RUA DOURADA / Léo Ribeiro
Já deu "oh
casa" a brisa de outono
e puxo pro
sono meu poncho cardado
na tarde uma
réstia de sol do verão
reflete no chão
um tom de dourado.
Matizes da serra
de folhas caindo
tapete mais
lindo lhes juro eu não vi
é meu São
Francisco e sua avenida
pedaços de vida
deixei por aqui.
Eu sou como as
folhas, rebroto das quedas,
a chuva me leva
e o vento também
por tempos me
sumo do pago nativo
pra voltar mais vivo no ano que vem.
RUINAS / Florbela Spanca
Se é sempre
Outono o rir das primaveras,
Castelos, um a
um, deixa-os cair...
Que a vida é um
constante derruir
De palácios do
Reino das Quimeras!
E deixa sobre as
ruínas crescer heras.
Deixa-as beijar
as pedras e florir!
Que a vida é um
contínuo destruir
De palácios do
Reino de Quimeras!
Deixa tombar
meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais
sonhos para erguê-los
Mais altos do
que as águias pelo ar!
Sonhos que
tombam! Derrocada louca!
São como os
beijos duma linda boca!
Sonhos!...
Deixa-os tombar... deixa-os tombar...