DE GAITA NOVA
Dedé Cunha, aos 91 anos, parece uma criança com a gaita nova. Sua antiga cordeona foi presenteada ao seu aluno Renato Fagundes e anda retrechando pelos palcos do mundo, como mostra o vídeo acima.
Antônio Dedé Cunha (nome artístico Dedé Cunha) nasceu no então, 5º Distrito de São Borja, atual município de Garruchos, em 25 de janeiro de 1930, Policial Reformado no posto de 2º Sargento da Brigada Militar. Aos cinco anos, seu pai lhe deu uma gaita de boca e logo em seguida arrumou uma gaita de oito baixos com uma vizinha e comadre, senhora Darci Cabeleira, que também tocava gaita, (ela tocava gaita muito bem), da qual Dedé Cunha tem muito orgulho de lembrar, como se fosse uma madrinha de sua arte, pois com ela aprendeu a executar a primeira música de seu repertório, uma rancheira, que nunca deixou de tocar, embora por muitos anos nem o nome soubesse e, quando era perguntado, dizia que era uma Rancheira Sem Nome.
Bem mais tarde ficou
sabendo que a música era de autoria de uma senhora residente em São Luiz
Gonzaga. Descobriu o nome da Rancheira e o ano em que ela foi criada, 1920, dez
anos antes de seu nascimento, quando ouviu, por acaso, o filho de essa senhora
tocar a rancheira, ele ficou sabendo que o nome da música era: “Por Aqui, Por
ali”, com autorização da família gravou-a em seu CD “Abraço Missioneiro”.
Mais tarde, seu pai lhe
comprou uma gaita piano. Nesta época, não existia rádio na campanha, então, se
juntavam os gaiteiros para tocar e criar música, ou seja, aumentar o
repertório. No entendimento de Dedé Cunha, o fato de não ter como escutar
músicas tanto pelo rádio como em toca-discos, essa necessidade proporcionou uma
facilidade na arte de criar música.
Dos gaiteiros, que na
época reuniam-se para tocar gaita, ele cita com muito orgulho o senhor
Francelino Ávila e diz que o mesmo foi sua escola fundamental de sua carreira
artística, mas foi no saudoso Reduzino Malaquias, que encontrou seu paradigma.
Disse-me com entusiasmo: “igual ao Reduzino, pode vir quem vir que não tem”.
Foi meu professor. Um dia, ele esteve em minha casa, almoçou, sesteou e fiquei
esperando ele levantar para pedir que ele tocasse pra mim. Aflito, logo que ele
levantou, “fui correndo preparar um mate, mateando, ele tocou o resto da tarde,
ele gostava de tocar gaita”.
Com o cantor alegre do
Rádio, Pedro Raymundo, quando vinha a São Borja, ia aos programas de Rádio e
tocaram junto um baile no Clube União no Passo e o Pedro com sua gaita
cromática.
Cantou as músicas de
Pedro Raymundo quando tinha a gaita piano, depois voltou pra gaita de botão a
pedido do saudoso Honeide Bertussi, que na época, teria conseguido um contrato
com a gravadora Copacabana para ele e o Tio Bilia, o qual acabou desistindo do
mesmo. Mais tarde, foi pelas mãos do cantor missioneiro Pedro Ortaça, com quem
manteve uma parceria por dezesseis anos, a assinatura do contrato com a
Gravadora Copacabana do seu primeiro LP “Cordeona de Três Ileras”.
Seus parceiros tanto de tocatas como de gravação foram os seguintes: Francelino Ávila, Getúlio Luiz da Silva, (parceiros amadores); Pedro Ortaça acompanhou em gravações de cinco CDs e apresentações por dezesseis anos; Noel Guarani (nas folgas), Mano Lima, em gravações e apresentações, Amigo Souza, João Paulo Molina, em gravações.
Resumidamente, a sua
obra consta de dois LPs gravados pela Copacabana, um gravado pela CITE, dois
CDs gravados pela Usa Discos, um trabalho de resgate para CD, pela Gravadora
EMI, dos dois primeiros LPs. E Várias participações especiais em gravações de
discos de colegas de arte, inclusive, com Pedro Ortaça em cinco CDs. Dedé Cunha
tinha o orgulho de dizer que em suas andanças sempre levou o nome de São Borja,
tanto no Brasil como no exterior.
Dedé Cunha teve
reconhecido seus valores pelo Centro Cultural de São Borja, quando recebeu o
troféu “Roquito”, confeccionado pelo artista plástico Rossini, das mãos do
Presidente do Centro Cultura colega Augusto Weber, em programação comemorativa
ao aniversário da entidade.
Este texto foi extraído da palestra que o escritor Ramão Aguilar proferiu, no aniversário do Centro Cultural de São Borja quando o homenageado foi o nosso grande Dedé Cunha. O Ramão, depois enviou para o site Chasque Pampeano.