RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
A tomada da Ponte da Azenha, do pintor Augusto Luiz de Freitas (Instituto de Educação General Flores da Cunha, Porto Alegre/RS)

sábado, 7 de agosto de 2021

O LAÇADOR ME REPRESENTA

 



Reativado na Província de São Pedro o dom da imitação. Esse foi um dos motivos pelos quais o folclorista Paixão Côrtes e mais sete parceiros resolveram criar todo este Movimento em prol do tradicionalismo. Na época (1947) os "enlatados" Norte-americanos determinavam segmentos. A indústria cinematográfica e musical dos Estados Unidos tomaram conta deste garrão brasileiro.

Pois a febre continua.

Depois dos incidentes de queimação do bandeirante Borba Gato, em São Paulo, a "moda" chegou por aqui. Além de voltar a pauta vencida do reestudo do Hino Rio-grandense, alguns arautos estão questionando a amplitude da representatividade da estátua do Laçador.  

Tenho para mim que este monumento não está vinculado somente ao estancieiro ou aos que lutaram na Guerra dos Farrapos. Se estudarem seus trajes, por exemplo, verão que a bombacha não existia na Revolução Farroupilha. 

Quando bombeio o Laçador, que agora será restaurado e parece que não voltará ao seu local de origem, vislumbro a identidade de um povo que vai além do tradicionalismo gaúcho, abrangendo a diversidade cultural de nosso Estado, embora, obrigatoriamente, devamos reconhecer que a tradição e os costumes oriundos do campo são os mais significativos. Olho para o Laçador como um brazão do Rio Grande do Sul em sua plenitude.

Sendo assim, consigo enxergar nesta escultura as colônias africanas, espanholas, italianas, alemãs, polonesas, japonesas, açorianas, e tantas outras que colonizaram esta ponta do Brasil. Ao me fixar neste memorial atávico consigo vislumbrar o peão de fazenda, o explorado, o índio, o negro traído, o soldado sem medalhas.    

Avisto, no Laçador, muito além da música regional gaúcha. Existe, naquele bronze entalhado, gêneros como o maçambique, o samba, a polca, a milonga, a valsa, o axé, o hip hop...

A obra de Antônio Caringi é o retrato de uma filosofia de vida dos sulinos que respeitam e se orgulham de suas raízes e que vão muito além das paredes dos Centros de Tradições Gaúchas. 

Porquanto, senhores inventores da roda, pensem bem ao se manifestar sobre este simbolismo.

O Laçador me representa.