Poema de: Léo Ribeiro de Souza
Te bombeando, assim, dormindo,
neste quarto decorado,
fico horas ao teu lado
te acariciando e sorrindo.
Meu neto... Que guri lindo!
Passou o tempo soi viejo
foi num upa, num lampejo
mas se a idade me golpeia
meu sangue corre em tuas veias
e ao te olhar me revejo.
Somos de infâncias distintas,
fui um piá interiorano
criado meio haragano
sem adereços, sem tinta.
Trazia presos na cinta
um revolver de madeira
e um punhal de taquareira
que eu mesmo falquejei.
Estas eram minhas "leis"
nas rusgas de brincadeira.
Eu tinha gado de osso,
carro de lomba, tampinhas,
trem de latas de sardinhas
e um bodoque no pescoço.
Um petiço pra ir no poço
buscar água em duas pipas.
Mas que infância bendita,
que vida, que tempo nobre.
Se de patacas foi pobre
de liberdade foi rica.
Hoje a infância das crianças
cruza os céus sem bater asas
porque sem sair das casas
andejam de toda trança.
É que lhes veio esta herança
da internet e seus favores.
O mundo, com suas cores,
se vem pra dentro do lar
no botão de um celular,
ou pelos computadores.
Não que isto esteja errado,
ao contrário, acho bonito,
copiar, colar um escrito,
games, jogos e outros legados.
No dedilhar de um teclado
de tudo se tem noção.
Mas falta o aperto de mão,
o conversar com as pessoas,
o banhar-se nas lagoas,
os pés nus roçando o chão.
Cada infância tem seu tempo,
cada vida a sua história...
Feliz quem traz na memória
belos e ternos momentos.
Não maldigo nem lamento
comparo por comparar...
Outra era, outro lugar,
outras maneiras de afeto,
só te desejo, meu neto,
que não deixes de sonhar.
O que me dói de verdade,
ao se falar de infância,
é a humana ignorância
de quem castra a liberdade.
É a escravidão, a maldade,
a exploração em segredo,
os orfanatos, o medo,
a pobreza por destino,
a turba de pequeninos
que não conhecem um brinquedo.
Infância... tinha que ser
rodeada de coisas boas,
verões de sol e garoa,
sem certezas, só viver.
A infância é um bem querer
que não devia ter fim.
Ao me ver sisudo assim
pergunto as minhas lembranças
aonde anda a criança
que um dia morou em mim?