Há três ontontes
falamos aqui sobre as benzedeiras e fiz uma breve referência sobre as
carpideiras. Pois alguns de nossos leitores fizeram contato solicitando que
falássemos um pouco mais sobre o tema.
Nos meus tempos de
moço, os velórios eram realizados nas próprias casas dos finados. Se a sala
fosse pequena, como os ranchos eram de madeira, se retirava alguma parede para dar mais espaço.
Diante do corpo inerte,
entre um terço cantado e outro (as mulheres
cantavam as contas do rosário), era servido roscas de milho, bolinhos fritos,
torresmo e, na madrugada, um brodo quente (caldo de galinha). Disfarçadamente a
gauchada repassava uma boteja de canha, para aguentar o tirão da noite fria.
Nestes encontros não
faltava assunto. Se falava de lavouras, se atava algum câmbio ou mesmo alguma carreira, se tratava de
serenatas, se iniciava algum namoro... Tudo com muito repeito!
Hoje em dia os velórios
são feitos em capelas e aqui pela capital tem que abrir o olho. Não se fica
mais a noite inteira guardando o finado por causa dos assaltos. Mas lá pelo
interior os tiriricas, os mãos-peladas, os graxains, os sorros-mansos, ainda
não deram as caras pois sabem que o pau-de-fogo esquenta o cano...
Nunca vi, lá pela
região da serra, as famosas "carpideiras".
Carpideira é uma
profissional feminina cuja função consiste em chorar para um defunto alheio. Os
homens eram considerados impróprios para isso porque deveriam ser fortes e
líderes da família, não dispostos a mostrar qualquer tipo de emoção crua como a
tristeza.
É feito um acordo
monetário entre a carpideira e os familiares do defunto, a carpideira chorava e
mostrava seus prantos sem nenhum sentimento, grau de parentesco ou amizade.
A profissão existe há
mais de 2 mil anos. Mencionada na Bíblia e em outros textos religiosos, a
ocupação é amplamente invocada e explorada na literatura, desde os épicos
ugaríticos do início dos séculos AC à poesia moderna. Há também menções às
carpideiras em documentações iconográficas e documental da Antiguidade e, em
alguns países do mundo, diferentes culturas continuam praticando usos
semelhantes.
Seu uso sempre foi
variável no ritual fúnebre, desde a possibilidade de infectar ou causar
imitações de choro nos familiares para realizar uma catarse de luto, até para
aumentar a importância social de um falecido. Algumas culturas creem que o uso
das carpideiras traz uma certa aplicação religiosa e histórica às procissões
fúnebres. De acordo com Tom Lutz, em seu livro “A História Cultural das
Lágrimas”, nos tempos antigos, o luto dos enlutados ajudava a limpar a alma do
falecido e a trazê-lo à plenitude.
No Brasil este ofício é
mais comum na região nordeste.