Por: Fabrício Vargas
Caro amigo Léo Ribeiro, como leitor assíduo do Blog, tomei a liberdade de dar a minha opinião sobre a matéria que hoje tu postaste. Como admirador da arte gaúcha e da mais fina interpretação que identifica este povo como sendo diferente do resto do pais, me entristeço juntamente contigo e outros tantos sobre o fato de “Xiruzinho” se tornar “João Darlan”, mesmo que este seja seu nome de batismo.
No cenário em que se encontra a
musicalidade do nosso Sul, vejo que isto não será um fato isolado e nunca foi.
A pouco tempo atrás, Leonardo Paim, hoje “Léo Paim”, intérprete que despontava
como um dos grandes dos festivais do Rio Grande e que até teve duas obras
registradas em CD e que até hoje é muito bem tocada aqui pela região do centro
do estado, desabafou em uma conversa pela qual eu o entrevistei pela Rádio
Nativa FM “Se eu cantasse só por amor eu cantaria pra sempre a música nativa,
mas preciso me sustentar”. No mesmo tom de Xiruzinho, mas com bem menos bagagem
artística tomou essa decisão de cantar o tal “Sertanejo universitário” e agora
não tem mais lugar na agenda e isso não só nos finais de semana, mas sim quase
todos os dias e não somente em Santa Maria e região.
Este é só mais um caso, mas não para
por ai e veremos outros mais logo em seguida. A dupla de irmãos, os amigos Arisson
e Emerson Martins, ainda não saíram de todo nativismo, mas ensaiaram uma boa “performance”
como dupla deste ritmo que hoje anda embalando o Brasil inteiro. Até CD já foi
produzido e fizeram muitos shows no Brasil inteiro depois do sucesso do “Eu e o
João de Barro”, música deles com o amigo Paulo Ricardo Costa que venceu a Viola
de todos os cantos em 2010. Hoje eles fazem muito mais show de sertanejo do que
cantam em festival. Por que? Precisam se manter pela música e não tiro nunca as
razões de cada profissional que faz isso, pelo contrário apoio mesmo que triste,
assim como você.
Estes nãos serão os únicos casos
e se pararmos para lembrar, encontraremos muitos outros. Pois a música do Rio
Grande em si, tem espaço sim, mas para os grandes ou para aqueles que podem
investir um pouco mais no seu talento. E nós, gaúchos, temos talento de sobra e
arrisco a dizer, depois de São Paulo e acho que Rio de Janeiro, o Rio Grande do
Sul é o estado que mais faz música neste país, pois é só analisar a quantia de
músicas que são enviadas a cada festival e as sacolas de obras que ainda estão
guardadas por aí, mas esta é outra história.
Vamos
parar dois minutos e imaginar como viveriam hoje se fossem só poetas e
cantores, Aparício Silva Rillo, Jayme Caetano Braun, Cenair Maicá, César
Passarinho (ainda apostava nele) e Noel Guarani, por exemplo?
Enquanto não mudar a mentalidade
do povo gaúcho como um todo e os profissionais não começarem a valorizar o
trabalho de maneira séria e verdadeira. Seremos eternamente “mendigadores” de nossa
arte. Esqueçamos um pouco, de só pensar em passar música na triagem pra ganhar
alguns pilas de ajuda de custo.
Me alonguei um pouco amigo Léo,
mas creio que o nosso Rio Grande precisa mudar para que não percamos mais
talentos admiráveis como Xiruzinho e outros tantos que mesmo de guaiaca quase
vazia teimam em manter viva a cultura regional.
Fraterno Abraço,
Fabricio Vargas