Certa feita fizemos um
estudo tentando entender os motivos de termos tão poucos negros participando da
nossa cultura gaúcha sendo que as danças, a musicalidade, a poesia, o
artesanato, fazem parte da sua vivência. Seria por vontade própria? Por falta
de oportunidades? Resquícios de uma sociedade escravocrata? Temos milhares de entidades
tradicionalistas e quantos patrões negros você conhece? E integrantes de
invernadas? Entre músicos, compositores
e poetas, quantos negros?
Proseando com meu amigo
Edegar Barboza, orgulho de sua raça, pessoa estudiosa que labutou no antigo
IGTF, ele me falou: - Neste meio penso não existir racismo ou preconceito com o
negro. O problema não está na cor da pele. O que ocorre é que a nossa cultura é
elitista e, sendo assim, torna-se excludente. Não é um movimento popular como a
cultura nordestina, como Pernambuco, por exemplo, aonde apenas uma sombrinha colorida
leva o povo para as ruas a dançar o frevo. Aqui, quanto custa uma pilcha?
Isto é uma situação
imutável ou existe solução?
Colocamos este tema para
que juntos e sem ranços ideológicos, sem responsabilizarmos este ou aquele, possamos
buscar um meio de minimizar esta situação.
Talvez um envolvimento
maior das entidades tradicionalistas com a sua comunidade (sem envolver
política partidária) seja um caminho. O triste evento da pandemia nos deu uma demonstração que isto é possível pois muitos Piquetes e Centros de Tradições mobilizaram-se na
ajuda a pessoas carentes, ou seja, saíram da sua rotina para vivenciar o meio
social que os cercam. É o velho ditado: Se Maomé não vai a montanha, a montanha
vai a Maomé.
Outra possibilidade
seria levar nosso folclore e tradição aos bancos escolares. Mas isto depende de
preparação de docentes e da boa vontade de administradores públicos. Nas
escolas de Taquara, por iniciativa do meu amigo Marco Aurélio Angeli, este
trabalho teve inicio tendo por tema o tropeirismo. Não sei se ainda continua e
o fundamental deste projeto é a sequência.
As palestras de voluntários são um bom caminho. Contudo, na época,
recebemos crítica dos mais radicais (para variar) nos contrapondo que gauchismo
não se aprende em colégio e sim no lombo dos cavalos. Então tá...
Uma das melhores
maneiras o jovem para os quadros culturais é através da música. Então
perguntamos: Há quanto tempo não se renova os quadros de valores nos festivais
poéticos e musicais? Com raras exceções nossos músicos, intérpretes,
compositores, poetas, são os mesmos de trinta anos atrás. Temos que incentivar
os concursos voltados para o público que está começando.
Um fator que ajudaria
muito neste processo seria uma maior veiculação nos meios de comunicação. E aqui cabe um
adendo. Com todos os reclames que poderiam existir temos que louvar as
iniciativas da RBS com os constantes espaços que concede a tradição,
especialmente por ocasião do mês farroupilhas com suas promoções como o Desafio
Farroupilha. Isto dissemina e populariza nossa cultura. Os outros, não dão vasa para nossa tradição.
O assunto é vasto e
para não esgotá-lo em apenas uma postagem vamos dividir a matéria em alguma partes
a serem postadas na sequência aonde debateremos sugestões para tal situação. Uma
coisa, porém, temos que ter em mente, qual seja a preservação de alguns valores
imutáveis. Não necessitamos nos corromper para tornar a tradição universal como
fez a "sofrência" sertaneja em relação a sua música de raiz.