RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Recuerdos da companheirada e do velho parceiro (Mouro Negro).

domingo, 23 de fevereiro de 2020

DOMINGO - DIA DE ATIRAR UMA "TAVA"


Jogando Osso - Vasco Machado 
 

Suorte ganha, Culo perde! Regulamento e história de um dos Jogos mais antigos da humanidade. Antecedência: A peça Tava é um osso retirado do calcanhar do boi o nome desse osso é astrágalo.
Rodopiando a três metros do chão, ao ser lançada em direção à raia, a TAVA ou JOGO do OSSO desenha uma trajetória pelo tempo e pelo espaço – existem vestígios pelo menos há três séculos a.C., na Ásia, Árabes e persas já o praticavam.
A própria palavra "taba", ou "Tava", teria sua raiz etimológica no vocábulo hebreu "ka-ba". "Lab-el-kab" era denominado o jogo dos árabes. Chegou o jogo à bacia do Prata pelas mãos espanholas pelos idos de 1620, pelos colonizadores da Bacia do Prata por este motivo no Rio Grande do Sul, os termos sofreram grande influencia da língua castelhana em sua terminologia tais como: "userte", "culo", "clavada" e "gueso".
Ademais, a história gaúcha do Jogo do Osso, confunde-se no início, com a história platina e a conquista dos Sete Povos, em 1801. A Região do Prata (Brasil, Uruguai e Argentina) uma espécie de terra de ninguém em permanente disputa de posse entre Espanha e Portugal. Milicianos e aventureiros, mestiços e gaudérios, não conheciam outras fronteiras senão aquelas onde abundavam o boi e o cavalo os costumes eram comuns entre todos e a cor da bandeira trocava conforme os interesses e ambição pessoal - o churrasco, o chimarrão, a doma dos potros, o estilo de montar, o abater e carnear o boi era comum a toda a região pampeana e natural, portanto, que nessa identidade ampla de usos e costumes, os jogos de recreio como a cancha-reta e a Tava fossem comuns a todos nesta nação platina.
Assim o Jogo do Osso, Tava se enraizou na cultura e nos costumes do gaúcho.
     A TAVA
Instrumento com que se pratica o jogo do osso -, também chamada "taba", "osso" ou "garrão", provém do astrálago, osso do jarrete do animal vacum. A norma, para conseguimento de uma boa TAVA é, logo após sua extração do jarrete do animal abatido, enterrá-la por cerca de dois a três meses em terreno nem muito seco, nem muito úmido - processo a que se chama "curar o osso". É comum, igualmente, colocar o astrálago na boca de um formigueiro de campo, provando um processo de inteira limpeza por parte das formigas.
     Posições da TAVA no solo
Após o arremesso a TAVA pode estabilizar-se em pelo menos OITO posições, cada uma delas com seu nome:
SUERTE ou SORTE - parte ganhadora para cima, é quando a parte que possui o enfeite, corte, algumas são torneadas em ouro ou bronze, nas mais simples geralmente a cabeça dos grampos ou rebite são destacados, mas todas tem uma característica a Suerte possui a ponta menor e em formato de “S”. Quando ela cai chapada ao solo chamam também de “Sorte Corrida”.
CULO - parte ganhadora para baixo, é a parte da base da Tava, o lado mais reto e possui uma pequena lamina em uma das pontas que se ressalta na peça que ferra o osso. Algumas Tavas no lado do “Culo” são feitas de ferro escuro e adquirem a cor preta no lado escuro da sorte. Quando ela cai chapada ao solo chamam de “Culo Corrido”, também.
CLAVADA - quando a saliência, uma das pontas ficam cravadas(clavar), enterra-se no chão, qualquer das pontas enterradas deixam a Tava na diagonal. Uma das pontas enterrada deixa a Tava inclinada cravada ao solo.
"SUERTE CLAVADA" quando a parte da Suerte, fica para cima com ela cravada. É a o tiro-rei das canchas do jogo do osso. Tanto faz o ângulo do declive, 90º ou 270º, direita ou esquerda.
CULO CLAVADO - quando a parte do Culo, fica para cima com a Tava cravada. Tanto faz o ângulo do declive, 90º ou 270º, direita ou esquerda.
GUESO ou OSSO - posição que não é nem "suerte" nem "culo", com qualquer dos lados não ferrados para cima.
"31" - "TOURO" ou “OSSO” - variação do gueso com a Tava exatamente na vertical.
Parada – é cada disputa, cada aposta.
     Espécies de arremessos
Os arremessos exigem manejo especial da Tava, com posições de saída e métodos de lançamentos quase inflexíveis. Todo bom jogador precisa conhecer os vários métodos, que podem ser volta-e-meia (Tava dá uma volta e meia no ar), duas-e-meia, duas voltas, três voltas e o carreteiro (lançamento da Tava sem manejo especial, nem preocupação com número de voltas ou giros - dá se esta denominação por lembrar a sua anti-técnica o ato de lançarem os carreteiros um osso de fervido, ou costela já pelada da carne, ao guaipeca que normalmente acompanham-os nas carretadas pelo pago).
     Coimeiro
Pessoa encarregada pelo movimento. É quem vende e troca às fichas, o que cobra a "coima", percentagem fixa sobre as paradas pagas. É a versão acrioulada do "croupier" internacional dos cassinos.
     Dinâmica do jogo
Não há regras escritas sobre o jogo do osso, mas existem normas gerais a serem respeitadas através da tradição oral.
O que é: jogo entre equipes em que o objetivo é marcar a maior pontuação ao arremessar a tava, que é o osso do garrão do boi com chapas de bronze e ferro.
Equipes: 3 ou 4 pessoas (em caso de 4, a menor pontuação é descartada). É possível jogar sozinho e concorrer apenas na pontuação individual.
Onde jogar:
Cancha com o mínimo de 7m e máximo de 9m (entre os picadores). Nela, é marcado o “picador”, um espaço com terra molhada ou argila de no mínimo 2m e máximo 3m de comprimento por 2m de largura em cada raia. Dentro dele deve ser delimitada a bacia (50cm x 50cm).
O jogo começa quando o coimeiro "grita banca", já com a cancha preparada, o par de Tavas e as fichas à sua frente. Geralmente é quem estipula o valor das primeiras paradas: "Duzentos mil réis é a banca! Quem se habilita?”.
Apresenta-se um jogador que compra as fichas, escolhe a Tava de sua preferência e encaminha-se para uma cabeceira. Apresentando-se o oponente que compra fichas e depositam na mão do coimeiro o valor da parada que anuncia "Está copada a parada! Vale jogo!”.
Atira o que levantou a primeira Tava. Imediatamente, da outra cabeceira, o oponente. Teve início o jogo.
O coimeiro só paga a parada para o jogador que somar dois lances positivos:
duas "suertes" do mesmo jogador, contra nenhuma do oponente
uma "suerte" somada a um "culo" do oponente
dois "culos" do oponente contra dois "güesos" do favorecido.
Acontecendo "suerte" contra "suerte", "culo" contra "culo", ocorre empate que é chamado de "senão". Não é raro a parada decidir-se depois de vários tiros, pela ocorrência de "senões" seguidos.
Os atiradores só ganham a parada quando favorecidos por dois lances, mas no "jogo de fora", a questão se decide a cada lance. Joga-se de fora (do jogo, da cancha) a favor ou contra o tiro de quem arremessa.
Ao pagar a parada ao atirador vencedor, o coimeiro já desconta a coima (comissão).
Quando um dos atiradores desiste do jogo, deixando a Tava na cabeceira, qualquer assistente pode "copar a parada", "apertando a Tava", qe é o atao de colocar o pé em cima, ao mesmo que anuncia: "Copei a parada!".
Quando um dos jogadores, durante o jogo, resolve trocar de Tava, o coimeiro anuncia "Cambiou de Tava".
Desviada a Tava de seu curso por qualquer acidente natural, seja uma pedra próxima, uma raiz, galho seco, o tiro não perde validade. São casos que acontecem com alguma frequência nos tiros de "carreteiro", quando a Tava rola sem direção determinada.
Fato interessante, quando a gauchada se reunia para lançar a Tava, uns limpavam a cancha e outros caso não tivesse água, cavavam um buraco e migavam para fazer o barro que acolhe o tiro da Tava. Isso de nada incomodava os participantes.
Sempre se formava um bolicho em algum canto aparecia uma barraca, a bebida para gelar, o gelo guardado em buracos forrados com serragem ou em riachos para gelar. Uns traziam em uma tábua com um couro sobre os ombros como uma bandeja pastel de carreira, massa com carne e ovo frita em banha.
     Trampas
Significa má fé, engodo, artifícios para favorecer uma das partes ou, o mais usual, o próprio coimeiro. Entre as antigas formas citam-se:
CARGAR A TAVA - colocar uma esfera de chumbo ou de ferro no interior do osso que tendia a estabilizar-se no terreno em posição, quase sempre, de "suerte" ou somente de "culo".
BARRO - Colocar sob o "barro", a cerca de meio palmo de profundidade, um pelego com lã para cima, com o que, segundo os aficionados, era quase impossível conseguir-se uma "suerte" clavada. O pelego enterrado conferia ao "barro" certa elasticidade, fazendo a TAVA saltar bem mais que o normal.
     Expressões
Alarula, tia Carula, china e ficha não se adula!
Dito por quem recolhe as fichas, por haver apostado no tiro que deu "suerte". Há conotação machista no refrão
Cospe no buraco
Crença de que cuspindo-se na TAVA do contrário o azar o perseguirá.
É macho, alumiou pra baixo!
Expressão usada por quem jogou contra o tiro e a TAVA se estabiliza na posição perdedora de "culo". O "alumiou para baixo" quer significar que a face mais brilhante da TAVA (a da "sorte", recoberta de bronze) ficou chapada contra o terreno.
Jogador não tem vergonha"
Expressão usada no momento em que os ganhadores levantam do chão as fichas ou o dinheiro apostado na parada - jogador não tem vergonha por entregar-se ao vício do jogo.
Louca também se casa!
Saudação a um lançamento mal feito, especialmente o "carreteiro", que resulte numa "suerte".
Mão fria não bota suerte!
É preciso aquentar o corpo e as mãos para lançar-se a TAVA com habilidade.
Não é só butiá que dá em cacho!
Quando um atirador repete várias "suertes" 

Jogo do Osso - Bendito aquele que estuda porque estudar é importante, embora o ignorante tem sempre um santo que ajuda, por isso não encabulo - que a TAVA que bota CULO é a mesma que bota sorte! Jayme Caetano Braun.

Fonte: Site Portal das Missões