QUANDO EU PARTIR
- Flávio Ernani Barbizan -
Quando
eu partir, e Deus queira que demore,
gostaria
que fosse deste jeito:
Me
cuidando, uma china que me adore,
sentada
nos pelegos do meu leito.
Quando
chegar á hora (e vai chegar),
queria
o cusco me lambendo os pés.
Dos
amigos que tive então vou me lembrar,
nem
sei se foram cinco, oito, nove ou dez.
Pediria
que eu fosse em ano par,
tenho
cisma de um, de três, de sete,
e
para que poucos viessem me amolar,
queria
que chovesse canivete.
Gostaria
de partir devagarito,
no
embalo de cantigas de galpão.
Bem
melhor se estivesse até solito,
lavando
a alma num derradeiro chimarrão.
Pode
até que uma lágrima apareça,
sozinha,
pequena, assim num repente,
duvido
muito, mas vamos que aconteça,
vou
mentir, dizer que o mate estava quente.
Quando
eu partir e talvez isto nem demore,
duas
coisas eu quero em meu respeito:
fui
feliz, peço então que ninguém chore,
e
a bandeira do Rio Grande no meu peito.