RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

 

ACABA DE FALECER 

MAIS UM CEVADOR DE MATES 


Segundo no informou o pajador Paulo de Freitas Mendonça, há cerca de uma hora atrás (agora são 13h) faleceu o apresentador, escritor, poeta, músico e, acima de tudo, uma legenda deste Rio Grande, Glênio Fagundes. 

Certa feita, quando findou o programa Galpão Nativo que o Glênio apresentava com maestria, postamos em nosso blog a seguinte matéria: 

Nossa querida TV E, emissora televisiva que deveria ter a maioria de sua programação voltada para a cultura sulina, acaba de extinguir um dos programas gauchescos mais autênticos, o Galpão Nativo. Não se sabe bem o que vem por aí mas, pelas gravações de alguns programas que irão ao ar em seguida em substituição ao Galpão Nativo, esta característica (autenticidade) não retorna mais. 

Mas isto também se deve a uma pessoa que traz em si o pó da terra, o aroma dos campos e que não permitiria que isto acontecesse. Falo do antigo apresentador Glênio Fagundes, uma figura carismática que transcendeu a imagem do próprio programa.

Glênio Cabral Portela Fagundes nasceu em Cacequi, RS, filho de Albino Portela Fagundes, então médico da rede ferroviária, e de Amélia Cabral Portela Fagundes. Por ali viveu até os 18 anos, quando se transferiu para a cidade de Rio Grande e depois, definitivamente, para Porto Alegre.

Glênio tinha em seu irmão Paulo Fagundes, o Bola (ótimo violeiro e muito bom gaiteiro, além de ter uma voz privilegiada), seu inseparável companheiro e até casaram-se com duas irmãs. Paulo teve uma morte prematura há pouco tempo, o que fez Glênio perder o gosto pela guitarra, a quem sempre tratou com mãos de veludo.

Foi através de Jarbas Cabral, irmão da Dona Amelinha, que os manos começaram suas atividades artísticas, isto lá pela década de 50. Quando surgiu o programa Grande Rodeio Coringa, o Jarbas criou o conjunto Os Gaudérios, referência obrigatória da música regionalista gauchesca. O Glênio sempre foi o seu discípulo predileto.

Mais tarde, seguindo os passos do tio, Glênio fundou e dirigiu o conjunto Os Teatinos, um dos melhores do gênero na época.

Glênio, profundo conhecedor da língua guarani, editou o livro Cevando o Mate e agora está preparando o Poemas Terrunheiros, Aforismos e Relampejos, reunindo a sua considerável obra poética. Gravou, também, um disco com suas composições e dois com Os Teatinos.

Glênio Fagundes é um gaúcho caseiro. Dorme tarde, muito tarde, e vivencia o rancho rodeado pelo amor da esposa Tita e dos filhos Nicássio, Cassiana, Osíris, Terêncio, Horácio e Juvêncio, que já lhe deu a neta Bibiana, mas cercado, também, de amizades e do respeito do Rio Grande inteiro, que tem por ele e por sua obra um carinho muito grande.

O Glênio é um homem profundamente espiritualizado, que conversa com as plantas e com os bichos do campo. Seu jeito simples, com a melena e a barba entordilhando, é a imagem daqueles gaúchos antigos, santos e guerreiros dos nossos galpões. Por onde passa, o Glênio deixa um rastro luminoso. Ouvi-lo falar é beber filosofia e ternura. Ouvi-lo tocar o violão com boca de salamanca é retovar-se de magia e encantamento.

Agora, com muita tristeza na alma exclamamos: Vai em paz, Glênio Fagundes, camperear nas sesmarias do infinito. Você cumpriu sua missão.