RETRATO DA SEMANA

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Pinheiro Machado, ao centro, sentado, e seu estado maior - Revolução Federalista -

sábado, 25 de fevereiro de 2012

OS BENEFÍCIOS DO CHÁ DE ERVA MATE

Não sei se os amigos leitores do blog assistiram ao Globo Repórter (um dos melhores programas jornalísitcos da TV), da rede Globo (a mesma do BBB...), ontem a noite, sexta-feira.

O referido programa foi, basicamente, focado nos benefícios que o chá de erva-mate possui, principalmente contra os males do colesterol. Foi mostrado, inclusive, uma gauchada catarinense em uma roda de chimarrão. Quem não viu, que procure nos sites da emissora e veja. Foi muito bom e ilustrativo com diversos trabalhos de pesquisas científicas atestando a importância da erva-mate.

Pensando no programa de ontem, postamos hoje um pouco da história desta erva que compõe um dos símbolos da tradição do gaúcho, o chimarrão. É brazão de hospitalidade em qualquer rancho gaúcho, por mais simples que seja, a "cara alegre e erva buena".

CHIMARRÃO

Quando o tempo desenha com sua pena o ano de 1554, o General Irala, chegou a região de Guairá, situada a oeste do atual território do Paraná e encontrou lá uma tribo de guaranis pacíficos e hospitaleiros. Um dos hábitos destes indígenas lhe despertou muita curiosidade. Tratava-se do uso generalizado de uma bebida feita de folhas picotadas, tomadas dentro de um porongo, por intermédio de um canudo de taquara. Ao indagar sobre a origem daquela bebida, respondeu os índios tratar-se da "caá-i", um hábito que teria sido inicialmente de uso exclusivo dos pajés em suas práticas de magia, mas que foi estendido aos outros guerreiros, em virtude de seus diversos benefícios.

E, mesmo depois do término das guerras, o seu uso continuou, pois seus efeitos estimulantes fortaleciam tanto o corpo quanto a alma.

"Caá" era o nome da ervateira e a "caá-i" era bebida do mate. Esta bebida nativa foi um estrondoso sucesso entre os soldados de Irala. E, quando retornaram a Assunção, levaram um carregamento da erva para apresentá-la aos amigos.
Esta bebida impressionou tanto os espanhóis por sua natureza curativa e revitalizante, que despertou o interesse dos comerciantes de Assunção que visavam antes de tudo, o lucro financeiro. Foi uma correria doida até os ervais e em pouco tempo, a cidade duplicou de tamanho e sua população de riqueza. Entretanto, tal consumo foi condenado pela Igreja Católica, em plena Inquisição, em função dos índios lhe atribuírem poderes mágicos que apontavam sua origem à deuses pagãos. Mas tal proibição, acompanhada de multas, prisão e queima da erva, não impediu que o hábito se disseminasse.

O MATE NO RIO GRANDE DO SUL

Se os soldados de Irala estivessem se dirigido para o atual Rio Grande do Sul e não para Guairá, aqui, teria ocorrido a descoberta do uso do mate pelos europeus.

Um expressivo número de tribos guarani viva ao longo dos Rios Ijuí, Jacuí e Camaquã. Para colheita da erva mate, eram empreendidas expedições à serraria vizinha da Lagoa dos Patos, no vale do Rio Pardo e nos descampados do Planalto.

Acredita-se que os carijós, no litoral, assim como os guenoas da Campanha, também fossem apreciadores de um gostoso mate, mas inexistindo nestas redondezas, bosques de "caá", este hábito somente poderia ser mantido por intercâmbio com os guaranis.

"Sem esta erva", testemunhou o PE Nusdorffer, no século XVII, "o índio não pode viver".

Enquanto os índios do Guairá empreendiam suas viagens aos ervais subindo o Paraná em grandes embarcações, os ervateiros das Missões rio-grandenses iam montados a cavalo, levando uma boa provisão da erva, além de quinhentas a mil reses, para seu sustento naquela viagem de cento e tantas léguas. E, depois de cumprida as tarefas retornavam eles, acompanhados por toda a população, procuravam a Igreja para agradecer o sucesso do empreendimento.

Os ervais missioneiros faziam parte do Tupambae, um campo comum, cujos produtos adviriam em proveito da coletividade.

"Cada dia, depois de ouvirem a missa e igualmente depois do rosário que se reza pela tarde, os que acudiram ao templo vão receber o mate, uma onça e meia pelo menos para cada pessoa, o qual lhe dá o mordomo em presença da cura e do corregedor. Aos que estão ocupados em serviço público, seja em ofícios, seja fora no campo, envia-lhes a quantidade de mate que parece proporcionada ao número de trabalhadores. Igualmente é preciso prover de erva aos que cuidam do gado nas estâncias e nas pastagens; e se alguns índios são enviados de viagem, não há de faltar nunca este artigo em suas provisões". Pe Carlos Teschauer

Quando do Tratado de Madri de 1750 e da sua subseqüente Guerra Guaranítica, o uso do mate já tinha se tornado costume entre os dragões e demais soldados dos quartéis do Rio Grande e Rio Pardo.

Depois da Guerra Guaranítica efetuou-se a expulsão da Companhia de Jesus dos territórios europeus e coloniais de Portugal e da Espanha. Desde modo, os Trinta Povos das Missões de Guaranis perderam a unidade, subdividindo-se em quatro grandes províncias. Cada povo passou a ser gerido por uma espécie de administração mista, a cargo de um vigário e de um comandante militar.

Por volta de 1820 o hábito do chimarrão já se enraizara definitivamente nas cidades e nos campos da Capitania.

O grande papel que desempenhou a erva-mate na sociedade gaúcha pode ser avaliado por sua presença dentre os símbolos nacionais farroupilhas. No brasão da República já encontrávamos ramos de erva-mate contornando o barrete frígio e perdura até hoje no brazão e na bandeira do Estado do Rio Grande do Sul.