RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
A tomada da Ponte da Azenha, do pintor Augusto Luiz de Freitas (Instituto de Educação General Flores da Cunha, Porto Alegre/RS)

sábado, 12 de março de 2022

CASTELO DE PEDRAS ALTAS É VENDIDO

 

Construção tem quatro andares e 44 cômodos
Fernando Gomes / Agencia RBS

Uma família de advogados de Santa Maria acaba de comprar um pedaço da história do Rio Grande do Sul: o castelo de Pedras Altas, construção de arquitetura medievalesca inaugurada em 1912. No local, foi assinado o acordo que pôs fim à luta entre maragatos e chimangos, na Revolução de 1923.

O castelo de quatro andares, 44 cômodos e patrimônio histórico tombado pelo governo do Estado, ainda abriga mais de 7,2 mil livros, sendo oito obras publicadas de 1400 a 1500. Há raridades, como dois volumes da Enciclopédia, de Diderot e D’Alambert, de 1751.

A construção fica em Pedras Altas, município de apenas 1,9 mil habitantes na Região Sul, a 400 quilômetros de Porto Alegre. O acesso é pela cidade de Pinheiro Machado, sendo 17 km do trajeto em estrada de chão.

O imóvel pertenceu a Joaquim Francisco de Assis Brasil, estancieiro, político, advogado e escritor que dá nome a avenidas de diversas cidades gaúchas e ao parque de exposições que abriga anualmente a Expointer, em Esteio, na Região Metropolitana. Assis Brasil viveu no castelo até a morte, em 1938.

No local, foi assinado o Pacto de Pedras Altas, que pôs fim à Revolução de 1923, que opunha chimangos (liderados por Borges de Medeiros) e maragatos (aliados de Assis Brasil).

Os novos proprietários do castelo e da propriedade de 300 hectares são três irmãos que vivem em Santa Maria: os advogados Rafael Batista Segat, 35 anos, Gabriela Segat, 33, e Kamilla Segat, 30. A família também é dona da Cabanha Segat, que cria cavalos crioulos.

O patriarca da família e presidente da recém-criada Associação do Castelo de Pedras Altas, o advogado Luiz Carlos Segat, 55 anos, afirmou a GZH que os Segat pretendem abrir os dois primeiros andares para visitação ainda neste ano. Os outros dois pisos ficarão restritos à circulação privada do clã.

— O objetivo é abrir para visitação pública. Se vai ser instituto cultural ou museu, depende do Iphae (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul) e dos órgãos competentes. Estamos com projeto para restauração, porque o objetivo é preservar. Ano que vem é o centenário da assinatura do Tratado de Paz de Pedras Altas — diz o patriarca Segat.

A expectativa ainda é reconstituir o cenário de quando o castelo estava sob posse de Assis Brasil, com cavalos, aves (incluindo galinhas importadas dos Estados Unidos), gado e ovelhas de raças da época.

São necessárias reformas para combater infiltração, restaurar janelas e outras adaptações. Para custear os trabalhos e a abertura ao público, a família Segat espera obter financiamento via Lei Rouanet – há empresários interessados em contribuir com doações, segundo Luiz Carlos.

Questionado por que a família se interessou em adquirir uma propriedade de tamanho valor histórico, o patriarca afirma que a ideia inicial era comprar terras para plantação de soja, comum na região e também cultivada na propriedade do castelo. Mas, ao descobrir o imóvel e o valor histórico, a família “se apaixonou” pela área.

— Nos encantamos com toda a história que tem aqui dentro. Se a lavoura era, no início, o foco principal, hoje, está em segundo plano. A conservação do castelo e a utilização para visitação pública se tornou prioridade — acrescenta o advogado.

Luiz Carlos não revelou o valor da propriedade, a pedido dos filhos. Em 2015, o castelo foi alvo de negociações na casa dos R$ 8 milhões com uma ONG de Moçambique. O imóvel foi comprado dos herdeiros de Assis Brasil, que administravam o castelo conjuntamente. Entre 18 familiares, 16 já assinaram o documento de venda. A bisneta de Assis Brasil, Suzana de Assis Brasil Mendes, conta que a chave do castelo já foi entregue aos Segat.

— Eu gostaria que o castelo ficasse com a família, mas houve dificuldade grande de obter apoio público e privado para manter. Quando tu tens um imóvel tombado, é ilegal uma pessoa privada receber dinheiro público. A família fez votação e preferiu vender. Temos amor pelo castelo, e por ter amor é que decidimos vender, porque não tínhamos capacidade nem condição financeira de abrir as portas — diz a bisneta de Assis Brasil.

Na sexta-feira (4), o castelo foi visitado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (Iphae) e pela secretária de Cultura do Rio Grande do Sul, Beatriz Araujo.

Nos últimos anos, o local, que é de propriedade privada, vinha sofrendo com o abandono, se tornando alvo de arrombamentos, invasões e furtos. A deterioração da estrutura já foi alvo de inquérito no Ministério Público. Para cumprir um termo de ajuste de conduta, os Assis Brasil promoveram reformas no telhado do castelo. Com a venda, a expectativa da própria família é de que o imóvel seja reformado e possa ser usufruído pela população gaúcha.


Fonte: Jornal ZH