Vejam que bela matéria nos proporciona Jeandro Garcia (Cultura Gaúcha) com a gaiteira Mary Terezinha que, por longos anos, acompanhou o cantor regionalista Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha.
Uma palavra para definir a Mari Terezinha dos dias de hoje,
“doçura”, e foi assim que fomos recebidos em um culto evangélico dentro de um
dos nossos CTGs (Sinuelo da Amizade). Sabíamos que ela estaria lá, e tivemos
muito interesse em conhecê-la, como já pesquisei muito sobre Teixeirinha e até
mesmo li o livro “Gaita Nua” onde a Mari conta tudo sobre sua vida relatando
assuntos bem pesados da sua relação com Teixeirinha, seria uma bela
oportunidade. Mas confesso que esperava 5% do carinho que teve conosco.
Geralmente artistas são rápidos e dizem o mesmo texto “Que bom que gostas de
mim”, sorriem para foto e “próximo!”.
Claro que hoje ela não é mais uma artista tradicionalista,
canta e toca musica Gospel, mas ainda para nós é artista tradicionalista,
escutamos suas musicas, estudamos sua carreira, além da grande contribuição
para a nossa cultura musical e cinematográfica.
Pois bem, nos dirigimos onde ela estava, e na cozinha do CTG
aguardava sentada em uma cadeira, eu muito ansioso como nunca estive perto de
alguém, gaguejei algumas palavras pedindo autografo em um disco e um livro de
desafios Teixeirinha x Mari, com a sua foto ainda muito jovem(linda), e então
mencionei que já havia lido seu livro, e ela sorri e me diz “tudo que existe
ali é verdade, e falta muita coisa ainda, pode me perguntar o que quiseres”,
pronto foi a deixa para quase 1 hora de conversa, assuntos fortes e muita
risada... muito simpática, atenciosa e aberta, naquele momento vi que todas
aquelas horas de pesquisa estavam sendo retribuídas em dobro, minha prenda
estava que era só sorrisos.
Algumas curiosidades:
• Mari continua bonita, para uma senhora de 60 e poucos
anos, muito desenvolta, forte de opiniões, e grande domínio da gaita, dançando
como um gaiteiro dos mais faceiros dos bailes de hoje.
• Conversa abertamente sobre Teixeirinha, mas vejo que ficou
a vontade conosco pois conhecemos bem a sua história, não precisou nos
esclarecer, apenas debater sobre estes assuntos.
• Não toca mais musica gaúcha tradicionalista, nem em casa,
pois trás más lembranças, mas se contratada faz show em CTG tocando apenas as
suas músicas (antes da fase gospel).
• Nos disse que Gildo de Freitas e Teixeirinha não se davam,
certa vez em um cartório em Viamão, Gildo foi até lá para matar Teixeirinha e
eles tiveram que sair pelos fundos.
Muitos me dizem que isso era só pra vender discos, mas como
já conversei com tanta gente, acredito que eles tiveram fases de brigas e
amizades, sendo alternadas varias vezes. Existe uma gravação de uma trova entre
os dois em 1979, então como eram brigados? Talvez esse fato do cartório seja
anterior.
• Mari gostava muito de Gildo e José Mendes, e quando José
Mendes morreu Teixeirinha chegou a mencionar que seria menos um para
concorrência, e não é problema em publicar isso aqui, pois tem no seu livro.
Após isso ela chorou abraçada a gaita pela perda do cantor e raiva pela atitude
do parceiro.
• Ainda se sente muito magoada pelo tratamento da imprensa
na época, pois ficou marcada como quem matou Teixeirinha (meu pai sempre dizia
isso), e volta e meia precisa explicar que Teixeirinha tinha uma esposa, e não
era ela! E também dizer que Teixeirinha morreu quase 3 anos depois da separação
da dupla, e não foi de amor! Foi de câncer!
Após o longo e carinhoso papo ela subiu ao palco, fez o seu
relato de fé, sem extremismo, segundo ela “foi falar de fé e não religião”,
confesso que o culto inteiro seguiu esta linha, 80% sendo apenas apresentação
de cantores. Depois de cantar e tocar 6 músicas apontou para nós, e disse que
queria agradecer pelo carinho que foi recebida, e que estava muito feliz pois
estávamos junto dela dando muito amor, também que seria um prazer tocar para
nós algum dia, gostando muito quando dançam suas musicas(ela tem 18 discos
gravados), comentou mais algumas coisas sobre o nosso encontro e nos deixou até
emocionados com tanto carinho, afinal queríamos apenas 1 foto e autografo.
Na saída nos beijou (algo que evangélico geralmente não faz)
e nos deu um longo abraço apertado, agradecendo por tudo... Na verdade nós que
agradecemos por essa história que vai ficar pra sempre, pois Mari e Teixeirinha
serão lembrados eternamente em nosso estado.
Jeandro Garcia / Cultura Gaúcha