Joaquim Moncks, Léo Ribeiro e Jadir Oliveira, jurados da Sesmaria
Crédito: Jairo Reis
Ontem, de madrugada, terminei mais um trabalho como
avaliador de festival. A Sesmaria da Poesia Gaúcha de Osório. No retorno a
Porto Alegre, após o evento, a auto-estrada quase que deserta, me convidou a
refletir: O que me leva a esta difícil tarefa de “julgar”? Quem sou eu para avaliar,
opinar, decidir, sobre o trabalho de um irmão de arte, até porque a arte é una,
sem sinônimos, INCOMPARÁVEL?! Minha obra como poeta é maior ou melhor do que a
dos vates que levaram seu poema ao palco? Eu mesmo respondo que não.
Então, o que me conduz a esta missão desconfortável de ser
um crítico do que não merece crítica pois poesia e música devem ser, isto sim,
eternamente louváveis? Seria pela “ajuda
de custo”? Claro que não, pois não vivo disto, não sou profissional desta
seara, e canso de ser avaliador, em colégios, em CTGs, onde não ganho nada
(monetariamente falando), ao contrário, tenho despesas e arco com elas! Seria
por vaidade pessoal? Claro que não, pois o avaliador, na maioria das vezes, sai
chamuscado desta peleia visto que contenta a um e descontenta a vinte.
Cada concorrente, poeta, declamador, amadrinhador, músico,
compositor, tem convicção de que seu trabalho é um dos melhores, que saiu-se
satisfatoriamente em sua apresentação, mas quando vem o resultado final, das mãos
dos avaliadores, a decisão é frustrante.
Só no festival Ronco do Bugio, em suas vinte edições, fui
oito vezes jurado, mas chego a conclusão de que devo ser um louco para sair do meu
rancho, deixar minha gente, para dizer um não a verdadeiras legendas como
Wilson Araújo, Patrocínio Vaz Ávila, Elton Saldanha, João de Almeida Neto, e
tantos outros que se mesclam com a própria história poética e musical do Rio
Grande.
Nas épocas áureas dos festivais no Rio Grande do Sul, com
mais de cem eventos anuais, era forte o comentário de “grupos” que trocavam de função, ou seja, num festival
uns julgavam e davam prêmios a sua “turma”, em outro festival, se invertiam as
funções... Sinceramente, onde eu trabalhei, nunca vi disto, mas devo confessar
que já convivi com avaliadores radicais, que queriam fazer valer, na marra, a
sua opinião. Mas são poucos e não se criam...
O que causa grande inquietação aos jurados é quando o grande
público “decide” por uma obra porque, aparentemente, “matou-a-pau”. A
concorrente torna-se popular ao gosto do público, só que este (público) não
examina o trabalho tecnicamente. Por vezes o intérprete erra ou esquece a
letra mas o povo não nota. A grosso modo acha que foi bem. Não analisa se o
poema ou a canção recebeu interpretação adequada ou, vice-versa, se a poesia esteve a altura da boa interpretação. O nervosismo e a insegurança são duas das causas
principais pelo conjunto da obra não atingir o ápice. Assim vai...
E como eu procedo nesta tarefa, por vezes ingrata, de julgar? Simples, muito simples. Sem impor, tento transmitir aos meus parceiros de mesa o
que a minha consciência me fala. Em resumo posso pecar por infelicidade, jamais por intencionalidade.
Mesmo assim, estamos constantemente correndo riscos. Exemplo
recente: Saí da Sesmaria tranqüilo pelo trabalho realizado e quando entrei no
carro perguntei a Miriam (minha esposa): - O que achou do resultado? – Discordo
em muitos pontos – respondeu-me ela!
O que fazer....? Gosto é gosto e deve ser respeitado.