RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

quinta-feira, 12 de julho de 2018

DOIS GRANDES TRADICIONALISTAS



COMPLETAM 91 ANOS NA DATA DE HOJE

PAIXÃO CÔRTES 
 
 
Nascido a 12 de julho d 1927, em Sant’Ana do Livramento, RS, João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes é a figura mais identificada com as tradições do Rio Grande do Sul. Aliás, a tradição e Paixão se confundem, se mesclam, tem uma só personalidade. Paixão, ao lado de Luis Carlos Barbosa Lessa, é considerado o maior folclorista que este terra de São Pedro viu crescer. É precursor de todo este movimento que visa cultuar nossas raízes, pois fez parte do Piquete da Tradição, também chamado do Grupo dos Oito que, em 1947, de acavalo e pilchados a moda gaúcha, acompanharam os restos mortais do General Farrapo David Canabarro pelas ruas de Porto Alegre e, no mesmo ano, criaram a primeira Ronda Crioula, precursora da Semana Farroupilha de hoje, sendo, esses fatos, a fonte inspiradora de tudo o que se percebe agora em se tratando de tradicionalismo.  
 
Paixão Côrtes tem suas origens ligadas á vida pastoril e iniciou muito cedo suas pesquisas folclóricas. No transcorrer dos tempos se viu obrigado a comprar sua própria aparelhagem (gravador, filmadora, máquina fotográfica, etc..) para registrar a cultura popular gauchesca. Deste trabalho resultou um acervo de milhares de slides, centenas de fitas e vídeos, enfim, um arquivo histórico sobre os usos e costumes do povo gaúcho.
 
Sua bibliografia é riquíssima e de suma importância e vai de posar como modelo para o artista Antônio Caringi esculpir a estátua do Laçador até dezenas de livros e discos que serviram de base para os primeiros passos para as centenas de invernadas artísticas por este mundo afora. Impressionantemente seu trabalho, hoje, é pouco considerado pelos "doutos" da tradição.
 
No ano de 1999, quando éramos proprietários do Jornal Boca da Serra, um periódico mensal voltado para a cultura gaúcha, entrevistamos Paixão Côrtes. Notem que suas respostas servem como uma luva para os dias de hoje, 19 anos após.


Boca da Serra – Depois de Paixão Côrtes, poucos ativistas dedicaram-se a pesquisar nosso folclore. Por que são poucos os interessados nesta área? Não há mais nada o que pesquisar?

Paixão Côrtes – Bem. Eu acho é que as pessoas estão mais preocupadas é em festar do que fundamentar. Estão mais voltados para a recreação e o lazer antes de procurar as raízes que deram origem a esses momentos literários, sociais e culturais. Mas eu acho que ainda há muita coisa para se pesquisar. Existem muitas manifestações que estão aí a espera de pessoas preocupadas em revitalizar essas fontes.

Só como informação: em 1950 eu pesquisei a dança jardineira, em Vacaria. Quarenta e quatro anos depois eu vim encontrá-la aqui, em Santo Antônio da Patrulha. Esperei 44 anos para que realmente reconstituíssem com toda a fidelidade. Seria muito mais fácil se eu não tivesse essa preocupação de veracidade e do respeito ás fontes originais como muita gente, irresponsavelmente, anda fazendo por aí. Minha preocupação é essa: reconstituir fielmente para que as novas gerações sejam portadoras da verdadeira raiz nativa riograndense.

Boca da Serra – Sendo o maior estudioso do assunto, como o senhor vê as danças de invernadas artísticas de hoje?

Paixão Côrtes – O que eu acho é o seguinte: as pessoas, as vezes, tem dificuldade de interpretar o que a gente escreve por que não conhecem português. Então, para essas pessoas, torna-se difícil entender o que a gente escreve traduzindo expressões artísticas, coreógrafas, musicais e de vestuário. Como as pessoas acham mais fácil olhar e acrescentar sua opinião pessoal, o que nós estamos vendo aí é uma verdadeira fantasia de vestuário e uma deturpação de temas originais que eu encontrei. Não quero dizer que as danças que eu investiguei sejam as únicas, mas estas, até que me provem o contrário, são as primitivas, as originais.

Hoje é muito comum a modificação, a estilização, a deturpação em razão da falta de documentos da época.

Boca da Serra – Nosso povo gosta muito de prestar homenagens “in memorian”. Que homenagem o senhor gostaria de receber em vida?

Paixão Côrtes – Eu estou recebendo todas as homenagens de pessoas sinceras que comungam com o espírito que me levou a criar, em 1947 o início do movimento tradicionalista através do Departamento de Comunicações do Colégio Júlio de Castilhos e, consequentemente o 35 CTG, que sou um dos fundadores.

A todo o momento eu me reencontro com as novas gerações e isto é um júbilo que a gente carrega pois já com 72 anos mas perfeitamente lúcido e me sentindo espiritualmente jovem, bastante jovem, porque estou dando muitos cursos e dançando continuadamente. Ensino setenta e tantas danças a cada curso que dou, a cada exposição coreográfica que faço aos mirins, juvenis, adultos e o reencontro com xirus veteranos, são momentos de homenagens perenes.

Isto sempre pensei em minha vida: o rever amigos são momentos de glórias, assim como a glória está na preservação original de nossos estudos, no reconhecimento destes trabalhos por parte das novas gerações e na causa maior que é o bem estar de todos nós.
 
estátua de Paixão Côrtes na entrada de Santana do Livramento

ZENO DIAS CHAVES
 
 
Zeno Dias Chaves nasceu no mesmo dia, mês e ano que Paixão Cortes (12/07/1927), mas não param por ai as coincidências, seguiram a mesma trilha, da manutenção das tradições gaúchas. Zeno e Paixão Cortes muito cedo formaram uma grande amizade, ocorrendo o mesmo em relação a Barbosa Lessa.
 
Aos 89 anos, nascido na Fazenda Cerro Colorado, distrito de Seival, interior do município de Caçapava do Sul, Zeno Dias Chaves é casado com Isaura Ferreira Chaves, com quem teve três filhos, depois vieram os sete netos, e os três bisnetos.
 
Iniciou as atividades em 1949, no primeiro encontro com os ex-colegas Antônio Candido Silva Neto, Luiz Carlos Correa da Silva, Robis Pinto, entre outros. Este encontro ocorreu na esquina das Ruas da Praia com Borges de Medeiros, tendo ali a informação do que Paixão Cortes e Barbosa Lessa estavam fazendo. Deste encontro em diante não parou mais.
 
Em Caçapava do Sul, é sócio fundador do CTG Sentinela dos Cerros, onde foi patrão, diretor cultural e artístico e membro de outras patronagens por várias vezes. Sócio fundador e benemérito do CTG Clareira da Mata, CTG Sentinela do Forte, CTG Heróis do Seival, PL Guarda Velha, PL Os Maragatos, CTG Pampa e Querência e também sócio fundador do CTG Família Nativista. Participou da criação de departamentos tradicionalistas em 11 (onze) colégios do município de Caçapava do Sul, ainda, por várias vezes faz palestra nos colégios sobre história.
 
Em 1977 foi eleito para o Conselho Diretor do MTG, onde permaneceu por 10 anos, intercalando para ser Coordenador Regional da 18ª RT em 1980/1981. De 1987 a 1989 foi Presidente do MTG e Fundação Cultural Gaúcha, neste período, destaca as seguintes criações:
1 - Criação do Departamento Jovem;
2 - Criação da Festa Campeira do Rio Grande do Sul;
3 - Criação de um departamento cultural, atuante;
4 - Agilizou a criação da CBTG, onde foi o 1 ° Vice-Presidente.
 
Criada a CBTG foi escolhido doze patronos, 3 (três) de cada Estado, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul, neste, Zeno Dias Chaves foi escolhido juntamente com José Theodoro Belaguarda de Menezes e Nei Zardo.
 
Em 1990 ficou mais um ano no Conselho Diretor, após foi passou a Conselheiro Vaqueano e Benemérito do MTG. Ainda, neste mesmo ano, foi Patrono da 18ª RT.
 
Recebeu as Comendas:
"Negrinho do Pastoreio" - Governo do Estado do Rio Grande do Sul;
"Medalha Barbosa Lessa" - MTG;
“Bento Gonçalves” e “Charrua” - Caçapava
 
Participou de 33 (trinta e três) dos 64 (sessenta e quatro) Congressos Tradicionalistas Gaúchos realizados.
De 4 Congressos Tradicionalistas Brasileiros:
De 5 Congressos Tradicionalistas Internacionais presidindo, ainda, o 3º
De 20 (vinte) Convenções Tradicionalistas. Participou em 18 cavalgadas, conduzindo a Chama Crioula pelo Rio Grande.
 
Chaves também foi patrono da 10ª Feira do Livro de Caçapava do Sul, em 2000, tem dois livros editados e mais oito a serem publicados. Ministrou cursos sobre História e Tradição para alunos de escolas públicas e continua fazendo palestras. Gravou vários seriados e documentários para a TV Globo, RBS, Canal Futura, TV Pampa, Record e TVE, falando sobre a história do Rio Grande do Sul, seus usos e costumes. Foi criador e hoje presidente a Comissão do Projeto do Rio Camaquã e sua história, que envolve 14 municípios da região.