A PEDIDO: Em face de algumas solicitações estamos repostando o poema que fizemos com a intenção de trazer algum ânimo aos atingidos pelas enchentes que, ao cabo, de uma forma ou de outra, foram todos os gaúchos.
RECOMEÇO
(Léo Ribeiro de Souza)
Recomeço é o alento,
restauro de alma e bens,
é a esperança que vem
junto a um renascimento.
É escrever novos tempos
sem guardar rancor ou mágoa,
repregar tábua por tábua
preservando na memória
um naco da nossa história
que se foi junto das águas.
Recomeço é relembrança
do que o peito sentiu
ao ver as turvas dos rios
deixar entulhos de herança
ou ver mobílias na dança
num rancho humilde alagado,
mas ficarão por legado
imagens pra sinuelo
como o tenaz Caramelo
se firmando num telhado.
Recomeço é gratidão
ao mundéu de voluntários
verdadeiros legionários
vindos de toda nação.
Preparando refeição,
navegando casa em casa,
essa bondade extravasa
qualquer peito emocionado.
O nosso muito obrigado
a estes anjos sem asas.
Recomeço é construção
de nosso bem material
mas também o espiritual
merece forte atenção.
A angústia, a depressão,
carecem muito de abrigo.
É ruim guardar consigo
tantos traumas desgastantes
e nada mais confortante
do que um abraço de amigo.
Recomeço é louvação
a todos que nos deixaram
mas que pra sempre ficaram
nos portais do coração.
Olhem por nós, de onde estão,
nos protejam do aguaceiro,
e se Deus é brasileiro
que mande graças pra cá.
Intercedam com Iemanjá
e São Pedro, o Padroeiro.
Recomeço é primavera
depois de um inverno rude,
são as garças nos açudes,
milho novo na tiguera.
É o pomar da tapera
reabrindo a flor do Ipê,
é o sol, em degradê,
quando a querência amanhece
e até quem não te conhece
dá um “buenas” pra você.
Recomeço é... apavorante
o incerto nos dá medo
o amanhã tem segredos,
os sonhos ficam distantes...
Mas se nós formos constantes
na união que nos irmana
aonde outrora foi lama
virá fartura de grãos
basta não soltar as mãos
daquela corrente humana.
Recomeço é ir em frente
sempre ajudando aos demais.
Aniquilados? Jamais,
pois ficarão as sementes.
Esta no cerne da gente
ter a luta por rotina
sempre repontando a sina
de orgulhar-se deste chão.
Nosso Rio Grande é um moirão
que lasca mas não termina.