RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Identidade Visual dos Festejos Farroupilha 2024 / Cintia Matte Ruschel

terça-feira, 30 de setembro de 2014

MAÇAMBIQUES



Quando a Sesmaria da Poesia Gaúcha de Osório deu o tema para sua 19ª Quadra, despertou-me o interesse. MAÇAMBIQUES. Fui pesquisar e quanto mais estudava sobre este festejo típico da cidade de Osório que visa homenagear os santos negros Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, mais eu gostava do assunto. Foi então que resolvi fazer uns versos na métrica Décima Espinela e participar do evento. Para minha sorte, a comissão avaliadora viu algum fundamento em meus versos e, dentre dezenas de concorrentes, acabou escolhendo minha cantoria a qual repasso para os leitores do blog, logo abaixo.

O declamador Neiton Perufo, o tamboreiro Jeferson Lima e o guitarreiro Adão Quevedo defenderam, com muita competência, o poema Maçambiques que acabou levando o prêmio de MELHOR TEMA da 19ª Sesmaria da Poesia Gaúcha de Osório.
MAÇAMBIQUES
- Estou ouvindo os tambores...
... e vem lá do Morro Alto!
Cruzam, no mais, o asfalto
 expressando os seus valores.
São os Reis os portadores
desta ancestral tradição.
Cantos, danças, percussão,
neste festejo que irmana
a pátria-mãe africana
com Osório, meu rincão.     

Vem chamando o vizindário,
entre cortejos e ritos,
pra louvar São Benedito
e a Senhora do Rosário.
Santos Negros, relicários,
do Maracatu e Congado
Dois nomes que são sagrados
nos ranchos de pau-a-pique
que viraram Maçambique
na parte Norte do Estado.

Cada grupo de cantores
tem vinte e quatro integrantes
e a Vara de Dançantes
é dividida por cores
com dois Reis e os seguidores,
guardiões da Padroeira.
A Côrte Maçambiqueira
tem também três Tamboreiros,
os Soldados e o Festeiro,
o Alferes e a Bandeira.

É o passado e o presente
unidos na devoção
peleando contra a exclusão  
destes Afro-descendentes.
São negros remanescentes
dos  Quilombos nas florestas
que vão mantendo o que resta
deste costume qu’encanta,   
pés descalços, roupas brancas,
dançando pagam promessas.

Vem na brisa do oceano
e se esparrama na praça
astrais de louvor e graça
em outubro de cada ano.
No mastro o sagrado pano
vai tremulando em pendão.
Como é linda a evocação
que pelas ruas s’espalha
junto ao som das Maçacalhas,
geração, pós geração.

Mas falta mais atenção,
mais ajuda, mais apoio...
A velha Conceição do Arroio
não pode deixar na mão
quem mantém a devoção
de forma tão verdadeira.
Esta festa é uma bandeira
contra a discriminação social.
É... Patrimônio Imaterial
da Cultura Brasileira!

Mando um recado nas rimas
de bons frutos, bons presságios,
a vila de Caravággio
por sustentarem esta sina.
Ao Antônio, a Severina,
Rei e Rainha, a nobreza,
que tenham “doces nas mesas”,
que não percam seus primores,
que no rufar dos tambores
ecoe força e beleza.

Que na festa que permeia,
o povo traga sua fé,
de Capão, de Maquiné,
Itati, Terra de Areia...
Que as almas fiquem cheias
de amor e contentamento.
Maçambique é um documento
da história desta cidade,
Maçambique é a identidade
da Terra de Todos os Ventos. 

Foi uma honra receber o troféu das mãos do Poeta Homenageado da 
19ª Sesmaria da Poesia Gaúcha, Vaine Darde