Cléber Mércio
Nem bem desponta a barra da alvorada,
bordando de prateado os pinheirais,
bandos de gralhas gritam nas copadas,
o gado inquieto muge nos currais!
despertam carreteiros nas pousadas;
onde - talvez - não pousem nunca mais...
Eu também fui menino carreteiro
vocês não acreditam pois lhes juro!
de sol a sol perdido nos sendeiros,
muitas vezes tomando mate puro
tendo de dia...a luz do mundo inteiro
tendo de noite...a imensidão do escuro!
De pés no chão, bombachas remendadas,
facão no cinto, porongo na mão,
a palha, o fumo, chaleira queimada
o charque, a trempe, brasas de tição;
solução o carreteiro, uma toada;
gemendo de saudade o coração.
Teu vulto, carreteiro, é conhecido,
teu nome, carreteiro é venerado
teus causos carreteiro! repetidos,
na glorificação do teu passado;
em torno do braseiro, reunidos,
rodeio que o minuano tem parado.
Carreteiro Herói da minha terra!
Bandeirante do pampa estremecido,
abrindo estradas nos campos e serras,
tornaste o teu Rio Grande conhecido
Trabalhador na paz, fiel na guerra,
este rincão te canta agradecido!
Noites de inverno...a imensidão deitada
o gado inquieto muge nos currais...
geme o urutau sentando nas ramadas,
e soluça a juriti nos taquarais!
Despertam carreteiros nas pousadas,
onde talvez - não pousem nunca mais!!