RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Nosso reconhecimento a Rede Globo e demais emissoras que ocupam horários nobres de suas grades para solicitação de ajuda ao nosso Estado. Na foto Luciano Huck com o bombeiro Damião em frente de sua casa, em Canoas. Sua esposa e seus filhos estão em abrigos e ele trabalha, praticamente sem dormir, salvando vidas.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

 

CARAMELO

UM SÍMBOLO DA RESILIÊNCIA GAÚCHA 


O animal ficou 4 dias sobre o telhado

Desde a formação do Rio Grande o cavalo tem sido a extensão das pernas do gaúcho. Faz parte de nossa história nas lutas de fronteiras, na Revolução Farroupilha, nos tempos das tropas, na lida diária do homem do campo, nas festas e carreiradas, nos rodeios crioulos, nas cavalgadas, o que se vê é a imagem de um centauro, ou seja, homem e cavalo.  

Agora, durante a tragédia das enchentes, uma imagem correu mundo emocionando não somente o povo do Sul. Era um cavalo ilhado sobre um telhado na cidade de Canoas. Ali permaneceu por quatro dias.  

Pois ontem, dia 09, uma equipe de bombeiros de São Paulo fez uma grandiosa operação de resgate do animal que recebeu o nome carinhoso de Caramelo. Para sua retirada foi necessário sedar o animal que foi acompanhado em um bote por médicos veterinários. Caramelo está se recuperando bem. 

Pois este animal que é símbolo do Rio Grande do Sul passou a ser, também, um símbolo da resiliência, da tenacidade, da perseverança de todos os envolvidos e atingidos por essa calamidade que nos assola. 

A reportagem final do Jornal Nacional de ontem, que sempre tenta levar uma mensagem de otimismo aos seus telespectadores, foi com o processo de salvamento.   

Tal qual o Caramelo, o povo gaúcho, com ajuda de milhares de pessoas, vai sair dessa.   

Operação de resgate do Caramelo


Sobre esse momento histórico o meu amigo, poeta membro da Estância da Poesia Crioula, Dr. Osmar Ransolin lá de Fraiburgo, SC, escreveu este belíssimo poema. 

Que luz, que inspiração tu tiveste, meu Irmão !

Não era só um cavalo...

 

Era um monumento vivo

Dos andarengos da Ibéria

Que mesclou em cada artéria

Do rubro sangue nativo

O ancestral primitivo,

- Cara limpa, lombo nu -

Que carregou o xirú

Pelas terras missioneiras

E que tombou nas fileiras

Das tropas de Tiarajú.

 

Não era só um cavalo...

 

Era a própria imagem

Do Rio Grande açoriano,

Que alargou meridianos

Pelas rotas de passagem,

Era o cavalo selvagem

Rasgando campo e fronteira

Perdido na polvadeira

Ou entre a chuva e o vento,

E que invadiu Sacramento

Com Dom Cristóvão Pereira.

 

Não era só um cavalo...

 

Era o esteio da lida,

Que a cada marcha tropeira

Se fez alma aventureira

Pra ofertar a própria vida,

E nesta saga sofrida

De desbravar o sertão,

Percorreu cada rincão

Desse Brasil continente,

Sustentando nossa gente

Pra erguer uma Nação.

 

Não era só um cavalo...

 

Era um herói da terra

Que a história não menciona,

E que o covarde abandona

No entrevero da guerra!

Que vendo a morte, não berra,

Porque engole o sofrimento

- Soldado sem regimento

Da velha estirpe proscrita -

Que foi garupa pra Anita

E montaria de Bento.

 

Não era só um cavalo...

 

Era o Rio Grande em pelo!

E no horizonte da incerteza

Enfrentou a natureza

Neste último atropelo,

Tostado sem marca e selo

Pelo-duro que se amansa,

Que na rédea é uma balança

E na vida é um regalo

Cavalo que é bom cavalo

Pro trabalho, e pras crianças.

 

E não era só um cavalo...

 

Era também um amigo,

E um amigo não fica pra trás...