CACO VELHO
Se tem coisa que me deixa irritado é ver um filho desrespeitando os pais. Neste sentido reculutei um poema do Padre Pedro Luis, para mim um dos maiores poetas Rio-grandenses, que traz por título CACO VELHO e o qual reproduzo abaixo desejando a todos os Pais um lindo e feliz dia.
Na fazenda o piá danado,
piá maroto de nhá Tuca,
alarife e estabanado,
que a paciência só cutuca
que desdenha pra conselho
sem respeito ao seu pai – Juca –
o chamou de CACO VELHO!
Pucha ! O Juca teve anseios,
virou bicho e dromedário,
corcoveou com os arreios,
fez sermão que nem vigário
e puou o piá maleva
que no espírito incendiário
deste século se ceva.
- Eu sou filho da era antiga,
pura cepa e guasca honrado,
quando agravo armava briga
e era moda dar louvado.
Não havia, então, baderna,
de algum filho mal criado,
educado à la moderna.
Caco Velho.... Eu sou tronco
rijo e são de guajuvira,
me respeitam quando ronco
no bochincho que regira
por que sou da velha estampa
e o tourito que se atira
eu derrubo pelas guampas.
Moço de hoje é sem retovo
vai-lhe a cincha na virilha,
laça só terneiro novo,
na rodada tastavilha,
acha o prato sempre feito,
não caminha mais que milha,
quando apanha, foi mau jeito.
Pingo bravo o descogota,
em carreira é mau parceiro,
se é feijão, peru arrota,
se se mete a boi franqueiro
noutro dia sempre rosna:
- Vó me atende, vem ligeiro!
- Mãe me traz um chá de losna!
Não sou filho maturrango
deste século demente,
sou da têmpera e me cango
só no meu dever de gente.
Trago honra a vida inteira
do gaúcho, felizmente,
como um cerne de tronqueira.
Piá maleva, então reflita,
té a vaca – Deus nos valha –
corre aos berros na desdita
vários dias de cangalha
sem descanso e sem conforto
contra corvos e cainçalha
defendendo o filho morto.
Se campeias nestes dias
de progresso pasmacento,
no ventre das fidalguias
sempre fui o teu sustento.
Sim, eu sou um CACO VELHO
mas a barba é um documento
e a palavra um evangelho.