RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Pinheiro Machado, ao centro, sentado, e seu estado maior - Revolução Federalista -

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

A SESSÃO QUE JAMAIS EXISTIU


Sessão Magna no Acampamento Farroupilha 
em homenagem aos Maçons Republicanos da Guerra dos Farrapos.
Fui o Orador fazendo o papel do Coronel Onofre Pires
(não fosse pelo barulho na volta dispensaríamos o microfone)
 
 
Botem tenência neste causo. É muito interessante e, a bem da verdade, precisa ser disseminado.
 
Há uns vinte anos atrás o maçom Dante Bósio, já falecido, foi convidado a ministrar uma palestra na cidade de Camaquã.  Era época da, então, Semana Farroupilha.
 
Nosso Irmão de uma Ordem Maior teve a brilhante ideia (ou sacada, como dizem hoje) de botar no papel o que seria uma provável Sessão Maçônica no ano de 1835, dois dias antes de começar a Revolução Farroupilha.
 
Com muita imaginação se colocou na função de Secretário da fictícia Sessão, incorporando a figura de Domingos José de Almeida, revolucionário nascido em Minas Gerais proprietário de uma charqueadas em Pelotas. Sendo assim redigiu  o conhecido Balaústre 67 (Balaústre - ata de uma Sessão Maçônica) colocando personagens ilustres em funções distintas (Bento Gonçalves, codnome Sucre, era o Venerável Mestre) da Loja Philantropia e Liberdade (esta sim real, primeira loja fundada na Província do RS, no dia 25 de dezembro de 1831).  
 
Pois bueno.
 
A peça de Arquitetura do maçom Dante Bósio fez tanto sucesso que, no dia seguinte, um jornal local resolveu publicar seu trabalho. Com o tempo o escrito viralizou como um documento comprobatório da participação maçônica na Revolução. A maçonaria, realmente, esteve presente mas não desta forma e neste momento. Imaginem se toda a cúpula de comandantes republicanos iriam reunir-se em um só local, nas barbas dos imperiais, dois dias antes do conflito. Somente para os leitores terem uma ideia naquela noite de 18 de setembro de 1835 Antônio de Souza Netto estava na cidade de Rio Grande a mais de 400 km do local citado no Balaústre. E o pior é que nos dias de hoje diversos escritores, historiadores, maçons... acreditam nesta fábula (estou escrevendo um livro sobre o tema a ser lançado no ano que vem).
 
E para provar como é fácil criar algo irreal e bater na tecla até que vire verdade resolvi fazer algo parecido. Só que agora chamam de "Fake News".
 
No dia 16 de setembro de 2019 a Loja Gaúchos Templários (única Loja Temática do Brasil) juntamente com o Piquete Fraternidade Gaúcha realizaram no Acampamento Farroupilha, uma Sessão Maçônica, com a presença do Grão-mestre do Grande Oriente do Rio Grande do Sul, em comemoração a Epopeia Farroupilha. Convidado a ser o Orador desta Sessão resolvi fazer o que Dante Bósio fez a vinte anos atrás, só que nesta função que me coube. 
 
Usando a mesma data e alguns elementos do Balaústre, incorporei o Coronel Onofre Pires (foto) e fiz as minhas Considerações Finais da seguinte forma: 
 

"Vener. Ir. Sucre e demais IIr. que encontram-se a glor. e debaixo dos auspícios do Gr. Arch. do Un. esse Deus que proporcionou a mim, Honofre Pires, a honra de ser o Or. nesta Sessão memorável em que a Loj. Philantropia e Liberdade mostra sua inconformidade  diante do descabido e notório descaso do império para com a nossa província. Esta noite de 18 de setembro de 1835 provavelmente ficará na história para que nossos filhos, netos, bisnetos, tenham ciência da angustia que se abate sobre nós. 
As receitas aqui geradas, frutos de nosso labor, não permanecem nas terras do Sul. São desviadas para províncias protegidas pela monarquia. Nossas estradas são intransitáveis, não temos pontes sobre os rios, as charqueadas andam testavilhando pois mal conseguem pagar os pesados impostos enquanto a carne uruguaia adentra de graça em solo riograndense sob os olhares complacentes dos militares caramurus. Nossos reclames e queixumes se esvaem ante os ouvidos de mercadores da Corte que só preocupa-se em escolher qual orquestra tocará seu próximo sarau aonde o brilho dos paetês dos vestidos se mesclam com as medalhas no peito de oficiais que nunca toparam com um castelhano pela frente.
E nós maçons, homens livres e de bons costumes, herdeiros dos ideais iluministas da Revolução Francesa, nós que marcamos presença em todos os movimentos libertários desde os porões da inconfidência, não vamos assistir a este desmazelo sem reação. Não almejamos separação do Brasil, pátria cujo grito de independência partiu da garganta de um maçom, apenas buscamos, com este ato de rebeldia, ser valorizados como os demais filhos deste solo. Cansamos de ser lembrados apenas nos momentos de pegar em armas e firmar no braço a honra e a defesa deste país nas guerras de fronteira.
A todos os IIr. que nesta noite se manifestaram a favor da tomada de Porto Alegre os cumprimentos deste Orad. Que o Gr. Arch. do Un. derrame sua divina proteção sobre cada soldado republicano no campo de batalha, se isto vier a acontecer, bem como as nossas  famílias que ficarão nos ranchos a cuidar das lavouras e da criação. Que o Tronc. de Ben. aqui arrecadado e, por sugestão do abolicionista Ir. Antônio de Souza Netto, destinado a compra da alforria de um escravo, sirva de exemplo para que se mudem as leis discricionárias desta nova nação chamada Brasil. Que o vinte de setembro, quando entrarmos na capital da província do Rio Grande do Sul tendo a frente dos bravos lanceiros o Ir. Bento Gonçalves da Silva, seja lembrado e festejado como um marco de glória. Que o futuro veja nossa atitude como façanha de um povo que lutou por seus ideias de liberdade, igualdade e humanidade e que todos aqueles que por desventura tombarem nesta empreitada sejam eternizados com orgulho na memória de nossa gente.
Vener. Mest. os trabalhos desta noite histórica transcorreram na forma da justiça e da perfeição e podem ser encerrados."       
 
Só espero que não tomem isto como verdade e que, daqui alguns anos, venham atestar a participação maçônica através deste "documento" que criei. 
   

A PEDIDO



O Balaústre nº 67

Aos 18 dias do mês de setembro de 1835 E.’. V.’. e 5835 V.’. L.’., reunidos em sua sede, sito à Rua da Igreja, nº 67, em lugar Claríssimo, Forte e Terrível aos tiranos, situado abaixo da abóbada celeste do Zenith, aos 30º sul e 5º de latitude da América Brasileira, ao Vale de Porto Alegre, Província de São Pedro do Rio Grande, dependências do Gabinete de Leituras, onde, neste momento, funciona a Loj.’. Maç .’. Philantropia e Liberdade, com o fim de,especificamente, traçarem as metas finais para o início do movimento revolucionário, com que seus integrantes pretendem resgatar os brios, os direitos e a dignidade do povo Riograndense, se reuniram IIr.’. da LOJA.A sessão foi aberta pelo Ven.’. Mestre, Ir.’. Bento Gonçalves da Silva. Registre-se, a bem da verdade, ainda as presenças de nossos IIr.’. José Mariano de Mattos, nosso ex - Ven .’., Ir.’. José Gomes de Vasconcellos Jardim, Ir.’. Pedro Boticário, Ir.’. Vicente da Fontoura, Ir.’. Paulino da Fontoura, Ir.’. Antônio de Souza Neto e deste Ir.’. Domingos José de Almeida, que serviu como Secretário, lavrando o presente Balaústre. Logo de início, o Ven .’. Mestre, depois de tecer breves considerações sobre os motivos da presente reunião, de caráter extraordinário, informou que o nosso movimento revolucionário estava prestes a ser desencadeado. A data escolhida, é dia vinte de setembro do corrente, isto é, depois de amanhã. Nesta data, todos nós, em nome do nosso Rio Grande do Sul, nos levantaremos em luta contra o imperialismo que reina no País. Na ocasião, ficou acertada a tomada da Capital da Província pelas tropas dos IIr.’. Vasconcellos Jardim e Onofre Pires, que deverão se deslocar desde a localidade de Pedras Brancas, quando avisados. Tanto o Ir.’. Vasconcellos Jardim como o Ir.’. Onofre Pires, ao serem informados, responderam que estariam a postos, aguardando o momento para agirem. Também se fez ouvir o nobre Ir.’. Vicente da Fontoura, o qual sugeriu que tomássemos o máximo cuidado, pois que, certamente,Braga, o Presidente da Província, seria avisado do nosso movimento. O Tronco de Beneficência fez a sua circulação e rendeu a medalha cunhada de 421$000, contados pelo Ir.’. Tes.’. Pedro Boticário. Por proposição do Ir.’. José Mariano Mattos, o Tronco de Beneficência foi destinado à compra de uma Carta da Alforria de um escravo de meia idade,no valor de 350$000, proposta aceita por unanimidade. Foi depois realizada uma poderosa Cadeia de União, pela justiça e grandeza da causa, pois em nome do povo Riograndense, lutaríamos pela Liberdade, Igualdade e Humanidade, pedindo a força e proteção do G.’. A.’. D.’. U.’. para todos os IIr.’. e aos seus companheiros, que iriam participar das contendas. Já eram altas horas da madrugada quando os trabalhos foram encerrados, afirmando o Ven.’. Mestre que todos deveriam confiar nas LL .’. do G.’. A.’. D.’. U.’. e depois, como ninguém mais quisesse fazer uso da palavra, foram encerrados nossos trabalhos, do que eu, Ir.’. Domingos José de Almeida, como Secretário, tracei o presente Balaústre, a fim de que nossa História, através dos tempos, possa registrar que um grupo de maçons, homens “livres e de bons costumes”, empenhou-se com o risco da sua própria vida, para restabelecer o reconhecimento dos direitos desta abençoada terra, berço de grandes homens, localizada no extremo sul de nossa querida Pátria. Oriente de Porto Alegre, aos 18 dias do mês de setembro de 1835 da E.’. V.’., 18º dia do sexto mês, Tirsi, da V.’. L.’. do ano de 5835.

Ir .’. Domingos José de Almeida -  Secretário