RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
INSCRIÇÕES ATÉ O DIA 10 DE AGOSTO

domingo, 26 de maio de 2024

  

A PEDIDO: Em face de algumas solicitações estamos repostando o poema que fizemos com a intenção de trazer algum ânimo aos atingidos pelas enchentes que, ao cabo, de uma forma ou de outra, foram todos os gaúchos.  



RECOMEÇO

(Léo Ribeiro de Souza)

 

Recomeço é o alento,

restauro de alma e bens,

é a esperança que vem

junto a um renascimento.

É escrever novos tempos

sem guardar rancor ou mágoa,

repregar tábua por tábua

preservando na memória

um naco da nossa história

que se foi junto das águas.

 

Recomeço é relembrança

do que o peito sentiu

ao ver as turvas dos rios

deixar entulhos de herança

ou ver mobílias na dança

num rancho humilde alagado,

mas ficarão por legado

imagens pra sinuelo

como o tenaz Caramelo

se firmando num telhado.

 

Recomeço é gratidão

ao mundéu de voluntários

verdadeiros legionários

vindos de toda nação.

Preparando refeição,

navegando casa em casa,

essa bondade extravasa

qualquer peito emocionado.

O nosso muito obrigado

a estes anjos sem asas.

 

Recomeço é construção

de nosso bem material

mas também o espiritual

merece forte atenção.

A angústia, a depressão,

carecem muito de abrigo.

É ruim guardar consigo

tantos traumas desgastantes

e nada mais confortante

do que um abraço de amigo.


Recomeço é louvação

a todos que nos deixaram

mas que pra sempre ficaram

nos portais do coração.

Olhem por nós, de onde estão,

nos protejam do aguaceiro, 

e se Deus é brasileiro

que mande graças pra cá.

Intercedam com Iemanjá 

e São Pedro, o Padroeiro.   

 

Recomeço é primavera

depois de um inverno rude,

são as garças nos açudes,

milho novo na tiguera.

É o pomar da tapera

reabrindo a flor do Ipê,

é o sol, em degradê,  

quando a querência amanhece 

e até quem não te conhece

dá um “buenas” pra você.

 

Recomeço é... apavorante

o incerto nos dá medo

o amanhã tem segredos,

os sonhos ficam distantes...

Mas se nós formos constantes

na união que nos irmana

aonde outrora foi lama 

virá fartura de grãos

basta não soltar as mãos

daquela corrente humana.

 

Recomeço é ir em frente

sempre ajudando aos demais.

Aniquilados? Jamais,

pois ficarão as sementes.

Esta no cerne da gente

ter a luta por rotina

sempre repontando a sina

de orgulhar-se deste chão.

Nosso Rio Grande é um moirão

                           que lasca mas não termina.