Neste dia 14 de
novembro, do ano de 1844, há 176 anos, aconteceu um dos episódios mais nebulosos da Revolução
Farroupilha e que até os dias de hoje geram ferrenhos debates, ou seja, a
Batalha dos Porongos, aonde centenas de negros, desarmados, foram mortos.
Fizemos vários estudos de pesquisas sobre o
assunto que parece interminável e sem solução.
Em 2009 o Piquete Lanceiros Negros
Contemporâneos, de Porto Alegre, tendo a convicção de que seus ancestrais foram traídos em Porongos, tentou participar do desfile temático da semana
farroupilha mostrando em carro alegórico a suposta traição, o que não foi
aceito pelo MTG. E a guerra de versões continua.
Na verdade as lideranças farroupilhas tiveram
posições conflitantes frente à questão servil. De um lado, a chamada “minoria”
– formada por Bento Gonçalves, Domingos José de Almeida, Mariano de Mattos,
Antônio Souza Neto e outros – assumiu uma postura claramente abolicionista. Mas
uma grande maioria era contra a libertação. Tanto é assim que na Constituição
Republicana Farrapa (que nunca foi votada) o artigo sobre a libertação foi
retirado.
E a libertação dos escravos continuava sendo o grande empecilho para as assinaturas de paz.
Luís Alves de Lima e Silva recebeu instruções do império, que temia o avanço de Rosas sobre o território litigante, para propor condições honrosas aos revoltosos, como a anistia dos oficiais e homens, sua incorporação ao exército imperial nos mesmos postos, a escolha do Presidente da Província pela Assembleia Provincial, taxações sobre o charque importado do Prata. Entretanto, uma questão permanecia insolúvel, a dos escravos libertos pela república para servir no exército. Para o império brasileiro, era inaceitável reconhecer a liberdade de escravos dada por uma sedição, embora anistiasse os líderes da mesma revolta.
Um dos fatos probatórios, segundo os defensores da tese de traição, é a carta de Caxias a Moringue, que chefiava os soldados imperiais na Batalha dos Porongos autorizando o ataque e dando a entender que tudo estava de comum acordo com o comandante farrapo, General David Canabarro, e que diz o seguinte: "V. S. suas marchas de maneira que no dia 14, às duas horas da madrugada possa atacar as forças a mando de Canabarro, que estará nesse dia no Serro dos Porongos. […] No conflito poupe o sangue brasileiro o quanto puder, particularmente da gente branca da Província ou índios, pois bem sabe que essa pobre gente ainda nos pode ser útil no futuro. […] Não receia a infantaria inimiga, pois ela há de receber ordem de um ministro de seu general-em-chefe para entregar o cartuchame sob o pretexto de desconfiarem dela. Se Canabarro ou Lucas forem prisioneiros deve dar-lhes escápula de maneira que ninguém possa nem levemente desconfiar […]"
Segundo muitos historiadores esta carta nunca existiu pois ninguém encontra, em arquivo algum, seus originais. Teria sido forjada.
FATOS CONTRA DAVID CANABARRO
1. David Canabarro era considerado o maior
estrategista entre os generais farrapos. Jamais perdeu uma batalha para
Moringue. Por que, naquela noite, facilitou a guarda sabendo de movimento de
tropas inimigas por perto? Além disso, não era abolicionista.
2. A suposta carta de Caxias a Moringue dando
conta de seu acerto com Canabarro.
3. A separação do corpo de Lanceiros Negros
dos demais soldados, bem como o desarme de seus cartuchames (armas de fogo)
deixando-os somente com as armas brancas.
4. Canabarro e seus oficiais imediatos não foram
mortos e, comenta-se que "Papagaia", esposa do médico do regimento (de apelido Papagaio), amante de Canabarro, estava na barraca do general.
5. David Canabarro
sofreu severas críticas de Bento Gonçalves (que já tinha abandonado o conflito)
acusado, inclusive, de traidor.
FATOS PRÓ DAVID
CANABARRO
1. Em novembro de 1844, em meio ás tratativas,
estava em voga uma suspensão de armas, condição fundamental para que os
governos pudessem negociar a paz, levando ao relaxamento da guarda no
acampamento da curva do arroio Porongos. Tal acordo, não foi obedecido por
Moringue.
2. A carta de Caxias a Canabarro jamais foi
encontrada em arquivo ou acervo algum. Presume-se que foi escrita APÓS a
batalha e espalhada cópia na cidade de Piratini com o intuito de denegrir a
imagem do comandante e enfraquece-lo nas tratativas de paz que viriam logo em
seguida.
3. O general Canabarro,
após a Batalha dos Porongos, recuperado, reuniria ainda todo o restante de seu
exército, cerca de 1.000 homens, e atacaria Encruzilhada a 7 de dezembro de
1844, tomando-a e mostrando assim que a sua intenção não era entregar-se.
4. O desarme dos negros
foi efetivado porque "imaginava-se" que estivessem em vias de amotinarem-se ao saberem que sua liberdade
era o único ponto negado nas tratativas de paz.
5 - O desastre dos
Porongos levou Canabarro ao tribunal militar farroupilha. Com a paz o trâmite
continuou na justiça militar do Império. O General Manuel Luís Osório, futuro
comandante das tropas brasileiras na batalha de Tuiuti (durante a Guerra do
Paraguai) fez com que o processo fosse arquivado sem ter sido concluído, em
1866.
Tirem suas conclusões.