No dia 02 de agosto, do ano de 1908, o capitão Santiago Dantas deu o golpe final nos Muckers, no morro de Ferrabraz, hoje Sapiranga.
Na época do conflito dos muckers, Sapiranga chamava-se localidade do "Padre Eterno". Quase não havia falantes de português na região, sendo o idioma corrente o chamado baixo-alemão ou Plattdeutsch, sendo também muito difundido o dialeto da província alemã do Hunsrück.
Um pequeno núcleo, formado por comerciantes e "pré-industriais" do calçado formava a classe economicamente dominante no município. O campesinato, dedicado à policultura, inicialmente de subsistência, formava, nos tempos primevos da formação da cidade - bem como de toda região - a massa dos imigrantes. Sua vida era duríssima, como mesmo narram os antigos moradores da região.
As promessas do Império Brasileiro, particularmente da corte de Dom Pedro II, não tinham sido cumpridas. Os colonos haviam sido jogados - pelo menos este era seu ponto de vista - numa terra inóspita; nenhuma ajuda do governo lhes foi dada. Ademais, o desbravamento do Vale do Sinos teve que ser feito A Ferro e a Fogo pelos colonos, como narra Josué Guimarães em seu famoso romance.
Por outro lado, havia um forte sentimento de "traição" entre a massa dos colonos em relação particularmente àqueles que prosperaram economicamente. Uma parcela importante dos primeiros imigrantes alemães, que chegaram ao Brasil em 1824, instalando-se em São Leopoldo e depois na capital, Porto Alegre, acabaram formando uma "elite" teuto-brasileira. Era uma comunidade que produzia até uma imprensa própria, em idioma alemão, que formou intelectuais do gabarito de Carlos von Koseritz, o qual escreveu vários artigos sobre a guerra no Deutsche Zeitung.
A "elite" sapiranguense - se é que pode dizer que havia uma "elite" no Padre Eterno - era ligada às igrejas históricas, basicamente metade católica-romana, e a outra parte protestante, pertencente ao que vem a ser hoje a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. É do caldo de conflitos entre os camponeses pobres e empobrecidos e as elites que nascem as condições da explosão do movimento dos "muckers".
Messianismo
A jovem Jacobina, desde criança entrava em momentos de transe e conseguia diagnosticar doenças, apresentava-se como a própria encarnação de Cristo, prometendo estabelecer a Cidade de Deus.
Após o seu casamento, a partir de 1866, o movimento começou a ganhar força e a organizar-se. Seguindo princípios morais muito restritos, rapidamente este grupo entrou em conflito com o resto da comunidade. Os muckers, assim designados pelos seus opositores que os acusavam de falsidade, entraram em choque aberto com os spotters, ou debochados, quando decidiram retirar as suas crianças das escolas comunitárias. Os atritos levaram à prisão dos líderes do movimento pela polícia local e uma libertação logo a seguir, a pedido do presidente da Província do Rio Grande do Sul.
Os muckers, cada vez mais crentes no caráter messiânico de Jacobina, passaram a atacar aqueles que se opunham ao movimento: incendiaram a casa de Martinho Kassel, dissidente do movimento, levando à morte da sua esposa e filhos; pelo mesmo meio, mataram os filhos de Carlos Brenner, comerciante; e executaram, por fim, um tio de João Maurer, que se opunha abertamente ao movimento.
Repressão
Acirrados pela profecia de que quem acreditasse em Jacobina seria imune à morte, os muckers entram em confronto com forças policiais, deficientemente comandadas pelo coronel Genuíno Olímpio Sampaio, a 28 de junho de 1874. A crença dos revoltosos ficou ainda mais acesa perante a derrota que infligiram aos militares: 39 baixas, contra 6 entre os muckers.
A 18 de julho o mesmo coronel cercou a casa onde o grupo religioso se mantinha, matando dezesseis muckers que aceitaram a sua sorte, esperando a sua breve ressurreição. Jacobina conseguiu, contudo, fugir com alguns seguidores, um dos quais alvejou Genuíno Sampaio, que faleceu no dia seguinte em consequência da hemorragia.
Houve outro ataque, inconclusivo, a 21 de junho. A 2 de agosto, Carlos Luppa, um dissidente mucker traiu o grupo, levando os soldados até ao morro Ferrabrás onde Jacobina se escondia com o restante de seus seguidores. Assim que foram descobertos, foram chacinados.
Sobreviveram alguns muckers que tiveram de aguentar a perseguição da justiça por oito anos e, depois, a mal-querença do resto da população. Alguns estiveram, posteriormente, envolvidos na Guerra dos Canudos.
Na época do conflito dos muckers, Sapiranga chamava-se localidade do "Padre Eterno". Quase não havia falantes de português na região, sendo o idioma corrente o chamado baixo-alemão ou Plattdeutsch, sendo também muito difundido o dialeto da província alemã do Hunsrück.
Um pequeno núcleo, formado por comerciantes e "pré-industriais" do calçado formava a classe economicamente dominante no município. O campesinato, dedicado à policultura, inicialmente de subsistência, formava, nos tempos primevos da formação da cidade - bem como de toda região - a massa dos imigrantes. Sua vida era duríssima, como mesmo narram os antigos moradores da região.
As promessas do Império Brasileiro, particularmente da corte de Dom Pedro II, não tinham sido cumpridas. Os colonos haviam sido jogados - pelo menos este era seu ponto de vista - numa terra inóspita; nenhuma ajuda do governo lhes foi dada. Ademais, o desbravamento do Vale do Sinos teve que ser feito A Ferro e a Fogo pelos colonos, como narra Josué Guimarães em seu famoso romance.
Por outro lado, havia um forte sentimento de "traição" entre a massa dos colonos em relação particularmente àqueles que prosperaram economicamente. Uma parcela importante dos primeiros imigrantes alemães, que chegaram ao Brasil em 1824, instalando-se em São Leopoldo e depois na capital, Porto Alegre, acabaram formando uma "elite" teuto-brasileira. Era uma comunidade que produzia até uma imprensa própria, em idioma alemão, que formou intelectuais do gabarito de Carlos von Koseritz, o qual escreveu vários artigos sobre a guerra no Deutsche Zeitung.
A "elite" sapiranguense - se é que pode dizer que havia uma "elite" no Padre Eterno - era ligada às igrejas históricas, basicamente metade católica-romana, e a outra parte protestante, pertencente ao que vem a ser hoje a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. É do caldo de conflitos entre os camponeses pobres e empobrecidos e as elites que nascem as condições da explosão do movimento dos "muckers".
Messianismo
A jovem Jacobina, desde criança entrava em momentos de transe e conseguia diagnosticar doenças, apresentava-se como a própria encarnação de Cristo, prometendo estabelecer a Cidade de Deus.
Após o seu casamento, a partir de 1866, o movimento começou a ganhar força e a organizar-se. Seguindo princípios morais muito restritos, rapidamente este grupo entrou em conflito com o resto da comunidade. Os muckers, assim designados pelos seus opositores que os acusavam de falsidade, entraram em choque aberto com os spotters, ou debochados, quando decidiram retirar as suas crianças das escolas comunitárias. Os atritos levaram à prisão dos líderes do movimento pela polícia local e uma libertação logo a seguir, a pedido do presidente da Província do Rio Grande do Sul.
Os muckers, cada vez mais crentes no caráter messiânico de Jacobina, passaram a atacar aqueles que se opunham ao movimento: incendiaram a casa de Martinho Kassel, dissidente do movimento, levando à morte da sua esposa e filhos; pelo mesmo meio, mataram os filhos de Carlos Brenner, comerciante; e executaram, por fim, um tio de João Maurer, que se opunha abertamente ao movimento.
Repressão
Acirrados pela profecia de que quem acreditasse em Jacobina seria imune à morte, os muckers entram em confronto com forças policiais, deficientemente comandadas pelo coronel Genuíno Olímpio Sampaio, a 28 de junho de 1874. A crença dos revoltosos ficou ainda mais acesa perante a derrota que infligiram aos militares: 39 baixas, contra 6 entre os muckers.
A 18 de julho o mesmo coronel cercou a casa onde o grupo religioso se mantinha, matando dezesseis muckers que aceitaram a sua sorte, esperando a sua breve ressurreição. Jacobina conseguiu, contudo, fugir com alguns seguidores, um dos quais alvejou Genuíno Sampaio, que faleceu no dia seguinte em consequência da hemorragia.
Houve outro ataque, inconclusivo, a 21 de junho. A 2 de agosto, Carlos Luppa, um dissidente mucker traiu o grupo, levando os soldados até ao morro Ferrabrás onde Jacobina se escondia com o restante de seus seguidores. Assim que foram descobertos, foram chacinados.
Sobreviveram alguns muckers que tiveram de aguentar a perseguição da justiça por oito anos e, depois, a mal-querença do resto da população. Alguns estiveram, posteriormente, envolvidos na Guerra dos Canudos.