CARAMELO
UM SÍMBOLO DA RESILIÊNCIA GAÚCHA
O animal ficou 4 dias sobre o telhado
Desde a formação do Rio Grande o cavalo tem sido a extensão das pernas do gaúcho. Faz parte de nossa história nas lutas de fronteiras, na Revolução Farroupilha, nos tempos das tropas, na lida diária do homem do campo, nas festas e carreiradas, nos rodeios crioulos, nas cavalgadas, o que se vê é a imagem de um centauro, ou seja, homem e cavalo.
Agora, durante a tragédia das enchentes, uma imagem correu mundo emocionando não somente o povo do Sul. Era um cavalo ilhado sobre um telhado na cidade de Canoas. Ali permaneceu por quatro dias.
Pois ontem, dia 09, uma equipe de bombeiros de São Paulo fez uma grandiosa operação de resgate do animal que recebeu o nome carinhoso de Caramelo. Para sua retirada foi necessário sedar o animal que foi acompanhado em um bote por médicos veterinários. Caramelo está se recuperando bem.
Pois este animal que é símbolo do Rio Grande do Sul passou a ser, também, um símbolo da resiliência, da tenacidade, da perseverança de todos os envolvidos e atingidos por essa calamidade que nos assola.
A reportagem final do Jornal Nacional de ontem, que sempre tenta levar uma mensagem de otimismo aos seus telespectadores, foi com o processo de salvamento.
Tal qual o Caramelo, o povo gaúcho, com ajuda de milhares de pessoas, vai sair dessa.
Operação de resgate do Caramelo
Sobre esse momento histórico o meu amigo, poeta membro da Estância da Poesia Crioula, Dr. Osmar Ransolin lá de Fraiburgo, SC, escreveu este belíssimo poema.
Que luz, que inspiração tu tiveste, meu Irmão !
Não era só um cavalo...
Era um monumento vivo
Dos andarengos da Ibéria
Que mesclou em cada artéria
Do rubro sangue nativo
O ancestral primitivo,
- Cara limpa, lombo nu -
Que carregou o xirú
Pelas terras missioneiras
E que tombou nas fileiras
Das tropas de Tiarajú.
Não era só um cavalo...
Era a própria imagem
Do Rio Grande açoriano,
Que alargou meridianos
Pelas rotas de passagem,
Era o cavalo selvagem
Rasgando campo e fronteira
Perdido na polvadeira
Ou entre a chuva e o vento,
E que invadiu Sacramento
Com Dom Cristóvão Pereira.
Não era só um cavalo...
Era o esteio da lida,
Que a cada marcha tropeira
Se fez alma aventureira
Pra ofertar a própria vida,
E nesta saga sofrida
De desbravar o sertão,
Percorreu cada rincão
Desse Brasil continente,
Sustentando nossa gente
Pra erguer uma Nação.
Não era só um cavalo...
Era um herói da terra
Que a história não menciona,
E que o covarde abandona
No entrevero da guerra!
Que vendo a morte, não berra,
Porque engole o sofrimento
- Soldado sem regimento
Da velha estirpe proscrita -
Que foi garupa pra Anita
E montaria de Bento.
Não era só um cavalo...
Era o Rio Grande em pelo!
E no horizonte da incerteza
Enfrentou a natureza
Neste último atropelo,
Tostado sem marca e selo
Pelo-duro que se amansa,
Que na rédea é uma balança
E na vida é um regalo
Cavalo que é bom cavalo
Pro trabalho, e pras crianças.
E não era só um cavalo...
Era também um amigo,
E um amigo não fica pra trás...