RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
A tomada da Ponte da Azenha, do pintor Augusto Luiz de Freitas (Instituto de Educação General Flores da Cunha, Porto Alegre/RS)

segunda-feira, 1 de maio de 2023

 

CARTA DE GARIBALDI AOS GAÚCHOS


Monumento a Garibaldi em Milão

Monumento a Garibaldi em Lucca

Monumento a Garibaldi em Roma

Fotos: Léo Ribeiro

Hoje, dia 01 de maio, estamos em Nice, no sul da França, cidade aonde nasceu Giuseppe Garibaldi no dia 04 de julho de 1807 quando essa localidade pertencia ao reino da Sardenha, Itália. Nice é uma cidade com 342 mil habitantes. Durante a guerra da Unificação Italiana, comandada por Garibaldi, a França deu total apoio. Em troca, recebeu a cidade de Nice que fica próximo da divisa dos dois países.   

É impressionante a devoção que os Italianos nutrem por Garibaldi, considerado o maior herói nacional da Itália. Em cada cidade há um monumento em sua homenagem. Este italiano foi um grande personagem da Revolução Farroupilha sendo o autor da façanha de atravessar com seus lanchões em meio aos campos gaúchos até sair na foz do Rio Tramandaí para atacar Laguna, aonde conheceu Anita, a sua grande paixão.      

Em carta a Domingos José de Almeida, que exercera o cargo de Secretário da Fazenda da República de Piratini, Giuseppe Garibaldi lembrou com saudade dos amigos e companheiros que, 17 anos antes, haviam sido seus parceiros na Guerra dos Farrapos. É uma carta emocionada que diz o seguinte: 

“Modena, 10 de setembro de 1859.

Meu prezado amigo, Sr. Almeida.

Quando eu penso no Rio Grande, essa bela e cara província, quando penso no acolhimento com que fui recebido no grêmio de suas famílias, onde fui considerado filho; quando lembro de minhas primeiras campanhas entre vossos valorosos cidadãos e os sublimes exemplos de amor pátrio e abnegação que deles recebi, eu fico verdadeiramente comovido. E esse passado da minha vida se imprime em minha memória como alguma coisa de sobrenatural, de mágico, de verdadeiramente romântico.

Eu vi corpos de tropas mais numerosos, batalhas mais disputadas, mas nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes que os da bela Cavalaria Rio-grandense, em cujas filas principiei a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das nações.

Quantas vezes tenho tentado patentear ao mundo os feitos assombrosos que vi realizar por essa viril destemida gente , que sustentou por mais de nove anos contra um poderoso império a mais encarniçada e gloriosa luta.

Não tenho escrito semelhante prodígio por falta de habilitação, porém a meus companheiros de armas mais uma vez tenho relatado tanta bravura nos combates, tanta generosidade na vitória, tanta hospitalidade, tanto afago aos estrangeiros, e a emoção que minha alma então jovem ainda sentia na presença e na majestade de vossas florestas, da formosura de vossas campinas, dos viris e cavalheirescos exercícios de vossa juventude corajosa; e, repassando pela memória as vicissitudes de minha vida entre vós em seis anos de ativíssima guerra e da prática constante de ações magnânimas, como em delírio brado:

- Onde estão estes belicosos filhos do continente, tão majestosamente terríveis nos combates! Onde estão Bento Gonçalves, Neto, Canabarro, Teixeira e tantos outros valorosos que não lembro! Oh! Quantas vezes tenho desejado nestes campos italianos um só esquadrão dos vossos centauros avezados a carregar uma massa de infantaria com o mesmo desembaraço como se fosse uma ponta de gado.

Que o Rio Grande ateste com uma modesta lápide os sítios em que descansam seus ossos. E que vossas belíssimas patrícias cubram de flores esses santuários de vossas glórias é o que ardentemente desejo.

Por mim abraçai a todos esses amigos e mandai em toda a ocasião ao vosso verdadeiro amigo.

Giuseppe Garibaldi”