RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
A tomada da Ponte da Azenha, do pintor Augusto Luiz de Freitas (Instituto de Educação General Flores da Cunha, Porto Alegre/RS)

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

 

QUANDO SE VAI UM IRMÃO


Luiz Dutra Niederauer
Que o Grande Arquiteto o receba em sua Santa Gloria 


A gente vem pra este mundo

como o destino escolheu.

Uns, caboclos como eu

criados num campo fundo.

Hay quem não largue um segundo

o seu jeitão entonado,

tem os que nascem jogados

como filhos de perdiz

e tem quem brote feliz

pela fartura rodeado.

 

Dizia Jayme Caetano:

- Tudo isso desaparece, 

tudo, no mais, se parece

quando a gente abrir os panos.

Os sonhos, os desenganos,

num piscar já não são nada.

Viramos poeira da estrada

e quem habita o mausoléu

tem o mesmo espaço no céu

que o peão da cruz falquejada.

 

Mas tem uma coisa que fica

pairando na vós dos ventos,

peleando a tapa com o tempo,

murmurando pelas bicas.

Pra mim, a coisa mais rica

de tudo aquilo que temos

é a postura que mantemos

no ir e vir das andanças.

Esta é a nossa herança:

- o que de bom nós fizemos -

 

Me digam quem sente falta

de algum bandido ou ladrão?

Quem é que guarda paixão

por quem mata, quem assalta?

Lá o fundo o peito exalta

o tombar de um calaveira.

- Lá se vai mais um porqueira.

a gente fala, brincando,

quando um destes vai cruzando

a cancela derradeira.  

 

Mas quando um Irmão obedece

ao chamado do Arquiteto?

Ah... sob um cortejo discreto

as nossas almas padecem.

As colunas estremecem

e do Sul ao Oriente

há um sentimento plangente

pelo adeus que não tem volta

e uma lágrima se solta

do Olho Onividente.

 

Quando o Pai reculuta

um Irmão em tantos nomes

sabe que ali vai um homem

que poliu a pedra bruta,

que suas armas, nestas lutas,

foram ideais libertários.

Um Irmão é voluntário

quando a prosa é independência

dos porões da inconfidência

aos farrapos legendários.

 

E é por isso, no mais,

que ao ir um Irmão fraterno

rumando o Oriente Eterno

a terra dá seus sinais.

Na lagoa os juncais

se inclinam em reverência,

flores exalam essências,

bem-te-vis gorjeiam cantos,

nuvens cinzas tecem um manto

como enlutando a querência.

 

E não importa ao supremo

joias, medalhas, diplomas,

o que interessa, o que soma,

são gestos, atos, exemplos.

É construir o seu Templo

com amor e devoção

crer no poder de união

e aplicar o aprendizado.

Não adianta Grau elevado

sem atitudes de Irmão.

 

Mas um Irmão não falece,

tal qual não morre a bondade.

Ele fica na saudade

pois saudade não envelhece.

Fica nas horas de prece,

na Loja, em cada Sessão,

na lenda de Salomão,

no brilho da pentagrama,

renascendo a cada chama

das brasas do coração.