Uma das colunas da Zero
Hora que mais aprecio é o Almanaque Gaúcho, que traz a assinatura do jornalista
Ricardo Chaves.
No dia de ontem, 12 de julho, com a colaboração do também jornalista Paulo Sérgio Arisi, ele trouxe uma bela matéria sobre o histórico Barão do Itararé também conhecido por Apporely, cujo nome verdadeiro era Apparício Brinkerhoff Torely. Ele nasceu em Rio Grande, em 1895, e morreu no Rio de Janeiro em 1971. Desde quando estudou com os jesuítas, em São Leopoldo, criou o moderno humor jornalístico. Além disso criou seu próprio jornal Capim Seco, que foi logo apreendido pelo reitor do colégio. Entrou para o curso de farmácia e depois passou para medicina - abandonado no quarto ano. Se torna jornalista e vai para O Globo no Rio de Janeiro. Depois foi para O Amanhã e, finalmente, lançou A Manhã, aonde ridicularizava os ricos, a classe média e os pobres também. Logo se tornou um ícone do humor político na imprensa. São famosas suas "máximas", que fazem parte da cultura brasileira. Confira algumas delas abaixo:
- "O que se leva dessa vida é a vida que a gente leva".
- "Cada povo tem o governo que merece".
- "Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados".
- "Os loucos fazem castelos no ar, os paranoicos moram dentro deles e os psicólogos cobram o aluguel".
- "Se há um idiota no poder, é porque os que o elegeram estão bem representados".
- "Esse mundo é redondo, mas está ficando
muito chato".
- "As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes. Isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra".
- "Viva sempre
como se fosse o último dia. Um dia você acerta".
- "Devo tanto que
se eu chamar alguém de 'meu bem', o banco toma".
- "Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo".
- "O whisky é uma
cachaça metida a besta".
- "A forca é o
mais desagradável dos instrumentos de corda".
- "Quem não muda caminho é trem".
- "De onde menos
se espera: daí é que não sai nada".
- "O tambor faz
muito barulho, mas é vazio por dentro".
- "Os homens
nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes".
- "Tudo é
relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro
você está".
- "Nunca desista
do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra".
- "Mantenha a cabeça fria para ter ideias frescas".
- "O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o leitor não terá vergonha de votar no seu candidato".
- "O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente, se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro".
- "O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso".
- "O fígado faz muito mal a bebida".
O nobre título de Barão
do Itararé também é uma piada tão inteligente quanto histórica. Uma referência
da Batalha de Itararé que nunca aconteceu. Quando em 1930 as tropas gaúchas de
Getúlio Vargas rumaram para o Rio de Janeiro era esperada uma grande resistência
no município de Itararé, localizado na divisa do Paraná com São Paulo, onde se
travaria a batalha pelo poder no país. Mas não houve resistência, nem título
de Barão para Aporelly. Preso inúmeras vezes durante o Estado Novo, pela
polícia de Filinto Müller, Aporelly foi colega de cela de Graciliano Ramo,
figurando no clássico Memórias do Cárcere. Foi eleito vereador pelo Partido
Comunista Brasileiro em 1945.
O filósofo Leandro Konder escreveu um livro sobre Apparício Torelly e o cita como o gaúcho que merecia fazer parte da Academia Brasileira de Letras, pela graça e inteligência com que brincava com elas.