Quando a gente é novo, anda sempre apressado. Não tem tempo de parar e dar o devido valor ás pequenas-grandes coisas da vida (acho que hoje estou meio filósofo...).
Digo isto porque na atualidade me lamento pelas oportunidades que tive de, em minha convivência juvenil, ouvir verdadeiras relíquias, pérolas retransmitidas pelos mais velhos e não resguardá-las em minha memória. Foi assim com meus avós e outros amigos, sábios deste Rio Grande antigo, que me contavam causos, histórias vividas e que entravam por um ouvido e... saiam pelo outro.
Hoje, a coisa é diferente. Me paro horas ouvindo e reculutando passagens que os mais antigos me contam.
Estou tocando nesta prosa porque terça-feira a noite subi a serra para dar uma mãozinha na Sessão Maçônica Farrapa de minha Loja Mãe (Jonattas Abbot), em São Francisco de Paula. Levei junto comigo nesta empleitada uma legenda viva do Rio Grande. Nada mais, nada menos, do que Paulinho Pires, o grande artista do serrote (que também toca violão, gaita-de-boca, gaita-de-botão, gaita piano..).
Sem sentir, e talvez por um desejo íntimo, não pisei muito fundo no acelerador da condução e um trajeto que normalmente faço em 1h 40 minutos, levei quase três horas. Tudo porque o Paulinho foi contando causos de sua boêmia mocidade em Porto Alegre. Fiquei sabendo de sua vida desde que ele entrou no quartel no Batalhão Logístico de Reconhecimento até conhecer o mundo todo ao tocar para o grupo de danças da saudosa VARIG. Suas amizades, de Lupicínio Rodrigues a Barbosa Lessa, suas aventuras amorosas, suas serenatas... Cheguei em São Chico com dor na cabeça de tanto que ri.
Na volta foi diferente, pois o Paulinho sentou no carro e dormiu de lá até aqui. Vez em quando dava uma assobiada para eu pensar que ele estava acordado. Mas aí, entre risadas, eu já havia sugado tudo o que pude desta criatura ímpar, de 78 anos bem vividos, chamada PAULINHO PIRES.