RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Pinheiro Machado, ao centro, sentado, e seu estado maior - Revolução Federalista -

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

REPONTANDO DATAS / 19 OUTUBRO


 
O dia 19 de outubro é marcante para mim e para todos os que tem a sorte de privar da amizade deste moço. Neste dia, no ano de 1988, nascia no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, meu filho Lucas Vallim de Souza, o "meu gurizinho", hoje morando na Austrália. Quando ele se bandeou para o outro lado do mundo escrevi este poema:  
 
FILHOS
(Léo Ribeiro)
Meu filho deixou "as casas",
achou por bem ir embora
e no singrar da aurora
com esforço bateu asas.
Na malinha velha e rasa
juntou sua vida singela.
Atravessou a cancela,
olhou, por fim, para trás
e lá se foi meu rapaz...
- Eu vi tudo da janela. 
 
Deixou aqui suas lembranças,
seus amigos, seus cachorros
e já no segundo morro
se sumiu o meu confiança,
o meu guri, minha herança
de sangue, honra e sequência.
Mas levou junto a essência
daquilo que pude dar,
das coisas simples de um lar
e o respeito a querência. 
 
Na verdade havia um tempo
que ele pensava nisto,
camperear algum serviço
que lhe provesse o sustento
pois ninguém vive do vento
soprando nos tarumãs.
Com cheiro de picumã
encroado na camisa
se foi, cruzando divisas,
sem saber do amanhã. 
 
E nós ficamos tapeando
essa dor de um filho ausente,
uma saudade inclemente
a cada dia aumentando...
Hay, nos seus trastes, pairando
recuerdos que calam fundo.
Então, assim, num segundo
lembro o que disse um poeta,
Kallil Gibran, O Profeta,
- Os seus filhos são do mundo! 
 
- São filhos e filhas das ânsias,
vem por vós, mas não de vós.
Não são seus, nem dos avós,
são das ruas, das distâncias.
Amparai a sua infância
sem ocultar os perigos,
sejais parceiro, amigo,
podeis dar o vosso amor
mas não lhes tire o esplendor
de andejar longe do abrigo. 
 
Pode ser... Pode até ser,
mas até meu chimarrão
ando largando de mão
por matear sem ter prazer.
O rancho, no entardecer,
é um manancial de tristeza,
não tem cor a natureza,
ficou mudo o violão
e se agranda a solidão
com um prato a menos na mesa. 
 
E pensar que fiz igual
quando deixei os meus Pais...
Nem reparei nos seus ais
e hoje sofro o mesmo mal.
Assim é a vida, afinal,
tudo que nasce tem fim.
Mas... queria ter dito assim
pro meu eterno menino:
- Que vá trançar teu destino
mas volte, um dia, pra mim!