RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Gênero musical Bugio é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Rio Grande do Sul

domingo, 10 de agosto de 2025

 


CACO VELHO



Se tem coisa que me deixa irritado é ver um filho desrespeitando os pais. Neste sentido reculutei um poema do Padre Pedro Luis, para mim um dos maiores poetas Rio-grandenses, que traz por título CACO VELHO e o qual reproduzo abaixo desejando a todos os Pais um lindo e feliz dia.     

 

Na fazenda o piá danado,

piá maroto de nhá Tuca,

alarife e estabanado,

que a paciência só cutuca

que desdenha pra conselho 

sem respeito ao seu pai – Juca –

o chamou de CACO VELHO! 

 

Pucha ! O Juca teve anseios,

virou bicho e dromedário,

corcoveou com os arreios,

fez sermão que nem vigário

e puou o piá maleva

que no espírito incendiário

deste século se ceva.

 

- Eu sou filho da era antiga,

pura cepa e guasca honrado,

quando agravo armava briga

e era moda dar louvado.

Não havia, então, baderna,

de algum filho mal criado,

educado à la moderna.

 

Caco Velho.... Eu sou tronco

rijo e são de guajuvira,

me respeitam quando ronco

no bochincho que regira

por que sou da velha estampa

e o tourito que se atira

eu derrubo pelas guampas.

 

Moço de hoje é sem retovo

vai-lhe a cincha na virilha,

laça só terneiro novo,

na rodada tastavilha,

acha o prato sempre feito,

não caminha mais que milha,

quando apanha, foi mau jeito.

 

Pingo bravo o descogota,

em carreira é mau parceiro,

se é feijão, peru arrota,

se se mete a boi franqueiro

noutro dia sempre rosna:

- Vó me atende, vem ligeiro!   

- Mãe me traz um chá de losna!

 

Não sou filho maturrango

deste século demente,

sou da têmpera e me cango

só no meu dever de gente.

Trago honra a vida inteira

do gaúcho, felizmente,

como um cerne de tronqueira.  

 

Piá maleva, então reflita,

té a vaca – Deus nos valha –

corre aos berros na desdita

vários dias de cangalha

sem descanso e sem conforto

contra corvos e cainçalha

defendendo o filho morto.

 

Se campeias nestes dias

de progresso pasmacento,

no ventre das fidalguias

sempre fui o teu sustento.

Sim, eu sou um CACO VELHO

mas a barba é um documento

e a palavra um evangelho.