Com esta foto, já amarelada pelo tempo e marcas de dobras por andar na minha carteira, retratando a imagem do meu velho Pai, Bernardino de Souza, que tanta falta me faz (hoje vou subir a serra para rezar um Pai Nosso diante de sua morada eterna pois isto me reconforta), e com este poema intitulado Meu Pai e Eu, do também saudoso Antônio Augusto "Tocaio" Ferreira quero homenagear todos os pais leitores deste blog. Nós pais, somos por demais importantes para a estrutura da familia. Importância esta que talvez nem a gente imagine. Um bom domingo dos pais!
Eu fui criado assim, gato selvagem,
Nos arredores da cidadezinha,
Guri sempre fugido pros potreiros
Onde pastavam vacas e cavalos,
E eu por eles já sentia estima
E esse fascínio que até hoje sinto.
Nenhum cuidado me zelava a vida,
Queria era viver a liberdade,
E aprendi a defender-me dos perigos
Por puro instinto.
A importante pessoa dessa infância
Foi meu pai.
Mas meu pai era assim, a Lei, o aço,
O que não transigia em meus deveres.
Só sabe Deus o que terá passado
Em sua vida pobre. O sofrimento
Como que o dotara de uma carapaça
Que o fazia parecer imune á fome e á sede,
Pra que moldasse o corpo em argamassa.
Hoje penso que a força da cobrança
Ensinou-me a esgrimir contra a parede.
As suas bondades
Eram dissimuladas aos meus olhos,
Que só viam duro, teso e forte.
Pra mim, meu pai era um palanque
Assentado à frente do meu rancho,
Insencível ao frio e ao cansaço,
Incapaz de desviar-se do seu Norte.
Nem nas amargas maldizia a vida,
Nunca lhe ouvimos uma voz de queixa.
Pois não se permitia comiseração.
Muito ao contrario, reagia duro;
A vida é luta, vence o mais capaz,
O que mais suar sobre seu eito,
O que mais cedo madrugar.
Em pequeno, muito vagamente,
Lembro seu colo,
Substituindo a mãe, que já se fora.
Mas essa imagem me é tão remota
Que raras vezes a reconstituo.
O tempo que me vem mais à memória
É o do guri que, mal a lei saía,
Largava tudo pra voar na rua.
Eu amava meu pai e não sabia,
Ou, se sabia,
Tratava de ocultá-lo de mim mesmo.
As manifestações de afeto familiares
Pareciam perturbar-me a natureza.
Eu era apenas um menino
Que se omitia em demonstrar ternura
Temendo que algum gesto de carinho
Pudesse confundir-se com fraqueza.
Havia vezes em que eu o odiava
e o rejeitava, ao me sentir sozinho,
porque cobrava cada ato falho,
porque ralhava contra qualquer falta
que pudesse levar-me ao descaminho.
As palavras de meu pai eram tais ordens
Que se devia cumprir de qualquer jeito.
Dessas palavras e dos gestos fortes
Ficou-me para sempre esse preceito
Do amor ao trabalho e a família.
Mas, o trabalho nestes longos tempos,
Era de sol à sol.
Áspera trilha, que se devia abrir
com toda força, e renovado vigor.
A cada dia a vida inteira.
Já a família se agrandava muito,
Toda a pobreza era irmãmente repartida
E a dor e a enfermidade,
Eram veladas em conjunto.
A cada filho que se emancipava
Suando seu salário,
O tratamento de meu pai ficava ameno,
Talvez mais doce, um pouco mais sereno,
Mas a cobrança seguia ao necessário.
Nunca o vi chorar.
Seus sentimentos eram tão serrados
Que foi preciso me fizesse homem
Pra desvendar o seu amor imenso.
Esta descoberta veio aos poucos,
A idade chegara para todos,
A lei passou então a ser mais branda
E o cuidado talvez menos intenso.
Eu que me fiz adulto antes do tempo,
Saí de casa como um filho sai,
Sem saber o quanto a rua me ensinara
Nem atinar a força da argamassa
Que herdara de meu pai.
Nem eu mesmo sabia de que pedra
Eu era feito. Tinha meus sonhos
E a insegurança daquele que começa,
Quando atirei a vida sobre os ombros
E parti para o mundo a me provar.
O medo de ser frouxo me assustava;
Eu sabia que atrás de cada esgrima
Havia uma parede que não me deixava recuar.
Hoje a vida passou, vou cerro a baixo,
O corpo vai sofrendo seus estragos,
Mas me alegra saber que o coração
é pedra doce- fácil de amoldar,
mas que sofre sozinho nos seus medos
e jamais reparte seus fracassos,
pois não lhe permitem nunca o direito de chorar.
É nessas horas
Que meu velho volta e me levanta na palavra:
Assim é a vida, só vence quem lutar.
Aperta o coração, afirma o braço,
Ergue a cabeça e segue em frente.
Lá é teu lugar.
Eu fui criado assim, gato selvagem,
Nos arredores da cidadezinha,
Guri sempre fugido pros potreiros
Onde pastavam vacas e cavalos,
E eu por eles já sentia estima
E esse fascínio que até hoje sinto.
Nenhum cuidado me zelava a vida,
Queria era viver a liberdade,
E aprendi a defender-me dos perigos
Por puro instinto.
A importante pessoa dessa infância
Foi meu pai.
Mas meu pai era assim, a Lei, o aço,
O que não transigia em meus deveres.
Só sabe Deus o que terá passado
Em sua vida pobre. O sofrimento
Como que o dotara de uma carapaça
Que o fazia parecer imune á fome e á sede,
Pra que moldasse o corpo em argamassa.
Hoje penso que a força da cobrança
Ensinou-me a esgrimir contra a parede.
As suas bondades
Eram dissimuladas aos meus olhos,
Que só viam duro, teso e forte.
Pra mim, meu pai era um palanque
Assentado à frente do meu rancho,
Insencível ao frio e ao cansaço,
Incapaz de desviar-se do seu Norte.
Nem nas amargas maldizia a vida,
Nunca lhe ouvimos uma voz de queixa.
Pois não se permitia comiseração.
Muito ao contrario, reagia duro;
A vida é luta, vence o mais capaz,
O que mais suar sobre seu eito,
O que mais cedo madrugar.
Em pequeno, muito vagamente,
Lembro seu colo,
Substituindo a mãe, que já se fora.
Mas essa imagem me é tão remota
Que raras vezes a reconstituo.
O tempo que me vem mais à memória
É o do guri que, mal a lei saía,
Largava tudo pra voar na rua.
Eu amava meu pai e não sabia,
Ou, se sabia,
Tratava de ocultá-lo de mim mesmo.
As manifestações de afeto familiares
Pareciam perturbar-me a natureza.
Eu era apenas um menino
Que se omitia em demonstrar ternura
Temendo que algum gesto de carinho
Pudesse confundir-se com fraqueza.
Havia vezes em que eu o odiava
e o rejeitava, ao me sentir sozinho,
porque cobrava cada ato falho,
porque ralhava contra qualquer falta
que pudesse levar-me ao descaminho.
As palavras de meu pai eram tais ordens
Que se devia cumprir de qualquer jeito.
Dessas palavras e dos gestos fortes
Ficou-me para sempre esse preceito
Do amor ao trabalho e a família.
Mas, o trabalho nestes longos tempos,
Era de sol à sol.
Áspera trilha, que se devia abrir
com toda força, e renovado vigor.
A cada dia a vida inteira.
Já a família se agrandava muito,
Toda a pobreza era irmãmente repartida
E a dor e a enfermidade,
Eram veladas em conjunto.
A cada filho que se emancipava
Suando seu salário,
O tratamento de meu pai ficava ameno,
Talvez mais doce, um pouco mais sereno,
Mas a cobrança seguia ao necessário.
Nunca o vi chorar.
Seus sentimentos eram tão serrados
Que foi preciso me fizesse homem
Pra desvendar o seu amor imenso.
Esta descoberta veio aos poucos,
A idade chegara para todos,
A lei passou então a ser mais branda
E o cuidado talvez menos intenso.
Eu que me fiz adulto antes do tempo,
Saí de casa como um filho sai,
Sem saber o quanto a rua me ensinara
Nem atinar a força da argamassa
Que herdara de meu pai.
Nem eu mesmo sabia de que pedra
Eu era feito. Tinha meus sonhos
E a insegurança daquele que começa,
Quando atirei a vida sobre os ombros
E parti para o mundo a me provar.
O medo de ser frouxo me assustava;
Eu sabia que atrás de cada esgrima
Havia uma parede que não me deixava recuar.
Hoje a vida passou, vou cerro a baixo,
O corpo vai sofrendo seus estragos,
Mas me alegra saber que o coração
é pedra doce- fácil de amoldar,
mas que sofre sozinho nos seus medos
e jamais reparte seus fracassos,
pois não lhe permitem nunca o direito de chorar.
É nessas horas
Que meu velho volta e me levanta na palavra:
Assim é a vida, só vence quem lutar.
Aperta o coração, afirma o braço,
Ergue a cabeça e segue em frente.
Lá é teu lugar.