Hoje vamos prosear sobre um Rio Grande
que viveu em nós mas que, infelizmente, não existe mais. Muitos poderão dizer: -
Mas que assunto arcaico e óbvio! O tempo passa, as coisas mudam, o progresso
bateu em nossas portas. Não podemos e nem devemos viver de saudades.
Mas não é sobre a evolução de bens
materiais que me refiro. O Rio Grande que falo e que viveu em nossas memórias
poderia muito bem estar dentre nós nos dias de hoje.
O pago, o berço, a querência nativa a
que me debruço é aquela do respeito, aonde os filhos davam louvado (pediam a
benção) aos mais velhos. Onde as professoras tinham a licença para executar o
aluno desregrado sem ter que responder na justiça aos pais super-protetores de
hoje.
O Rio Grande antigo, e que cheguei a
pegar uma réstia, é aquele onde a cor dos lenços definia seu posicionamento
político, nem que pelear fosse preciso para defender seus intentos. O de agora,
assim como no resto do País, é do conchavo. Vivemos numa Pátria onde sobressai a corrupção.
Nos áureos tempos deste pampa largo,
ladrão era tratado como ladrão. Apanhava e ia preso. Não se pegava o que não lhe
pertencia e quem o fizesse sabia do seu castigo. As pessoas eram pobres mas
tinham dignidade (e pão na mesa). Nos dias atuais, quem vive encarcerado é o
próprio povo dentro de seus ranchos.
Que tempos buenachos aqueles em que se
cumprimentava de mão em mão, se dava lugar no bonde para um dama sentar-se, se
tocava na aba do chapéu em reverência. Onde a palavra tinha valor. Onde a
estampa e o modo de falar definia a sua origem.
Lugar terrunho, tempos idos, em que a
pornografia era restrita as tascas povoeiras, as casas de luz vermelhas, aos
cabarés, as zonas do meretrício.
Época em que as músicas tinham fundamento,
as gaitas tocavam o balaio, a meia-canha, e serviam de fundo para as serenatas
seguidas de bailongos. Os violões? Estes ponteavam ternas milongas a beira do fogo de
chão.
Talvez por isso essa minha insistência
na preservação de nossos costumes e tradições.
Os leitores poderão argumentar: - Mas
isto tudo não existe mais em lugar nenhum do mundo. Tua prosa é utopia. No que eu contraponho dizendo. - Existe
sim. A salvação está dentro de nós mesmos.
Basta olhar a dedicação, o despojo, o voluntariado, o prazer em fazer o bem de dezenas de pessoas auxiliando nesta desgraça que abateu-se sobre São Francisco de Paula. A todo momento me chegam relatos de amigos, de instituições filantrópicas, de entidades tradicionalistas querendo ajudar e ajudando. Acredito que nem tudo está perdido e que do Rio Grande de antanho ainda existe uma réstia, uma chama, uma esperança.
Basta olhar a dedicação, o despojo, o voluntariado, o prazer em fazer o bem de dezenas de pessoas auxiliando nesta desgraça que abateu-se sobre São Francisco de Paula. A todo momento me chegam relatos de amigos, de instituições filantrópicas, de entidades tradicionalistas querendo ajudar e ajudando. Acredito que nem tudo está perdido e que do Rio Grande de antanho ainda existe uma réstia, uma chama, uma esperança.