Cartun: Bier
O extinto general Serafim Vargas, sobrinho dileto de Getúlio Vargas, viajava certa madrugada de São Borja para Uruguaiana, onde se localizava uma das suas três estâncias. Com ele, como sempre, o Dery Muniz - ainda vivo e são de lombo -, seu secretário e espécie de lugar-tenente.
O automóvel roncava pelas então precárias estradas que ligavam uma cidade à outra. Havia chovido e, de trechos em trechos, o carro derrapava. O general - então coronel comandante do Regimento João Manoel, em São Borja - não estava gostando da viagem. Por mais que o Dery puxasse assunto, Serafim Vargas se fazia de desentendido. Quando muito um "Pois é", assoprado entre os dentes. Notando que o patrão não estava para maiores charlas, o Dery tramelou a boca.
Saíra o sol. Já se enxergava bem e o automóvel vencia as léguas da estrada barrenta e resvalosa.
Um bando de quero-queros levantou vôo a poucos metros do veículo, com seu alarido característico de ave vigilante. Um deles, na retaguarda, foi apanhado pelo para-lama do carro e lançado longe entre sangue e penas que voavam.
Foi motivo para destravar-se a língua do então coronel:
- Cagou-se o sentinela dos pampas!
E até o término da viagem nada mais disse. E, claro, nem lhe foi perguntado....
Do livro Rapa de Tacho Vol. 2 - Aparício Silva Rillo.