfurado a carne do ditador Francisco Solano López.

Como se não fosse o suficiente, o gaúcho João Soares ainda alvejou o oponente com seu revólver. Aquele era o fim do homem que, para o Paraguai, era um herói nacional e, para o Brasil, não se passava de um líder sanguinário.

Diversas teorias surgiram após o fim do conflito, dizendo que Chico Diabo teria descumprido ordens ao matar Solano. Outras fontes, entretanto, indicam que havia uma recompensa de cem libras de ouro para quem acabasse com o ditador.

Pelo considerado grande feito, Chico Diabo recebeu cem cabeças de gado e reivindicou a faca que Solano usava no dia do combate. Em 1871, o gaúcho voltou para o Brasil e casou-se com sua prima, com quem formou uma família — cujos membros vivem até hoje e, na tradição oral do Sul, crescem escutando a história do homem.


Chico Diabo é o terceiro, em pé, da esquerda para a direita
aqui já prestando serviços a Joca Tavares na Revolução Federalista