RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

sábado, 30 de setembro de 2023

 

REPONTANDO DATAS

Adelar Bertussi
 

No dia 30 de setembro, do ano de 2017, também um sábado, deixava este plano, aos 84 anos, um dos maiores gaiteiros gaúchos de todos os tempos. Fazemos referência ao grande Adelar Bertussi que, ao lado de seu irmão Honeyde, formou a mais famosa dupla de acordeonistas do Brasil. 


Velório de Adelar Bertussi, em São Jorge da Mulada,
teve a homenagem de dezenas de gaiteiros.
  


VISITA DE CORTESIA


Léo Ribeiro, Cândido Brasil (Presidente da EPC), 
Ilva Maria (Presidente do MTG) e Cesar Tomazzini. 

 

Integrantes da diretoria da Estância da Poesia Crioula estiveram reunidos na tarde de ontem, 29, com a Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, Sra. Ilva Maria Borba Goulart, com a finalidade de alinhar projetos de interesse das duas entidades que historicamente mantém fortes laços de união.

Diversos vates que marcaram época na poética rio-grandense foram administradores das duas instituições.    

   

 

SABIÁ E SEU LAMENTO 



Fiz estes versos durante o Acampamento Farroupilha de Porto Alegre ao ver uma sabiazinha construindo seu ninho no rancho do Fraternidade Gaúcha, nosso Piquete. 

 

SABIÁ E SEU LAMENTO

- Léo Ribeiro –

 

Botaram a pique o meu lar,

consumiram com meu chão

e dos galhos fui morar

no esteio de um galpão.

 

Trocaram o verde da mata

pelo cinza do cimento

e o Umbú de copa chata

virou estacionamento.  

 

Eu não desejo maldades

mas há de chegar o dia

que vocês terão saudades

do arvoredo em cantoria.  

 

Foi a ganância humana

quem derrubou o meu ninho

mas como disse o Quintana:  

Passarão. Eu, passarinho!  


Fotos: Paulo Cremer e Paulo Seelig




 

 

SESMARIA DA POESIA GAÚCHA

25ª QUADRA



Acontece hoje a noite na cidade de Osório a 25ª Sesmaria da Poesia Gaúcha, um dos mais conceituados festivais poéticos do Estado. O evento será realizado na Câmara de Vereadores a partir das 8.30h tendo como grande homenageada a declamadora Liliana Cardoso. 

Foram mais de 400 trabalhos inscritos dos quais foram selecionados 10 poesias. Tivemos a felicidade de estar entre as escolhidas com o poema Atavismo que será defendido por João Batista de Oliveira Machado na declamação e tendo por amadrinhadores Fábio Malcorra e Mario Terres. 

Nos encontraremos por lá. 

Poemas que subirão ao palco: 

1- As tesouras de Dom Valter

Autor: Alcindo Neckel

Declamador: João Soledad

Amadrinhador: Marcos Volmar Ferreira

 

2. Ofício de Benzedeira

Autor: Joséti Gomes

Declamadora: Romila Amaral

Amadrinhador: Fernando Graciola

 

3. Poema de Luz e Céu

Autor: Danilo Kuhn

Declamadora: Silvana Giovanini

Amadrinhador: Danilo Kuhn

 

4. Regresso

Autor: Henrique Fernandes

Declamador: Jadir Oliveira

Amadrinhador: Jean Carlos Godoy

 

5. Mãos de Anjo e Domador

Autor: Lorezone Barbosa

Declamador: Érico Machado Padilha

Amadrinhador: Fernando Graciola

 

6. As Queixas do Laço Atado

Autor: Matheus Costa

Declamador: Fábio Malcorra

Amadrinhador: Mário Terres

 

7. Certos Homens

Autor: Juarez Machado de Farias

Declamador: Flavio Soccol

Amadrinhador: violão Danilo Kuhn, Serrote Luciano Salerno

 

8. O Pouco Fala

Autor: Don Arabi Rodrigues

Declamador: Neiton Perufo

Amadrinhador: Jorge Araújo

 

9. Atavismo

Autor: Leo Ribeiro de Souza

Declamador: João Batista de Oliveira Machado

Amadrinhador: Bombo leguero Fábio Malcorra/Violão Mário Terres

 

10. O que Haverá

Autor: Jadir Oliveira

Declamadora: Silvana Andrade

Amadrinhador: Jean Carlo Godoy 

 



sexta-feira, 29 de setembro de 2023



Verso e Gravura: Léo Ribeiro





 

 

UM BELO PROJETO

Parte II



Atingir a marca de 1 milhão de visualizações na campanha "O que tem no CTG" é motivo de celebração e demonstra a relevância e o impacto que essa iniciativa tem na promoção das atividades dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs). Mais do que um número impressionante, essa conquista destaca a importância de abrir as portas dos CTGs para novos públicos e revelar as riquezas de suas atividades culturais e tradicionais.

A campanha "O que tem no CTG" desvenda o mundo fascinante dos CTGs, revelando as danças, músicas, competições campeiras, eventos culturais e muito mais. Ela oferece uma visão autêntica e cativante da cultura gaúcha, proporcionando a oportunidade para pessoas de todo o mundo conhecerem e apreciarem as tradições do Rio Grande do Sul.

Essa iniciativa não apenas promove as atividades dos CTGs, mas também desmistifica estereótipos e estigmas, abrindo espaço para um diálogo cultural mais amplo e inclusivo. Ela mostra como a cultura gaúcha é diversificada, rica em história e valores, e capaz de unir pessoas de diferentes origens.

Faça a sua parte, compartilhe o video principal e também os depoimentos que são postados diariamente! Siga no instagram @O_que_tem_no_CTG


quinta-feira, 28 de setembro de 2023

 

UM BELO PROJETO

Parte I


A campanha "O que tem no CTG – Venha conhecer 2023", lançada pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), tem como objetivo principal despertar o interesse de novos públicos e incentivar a participação nos Centros de Tradições Gaúchas em todo o Brasil e no exterior. Além dos depoimentos de tradicionalistas, a campanha conta com a participação especial do cantor Michel Teló e Shirlei Paravisi, coordenadora de telejornalismo na RBSTV, que compartilham suas experiências ativas nos CTGs e destacam sua importância em suas vidas.

Por meio de conteúdos estratégicos e informativos nas redes sociais, o MTG visa conectar-se com a sociedade, mostrando o funcionamento dos CTGs, as atividades realizadas e como a imersão cultural nos "galpões" pode contribuir para a formação de cidadãos conscientes, fundamentados em valores éticos, pluralidade e inclusão. Isso auxilia o Estado na solução de seus problemas essenciais e na busca pelo bem coletivo, promovendo o culto e a disseminação da história, da formação social, do folclore e, em suma, das tradições como elementos fundamentais de nossa identidade, conforme estabelecido na Carta de Princípios, documento que orienta o Movimento Tradicionalista.

Por meio das páginas no Facebook e no Instagram da campanha, o público receberá orientações sobre como escolher, localizar, contatar e participar das entidades tradicionalistas, além de ser informado sobre todas as atividades e eventos programados.

Para mais informações, siga as redes sociais da campanha:

Facebook: https://www.facebook.com/OqueTEMnoCTG

Instagram: https://www.instagram.com/o_que_tem_no_ctg ou @o_que_tem_no_ctg 

Descubra qual CTG está mais próximo da sua casa:

https://www.mtg.org.br/o-que-tem-no-ctg-venha-conhecer/

Baixe o vídeo da campanha e compartilhe em seu perfil ou na página de sua entidade:

https://bit.ly/oquetemnoCTG-V2

Contatos com Jeandro Garcia, Diretor de Pesquisa e Difusão Cultural - MTG - 51-999434742



quarta-feira, 27 de setembro de 2023

 

DE TIJOLO EM TIJOLO


Palestrantes do Seminário 


Na fria e chuvosa manhã de sábado, 23, em São Francisco de Paula, durante a 30ª edição do Festival Ronco do Bugio, enquanto muitos descansavam da noitada de baile brilhantemente animado pelo conjunto Os Tiranos, as 8h da madrugada nós estávamos lá, grudados como barro em tamanco, no Seminário que visava debater o ritmo, o festival, a relação do primata com a natureza e, por fim, a luta para tornar o bugio Patrimônio Imaterial do Rio Grande do Sul. 

Sem buscar protagonismos, com a seriedade que o assunto requer, sob a mediação da jornalista Patrícia Viale os palestrantes Israel Da Sóis Sgarbi, Maria Letícia Mazzucchi Ferreira, Marcia Barreta e Léo Ribeiro proporcionaram esclarecimentos interessantíssimos sobre a temática.  

É um trabalho preparatório, passo a passo, de um projeto grandioso aonde, se ninguém atrapalhar, os frutos serão excelentes. 



terça-feira, 26 de setembro de 2023


MUDAR O LOCAL DO ACAMPAMENTO?  


Não sou um entendido em estratégias militares a não ser por coisas básicas como: escolher o terreno favorável para o combate; não entrar numa peleia sem a mínima chance de vitória; estudar o inimigo... e assim vai. Isto serve, também, para nosso dia-a-dia.  Contudo eu penso que o maior erro dos revoltosos farroupilhas foi ter invadido Porto Alegre quando o certo seria invadir, primeiramente, a cidade de Rio Grande. Ali era a marca do pênalti, a boca da botija, a saída para o oceano através das lagoas por onde passavam armas, suprimentos e soldados imperiais vindos da Corte.

A vida é meio contraditória pois é nesta cidade - Rio Grande - que está o corpo do grande líder Farrapo Bento Gonçalves da Silva. 

Da mesma forma a realização do maior Acampamento Farroupilha nas comemorações do Dia do Gaúcho acontece em Porto Alegre, cidade que ficou pouco tempo nas mãos dos soldados republicanos e por isso mesmo recebeu o título de Leal e Valorosa, outorgado por Dom Pedro II - o Valerosa é uma invenção que veio depois. 

Pois agora há um movimento na cidade de Viamão, aonde Bento Gonçalves ficou longo tempo no Cerco a Porto Alegre, querendo levar o Acampamento para lá, o verdadeiro e autêntico local aonde Bento permaneceu.

O que estas pessoas tem que trabalhar é no sentido do poder público de Viamão viabilizar um Acampamento nesta cidade pois a organização de tal evento não pertence ao Estado e sim ao município de Porto Alegre. 


  

      

segunda-feira, 25 de setembro de 2023


O VELHO E BOM CHIMARRÃO 


Auguste de Saint-Hilaire fez relato sobre o chimarrão

Por: Juliana Bublitz

Não foram só o fogo e o churrasco que marcaram os festejos farroupilhas: o velho e bom chimarrão também reinou nos piquetes Rio Grande afora. O gosto pelo mate é ancestral e já chamava a atenção de europeus que visitavam a Província de São Pedro nos idos do século 19.

Foi o caso do botânico francês Auguste de Saint-Hilaire. Ele escreveu um  curioso relato sobre o tema, em 1821, no livro "Viagem ao Rio Grande do Sul". Dá uma conferida:

“O uso dessa bebida é geral aqui: toma-se mate no instante em que se acorda e, depois, várias vezes durante o dia. A chaleira cheia de água quente está sempre ao fogo e, logo que um estranho entra na casa, oferecem-lhe mate imediatamente (...) Os verdadeiros apreciadores tomam-no sem açúcar, e então se obtém o chamado mate-chimarrão. A primeira vez que provei tal bebida, achei-a muito sem graça, mas cedo me acostumei a ela e, atualmente, tomo vários mates seguidamente com prazer, até mesmo sem açúcar.”

Que tal?


 

SANTO DE CASA FAZ MILAGRES, SIM.



Não que eu faça milagres e muito menos que seja santo mas este ditado pode ser revertido no momento em que tu és reconhecido por tua gente. E a comunidade de São Francisco de Paula, minha terra nativa, seguidamente me proporciona as maiores demonstrações de carinho.

Neste fim de semana, na 30ª edição do Festival Ronco do Bugio aonde fui o Mestre de Cerimônias, o Vice-Prefeito Thiago Teixeira, a organização do evento e a cúpula administrativa do município, me pegaram de surpresa com uma linda homenagem.

Adivinhem se não grudei no choro de pingar no chão.

Por vezes me torno chato de tanto falar em minha querência. Contudo, é melhor ser um chato por bairrismo do que ser ignorado no seu próprio chão.

Viva São Chico.


domingo, 24 de setembro de 2023


 PREMIADOS DO 30º RONCO DO BUGIO


Reviver Querências - Composição vencedora do 30º Ronco do Bugio


Findou, nesta manhã de sábado para domingo, fechando com chave de ouro as Comemorações Farroupilhas de São Francisco de Paula, o 30º Ronco do Bugio, considerado o Festival Mais Autêntico do Rio Grande pois valoriza em sua integralidade o único ritmo criado em nosso Estado.  

Foram duas noites regadas a muita integração musical e cultural, Seminário com foco no projeto que visa transformar o ritmo bugio Patrimônio Imaterial de nosso Estado, o retorno do Ronco Estudantil, além dos belos espetáculos musicais de Joca Martins e Os Fagundes, bailes com Os Tiranos e Batendo na Marca, jantar gratuito elaborado pelos Cozinheiros de São Chico para quase mil pessoas que lotaram as dependências do CTG Rodeio Serrano, apresentações do Coral Municipal, além das belas e emocionantes Homenagens ao Centenário de Nascimento de Honeyde Bertussi, ao gaiteiro serrano Paulinho Siqueira e a minha pessoa, pela dedicação a este evento genuíno.

Tudo com entrada franca.  

Mil gracias a Secretária de Turismo, cultura e desporto Vanessa Splinder e a Diretora de Eventos Marina Mimbarck pela confiança em nosso trabalho.

A que se lamentar apenas a baixa qualidade do som que, por vezes, pode comprometer todo o festival, o que não foi o caso específico do Ronco. Isto é café pequeno diante da grandeza deste evento já consolidado enquanto dezenas de festivais nativistas ficaram pelo caminho por falta de apoio.   

A Comissão Avaliadora, de altíssimo nível, composta por Paulo de Freitas Mendonça, Paulo Bertussi, Samuca do Acordeom, Neusa Regina e Pepeu Gonçalves, escolheu as seguintes vencedoras.


PREMIADOS DO 30º RONCO DO BUGIO

de São Francisco de Paula


1º Lugar: REVIVER QUERÊNCIAS

Letra e Música: Eduardo Gomes

2º Lugar: MINHA FLOR COLORADA

Letra: Claudionir Araújo Bastos

Música: Renato Fagundes

3º Lugar: GURI DE SÃO CHICO

Letra: Paulo Ricardo Costa e Jones Andrei Vieira

Música: Jones Andrei Vieira

Melhor Música Fase Local (Ronco da Terra): REVIVER QUERÊNCIAS

Letra e Música: Eduardo Gomes

Melhor Intérprete: Lu Schiavo – Música: Minha Flor Colorada

Letra: Claudionir Araújo Bastos

Música: Renato Fagundes

Melhor Instrumentista: Gabriel Claro – Música: Nos Bolichos de São Chico

Letra: Luis Ernando dos Reis e José Claro (Zezinho)

Música: José Claro (Zezinho)

Música Mais Popular: Sou Serrana, Sou Mulher.

Letra e Música: Eduardo Gomes



sexta-feira, 22 de setembro de 2023

 

FUNDAÇÃO SÃO JOÃO

TAMBÉM FAZ CULTURA



Na tarde de ontem, 21, o Presidente da Fundação São João Maxsoel Bastos e o Vice Presidente Institucional Léo Ribeiro de Souza receberam  o gerente do Sicredi Sr. Fabrício Andrade para entrega da placa de contemplação do projeto social Oficinas de Capacitação na arte da Declamação para atender jovens da periferia de Porto Alegre.

Mais um projeto do fundo social do Sicredi que a FSJ vai operacionalizar.

Serão 24 jovens em duas turmas de 12 alunos que receberão treinamento nas oficinas.




quinta-feira, 21 de setembro de 2023

 

HORA DE RECOLHER OS TARECOS 


Passado mais um vinte de setembro é hora de juntar a tarecama, fazer um rescaldo, ver o que foi proveitoso e o que devemos melhorar como cultores da nossa tradição gaúcha. 

Esse, tal qual os tempos de pandemia, foi um ano atípico em virtude das enchentes que assolaram nosso Estado. O espírito não estava para festejos. Mesmo assim muitas cidades ignoraram as recomendações e realizaram seus desfiles. Em virtude destes acontecimentos se nota a falta de um comando. Alguém que realmente centralize as decisões. Talvez a busca de protagonismo tenha colaborado para que cada um puxe a brasa para seu assado. Ao mesmo tempo, falta um apoio institucional mais forte. 

Comissão Estadual dos Festejos Farroupilhas, MTG, Prefeituras. Nossas tradições são profundas, talvez seja a saída para a indústria sem poluição, ou seja, o turismo mas 2023 foi um ano quase sem divulgação de nossa data magna. O que circulou por aí foi um vídeo vindo da Noruega sobre as comemorações naquele País. 

Nosso maior evento, o Acampamento Farroupilha de Porto Alegre, apesar dos esforços incansáveis da coordenadora do evento Liliana Cardoso, encolheu, literalmente perdeu terreno pois a concessionária responsável por toda a Orla do Guaíba retirou espaço de dezenas de galpões para fazer estacionamento. Ficou tudo apertado, espremido. O atraso das obras do parque em virtude, inclusive dos protestos pela retirada das árvores, também prejudicou.    

Tenho certeza, pelos comentários, que diversos municípios tiveram êxitos em suas festividades. Contudo, um número bem maior apresentou diversos problemas similares que vão da falta de organização ao pouco interesse da comunidade. Por isso repetimos: É hora de juntar os tarecos, se reunir e debater sobre qual caminho a seguir.  

   


quarta-feira, 20 de setembro de 2023

 

UM POUCO DA NOSSA HISTÓRIA

A INVASÃO DE PORTO ALEGRE 


Combate da Ponte da Azenha - Óleo sobre tela de Guido Mondin 


Após diversas tentativas infrutíferas junto a Corte, no Rio de Janeiro, para que ouvissem os clamores da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, só lembrada quando precisavam da bravura de seus homens nas guerras cisplatinas, os republicanos decidiram invadir a capital Porto Alegre.

Reunidos nas proximidades do Moinho da Azenha, onde hoje se localiza os cemitérios da capital, em torno de 200 soldados comandados por Onofre Pires, primo do General Bento Gonçalves estavam de prontidão esperando a data aprazada (20 de setembro).     

Cientificado do fato, o Presidente da Província Antônio Rodrigues Fernandes Braga mandou que se armassem a Guarda Municipal Permanente, o Piquete de Cavalaria de primeira linha (cerca de 70 homens) e a Companhia de Guardas Nacionais a cavalo. Como dispunha de pouca força na capital, apelou a todos os cidadãos para que se reunissem, armados, conseguindo juntar um contingente de cerca de 270 homens. Para coordenar as forças legais nomeou o Brigadeiro Gaspar Mena Barreto, pois o Comandante das Armas, Marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto, estava ausente. Foram logo guarnecidos três pontos considerados importantes: o Palácio do Governo, o quartel da Guarda Municipal e o Trem de Guerra (arsenal).

Na noite de intensa neblina  de 19 para 20 de setembro, Braga enviou um piquete a cavalo para o reconhecimento do dispositivo revolucionário. Com um contingente de 20 homens da Companhia de Guarda Nacional, sob o comando do Major José Egídio Gordilho Barbuda, segundo Visconde de Camamu, que se oferecera espontaneamente para a missão. Os revolucionários, porém, já haviam deixado bombeadores (vigias) junto à ponte da Azenha. Camamu não possuía experiência de combate, particularmente em operações noturnas, e contava com tropas de voluntários. Ao primeiro sinal de alerta dos farroupilhas, o grupo avançado, liderado pelo Visconde, disparou suas armas e retraiu rapidamente, supondo tratar-se de uma forte reação dos revoltosos, provocando uma debandada geral que levou o pânico aos governistas de Porto Alegre. O piquete farroupilha, com sete homens, vendo-os fugir espavoridos, perseguiu-os, matando um e ferindo quatro, entre eles Camamu.

Começava, com esse episódio, a maior guerra civil de nosso País, a Revolução Farroupilha.  


terça-feira, 19 de setembro de 2023

 

NEBLINA DE CHURRASCO EM POA

O que era aquela névoa junto ao Centro de Porto Alegre no fim da tarde de sábado. Fosse de manhã, em qualquer dia do outono ou do inverno, a resposta certamente passaria por um banco de neblina raso gerado por resfriamento noturno. Mas não desta vez.


Carlos Correa / Correio do Povo 

Por: MetSul  https://metsul.com/porto-alegre-tem-neblina-de-churrasco/ .

A foto foi realizada ao entardecer no sábado após uma tarde com 32ºC de máxima na capital, logo não poderia ser neblina com temperatura tão elevada, explica a meteorologista. “A equipe da MetSul estava no Gasômetro no fim da tarde para fazer fotos do nível do Guaíba e do pôr do sol. Não havia restrição de visibilidade alguma na área da usina por nevoeiro ou neblina”, explica Estael Sias, meteorologista da MetSul. “O que tinha no ar era o cheiro do churrasco do acampamento perto”. Estael explica que durante o sábado a cidade de Porto Alegre estava sob influência de uma área de alta pressão atmosférica. Neste tipo de situação meteorológica, o movimento do ar é de cima para baixa, o que se denomima subsidência, o que explica porque a fumaça do churrasco na foto não subia e se expandia para os lados perto da superfície, criando o aspecto de uma neblina. “Era neblina de churrasco mesmo”, diz.


 

segunda-feira, 18 de setembro de 2023


A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 

NA HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL


pintura dos farrapos "no estilo de Claude Monet" 


Por: Juliana Bublitz


Conhecido como um dos polos de inovação em Porto Alegre, no 4º Distrito, o Instituto Caldeira recebe, a partir desta segunda-feira (18), uma exposição de obras artísticas 100% concebidas por inteligência artificial (IA) e inspiradas na história do Rio Grande do Sul.

Promovida pela startup Alana AI, a mostra "Arte e Alma da Revolução Farroupilha: Um Olhar Inspirado pela IA" aposta em cenas e personagens que fazem parte da cultura gaúcha.

Entre os destaques da exposição, estão uma pintura dos farrapos "no estilo de Claude Monet" e um quadro em que uma cuia de chimarrão ganha contornos "a la Van Gogh". As mulheres também ganham atenção especial, com representações de Anita Garibaldi.

A exibição que integra a programação da Semana Caldeira começa hoje e vai até a próxima sexta-feira (22), tem entrada franca e inscrições no site sympla.com.br. O evento contará com aulas, oficinas, palestras e conversas abertas com executivos do mundo todo.

A IA também já foi utilizada pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG-RS) para recriar imagens de personagens emblemáticos para o Rio Grande do Sul, entre eles os protagonistas da Revolução Farroupilha. As imagens foram enquadradas e começaram a ser expostas em agosto no Parque Histórico General Bento Gonçalves, em Cristal, no sul do Estado.


domingo, 17 de setembro de 2023


JORNAL DO COMÉRCIO FAZ BELA REPORTAGEM 

SOBRE O RITMO BUGIO


O tradicional Jornal do Comércio faz uma bela e ampla reportagem sobre o ritmo bugio. A matéria é assinada pelo repórter João Vicente Ribas. Tal reportagem foi publicada no dia 14 de setembro.


Roncos e histórias do bugio, 

o único ritmo reconhecidamente gaúcho. 

Apesar das disputas narrativas quanto à sua origem, o bugio pode ser oficializado enquanto patrimônio imaterial do Rio Grande do Sul

Apesar das disputas narrativas quanto à sua origem, o bugio pode ser oficializado enquanto patrimônio imaterial do Rio Grande do Sul


LEO RIBEIRO/REPRODUÇÃO/JC
João Vicente Ribas, especial para o JC
bugio é um mamífero nativo do continente americano, muito presente no Rio Grande do Sul. Quando ameaçado, além de atirar esterco, projeta uma vocalização grave característica, popularmente conhecida como ronco. Também é chamado de macaco-uivante ou guariba. Seu nome científico é Alouatta, da família Atelidae. Vive de 15 a 20 anos e mede de 55 a 91 centímetros de comprimento. Subdivide-se em diferentes espécies, como o bugio-preto e o ruivo.
É unanimidade que a referência a esse animal tenha nomeado o único gênero musical reconhecido como genuinamente gaúcho. Mas há pouco consenso em torno das circunstâncias e do local exato onde se originou. Algumas histórias envolvem tropeiros imitando o ronco do bugio com a gaita, outras valorizam a dança indígena que mimetiza seu andar. Recentemente surgiram teses que associam o ritmo a origens caipiras.
Nesta reportagem do Jornal do Comércio, a quarta da série Gêneros Musicais Gaúchos, verificamos as principais versões da gênese do bugio, ritmo binário muito presente hoje em bailes no Estado todo. Contamos ainda as disputas e acordos entre duas cidades gêmeas, uma serrana e outra missioneira, que se auto-intitulam berço do bugio. E ainda atualizamos informações sobre o processo de reconhecimento do ritmo como patrimônio imaterial.

O primeiro bugio

Irmãos Bertussi gravaram 'O Casamento da Doralícia', primeiro bugio registrado em disco

Irmãos Bertussi gravaram 'O Casamento da Doralícia', primeiro bugio registrado em disco


ACERVO PESSOAL ADELAR BERTUSSI/DIVULGAÇÃO/JC
O bugio ganharia notoriedade a partir de 1956, quando os Irmãos Bertussi gravaram o primeiro em disco: O Casamento da Doralícia. Foi um impulso para a popularização e para a consolidação como gênero musical. Na contracapa do LP Coração Gaúcho 2, que contém a canção, há um texto explicativo: "O Casamento da Doralícia - Bugio - conto gauchesco de Honeyde Bertussi e música também colhida do folclore. Bugio é um samba ritmado caracterizado pelo jogo de fole do gaiteiro. O passo da dança é de acordo com o movimento do fole".

Adelar Bertussi orgulhava-se em dizer que após essa gravação, o bugio virou moda em todo o Rio Grande do Sul. Em registro audiovisual (Gema, 2016), realizado pouco antes de falecer, assegurou que ele e seu irmão Honeyde conservavam os ritmos folclóricos e apenas criavam uma roupagem moderna no arranjo das gaitas.

Sobre o bugio, Adelar afirmou que é nativo indígena: "a tribo dos kaingang aqui dançavam bugio a madrugada inteira". No entanto, parte da sociedade serrana desaprovava-o por causa da sensualidade atribuída aos movimentos. "Era proibido nos bailes aqui em cima dançar a dança do bugio", recordou.

Outras canções célebres vieram a seguir e ajudaram a consagrar o gênero. Na Califórnia da Canção, em 1973, dois bugios de São Borja foram classificados para a final e entraram para a história (veja cronologia abaixo). No entanto, nos festivais nativistas em geral é raro apresentarem o ritmo. E dificilmente sai vencedor. Já nos eventos exclusivos para o bugio, grandes gaiteiros do gênero, como Edson Dutra, dos Serranos, e Albino Manique, dos Mirins, participam e concorrem aos primeiros prêmios.

Uma das composições mais populares, até hoje entoada Estado afora, é Levanta Bugio, de Leonardo. Defendida pelo cantor junto ao grupo Os Monarcas, venceu em 1986 a primeira edição do festival Ronco do Bugio.

Ronco que ressoa na cordeona

Léo Ribeiro já participou do Ronco do Bugio como compositor, organizador, jurado, apresentador e ilustrador das capas dos álbuns

Léo Ribeiro já participou do Ronco do Bugio como compositor, organizador, jurado, apresentador e ilustrador das capas dos álbuns


JOÃO VICENTE RIBAS/ESPECIAL/JC
Yamandu Costa, hoje violonista famoso internacionalmente, venceu em 1995 a categoria infanto-juvenil do Ronco do Bugio, em São Francisco de Paula. E cantando! O jovem Diamandú, conforme assinava, interpretou Gaita Mulata, de autoria de Léo Ribeiro.
Essa é uma das memórias que o autor serrano guarda de tantos anos de festival. Léo participou de todas as edições, de diversas maneiras. Além de compositor, foi organizador, jurado, apresentador e, inclusive, criou capas de discos. A imagem que divulga a próxima edição tem a sua assinatura. Seu exemplo ilustra o envolvimento apaixonado dos moradores da cidade em torno do gênero.
Léo Ribeiro reforça o coro de que o bugio foi criado no Estado, diferente de outros ritmos presentes nos bailes, como a vanera, o xote, a valsa, a milonga, que teriam vindo de outros lugares. "O único ritmo que realmente foi parido no Rio Grande do Sul foi o bugio", sustenta.
A narrativa da origem indígena, com a participação dos tropeiros, faz sentido para Léo. "Nas rondas fechadas, quando chegavam naquelas propriedades que tinham mangueira, largavam o gado dentro, iam relaxar, tocar, dançar, e dizem que daí surgiu o bugio", afirma.
Para reforçar o argumento, cita o folclorista Paixão Côrtes e suas pesquisas sobre as danças masculinas: "dizia que os tropeiros dançavam inclusive entre eles, entre os homens". Daí teria saído a chula, a dança do bugio, que também era dançada com as indígenas. Inspiravam-se no jeito desengonçado do animal: "assim como a música é uma imitação do ronco, a dança é uma imitação do caminhar do primata".
Mas Ribeiro reconhece que existem muitas dúvidas e coloca mais lenha na discussão: "agora já surgiu uma nova versão, que o bugio teria origem paulista". E explica que um ritmo muito próximo teria sido trazido pelos tropeiros que vinham de São Paulo e passavam por aqui, a batida da moda de viola, o cururu. "Então os gaúchos botaram o som da gaita e virou o bugio", supõe.
 Livro resgata histórias do bugio com 'u'
Os Mirins estão entre os grupos que mantêm a tradição do bugio nos bailes

Os Mirins estão entre os grupos que mantêm a tradição do bugio nos bailes


ARTE DE LÉO RIBEIRO/REPRODUÇÃO/JC
Boa parte dessas controvérsias foram registradas em um livro lançado no ano passado: O Ritmo Musical do Bugiu Nos Campos de Cima da Serra e no Rio Grande do Sul. Nele, o autor Israel da Sois Sgarbi comenta e compara versões da origem, grafando sempre o nome do ritmo com a letra "u" no final, para diferenciar do macaco.
Sgarbi também abre mão de chegar a uma explicação única, devido à sua complexidade histórica. "Não acontece num só momento, não pode ter sido criado por uma única pessoa, isoladamente". Por isso, considera elementos como a natureza, o cotidiano das pessoas, a época e os instrumentos disponíveis. Aos indígenas, atribui a batida, a cadência, "essa parte ritualística ao redor de uma fogueira".
Enfrentando polêmicas, Sgarbi aprofunda as diferenças entre os tipos de gaitas, usadas pelos pioneiros do ritmo. E explica que a gaita de botão de voz trocada, que era comum na época em todo o Estado, não permitia fazer o jogo de fole característico. Já gaiteiros como Virgílio Leitão, negro serrano que tocava um acordeon semicromático, tinham a condição técnica para imitar o ronco no instrumento. Assim, conclui que "o bugiu ficou pronto pra enfrentar o mundo na gaita piano".
Contudo, Sgarbi contemporiza os inúmeros relatos que enriquecem o gênero. "Todas as pessoas que entrevistei ao longo de dez anos até chegar neste livro diziam conhecer um gaiteiro véio antigo, que tocava bugiu no galpão do fulano no fundão de tal lugar", escreve. 

Mistura de influências ancestrais e atuais

O músico Valdir Verona toca bugio na viola de 10 cordas, remetendo à influência tropeira

O músico Valdir Verona toca bugio na viola de 10 cordas, remetendo à influência tropeira


JOÃO VICENTE RIBAS/ESPECIAL/JC
Superando seu próprio preconceito, Valdir Verona hoje toca bugio ao violão e até na viola de 10 cordas. "Parecia pra mim que era só para gaita", recorda. Foi quando estava compondo estudos para um método de ritmos gaúchos que acabou se convencendo em incluir o bugio. "O Adelar Bertussi comentou que poderia ter sido tocado com viola também, ou com tambores, ou com qualquer coisa, porque antigamente o pessoal dançava até sem música, pessoal era empolgado", conta.
O músico e pesquisador de Caxias do Sul é cauteloso. No entanto, fica instigado com a possível influência sertaneja no surgimento do gênero, a partir das tropeadas paulistas no período colonial. "Como ritmo, o bugio se assemelha mais a uma célula que tem no cururu, que é um ritmo muito tocado na música caipira", avalia. Um exemplo está no sucesso O Menino da Porteira (Teddy Vieira/ Luís Raimundo, 1955). "Não estou dizendo que vem dali, mas existe a ligação", observa.
Verona compara também a célula do bugio com as do maxixe, do lundu e da habanera. "A partir do momento que tem essa colcheia pontuada, isso é afro", conclui. Por isso, acredita que é insuficiente a análise apenas sobre o ritmo. Existe toda uma linguagem que compõe o gênero musical. Com isso, assegura que o jeito de tocá-lo no acordeon é único dos gaúchos. 

'Sempre foi um ritmo muito festivo'

Elton Saldanha confere romantismo e humor ao gênero

Elton Saldanha confere romantismo e humor ao gênero


ACERVO PESSOAL ELTON SALDANHA/REPRODUÇÃO/JC
Elton Saldanha venceu duas vezes o Ronco do Bugio. A primeira, em 1987, com a parceria de Aparício Silva Rillo, Bugio do Adeus. Depois, em 1993, com a canção Briga de Bugia, que levou como brincadeira e conquistou o voto popular. "Nem imaginava que fosse ganhar algum prêmio e ganhei o festival, porque o povo se identificou", relembra.
Desta forma, o cantor e compositor contribuiu para uma mudança temática: antes, as letras tratavam o bicho como um perigo. "A gente começou a cantar o bugio de forma romântica, o que não se fazia, e a falar do animal como guardião daquela cultura."
Também inseriu o humor, a exemplo de Bugio na Estância da Harmonia, canção feita para divertir a gauchada da Capital na Semana Farroupilha. Já no festival da Barranca, em São Borja em 1988, compôs com Tadeu Martins o bugio Viroca, uma sátira social que acabou levando à criação do troféu Quá-Quá, para músicas jocosas.
Sua inspiração vem de contatos com o animal: "na minha cidade, Itaqui, tinham uns bugios tão mansos que eles desciam das árvores para a calçada, pegavam da tua mão e iam até a esquina, caminhando, para ver se tu dava alguma coisa para ele". Já no festival da Barranca, Elton relata que os bugios se agitam muito com a música do acampamento. "Às vezes, eles brigam com a gente, arremessam coisas", conta.
A partir de sua experiência em bailes e shows, Elton observa que as pessoas gostam de dançar, por reconhecerem ali um ritmo muito intenso gaúcho. "O bugio sempre foi um ritmo muito festivo", salienta. 

Precursores e mantenedores da querência

São Francisco de Assis ergueu monumento a Neneca Gomes, um dos gaiteiros pioneiros

São Francisco de Assis ergueu monumento a Neneca Gomes, um dos gaiteiros pioneiros


ERI CÔRTES/DIVULGAÇÃO/JC
Na década de 1980, um grupo de amigos se uniu para criar um festival dedicado ao bugio em São Francisco de Assis. De acordo com um dos organizadores, o historiador Valdevi Maciel, uma das motivações foi o livro ABC do Tradicionalismo Gaúcho, de Salvador Lamberty. Nele, consta que o nascimento do bugio teria ocorrido a partir do gaiteiro Neneca Gomes.
Valdevi reconta a história do precursor, que teria vindo no século XIX para plantar e cultivar erva-mate nas fazendas do Mato Grande, no quinto distrito do município. Como participava de bailes e cantava de improviso, começou a fazer sucesso na região. Ali foi observando os bugios e incorporando seu ronco no toque da gaita. "É claro que esse ritmo não surgiu de uma vez só, ele foi tocando aquelas partes devagarinho, depois juntaram tudo e se formou o ritmo bugio", pondera.
Na terra de Neneca Gomes, há diversos músicos que mantêm a tradição. Eri Côrtes é um dos mais atuantes, ao lado de grupos como Ases do Fandango e Vistaço. "Nós temos vários conjuntos musicais da terra que viajam no interior do Rio Grande do Sul e até fora, sempre levando o nome da cidade", diz.
O animal bugio também mantém um vínculo bem próximo com a comunidade de São Francisco de Assis, habitando as duas praças principais da cidade. "Ele é um patrimônio para nós, nós preservamos, nós cultuamos. Onde a gente sai, a gente fala que somos da Querência do Bugio", afirma Côrtes. 

O bugio é de São Francisco

Célula rítmica do bugio publicada no livro Gêneros Musicais Campeiros no Rio Grande do Sul (2006)

Célula rítmica do bugio publicada no livro Gêneros Musicais Campeiros no Rio Grande do Sul (2006)


VALDIR VERONA/REPRODUÇÃO/JC
Nisto a maioria concorda: o bugio originou-se em São Francisco. Agora, se foi em São Francisco de Assis, nas Missões, ou em São Francisco de Paula, na Serra, já não há consenso. Mas neste ano houve um "acordo de paz" entre as duas cidades, para reconhecer o ritmo como patrimônio do Rio Grande do Sul.
Os dois municípios já haviam aprovado leis de âmbito local, declarando o bugio como patrimônio. Também costumam promover há décadas festivais dedicados ao gênero (esses eventos estão sendo reativados em 2023, após os anos de pandemia).
Cada uma possui uma narrativa própria para o nascimento do ritmo. Prescilla Saquett, Diretora de Cultura de São Francisco de Assis, afirma: "Nós aceitamos esta união, nós vamos falar das nossas origens e eles falarão das origens de lá."
Com o trabalho conjunto, os gestores públicos esperam que o bugio não fique restrito aos bailes e concursos das entidades tradicionalistas. Também esperam obter mais recursos para promoção de outras atividades relacionadas a este patrimônio. 

Em busca do reconhecimento como patrimônio imaterial

Capa do disco comemorativo da 24ª edição do Ronco do Bugio

Capa do disco comemorativo da 24ª edição do Ronco do Bugio


ARTE DE LÉO RIBEIRO/REPRODUÇÃO/JC
erva-mate foi reconhecida neste ano pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE), ligado à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac). Tratou-se do primeiro processo concluído de patrimônio imaterial gaúcho. Agora, o ritmo musical bugio também pode obter esse reconhecimento. Está em fase de mapeamento e até 2025 deverá ser emitido um parecer, para apreciação por uma câmara temática, e depois publicada uma portaria.
Rafael Filter, historiador do IPHAE, relata que a demanda do bugio veio da reunião dos municípios de São Francisco de Paula e de São Francisco de Assis, que encerraram uma rusga em relação à origem. "Para além de uma disputa histórica por fatos, o trabalho do registro é compreender a relevância desse bem cultural para as memórias, para as identidades dos diferentes grupos sociais, independente da extensão territorial", afirma.
Para começar o registro, foi realizado um seminário conjunto no ano passado, com representantes das duas regiões. Durante o encontro, o historiador relata que participaram pessoas que vivem o ritmo. "Tocavam e choravam, ou seja, elas estavam sendo afetadas por aquilo, porque tem para elas uma relevância de memória, de identidade".
Assim, Filter conclui que o patrimônio cultural não é algo do passado, mas, aquilo que se considera relevante no presente. Por isso, explica que procurar um aspecto genuíno, do ponto de vista da História, é praticamente impossível. "Nunca se tem uma evidência, uma fonte que comprove que algo é único ou que é o primeiro de todos. É sempre uma construção narrativa", afirma.
Renato Savoldi, diretor do IPHAE, destaca que o patrimônio imaterial também exige manutenção: "são as medidas que vão ser tomadas para salvaguardar esse bem". No caso do bugio, as propostas ainda não estão definidas, mas podem envolver ações de educação para o patrimônio. "Criar oficinas, saber quem são esses músicos, torná-los mestres. Além disso, divulgar, tanto a nível estadual como nacional e internacional", projeta. 

Cronologia do bugio na música gaúcha

Os Irmãos Bertussi, Adelar e Honeyde, gravaram o primeiro bugio em disco

Os Irmãos Bertussi, Adelar e Honeyde, gravaram o primeiro bugio em disco


ACERVO IMHC-UCS/REPRODUÇÃO/JC
1956 - Irmãos Bertussi gravam no Rio de Janeiro a canção O Casamento da Doralícia, o primeiro registro fonográfico de um bugio.
1973 - Na 3ª Califórnia da Canção Nativa, duas composições de São Borja se classificam para a final, baseadas no ritmo do bugio. Os Angüeras tocam Vida é Jogo, Jogo é Sorte, e Telmo de Lima Freitas canta Resto de Baile.
1986 - É realizada a primeira edição do festival Ronco do Bugio, em São Francisco de Paula.
1993 - São Francisco de Assis promove a primeira edição do festival Querência do Bugio.
2023 - Inicia oficialmente o processo de reconhecimento do bugio como patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Sul.

Festivais em 2023

30º Ronco do Bugio
São Francisco de Paula
22 e 23 de setembro

16º Querência do Bugio
São Francisco de Assis
12, 13 e 14 de outubro

* João Vicente Ribas é jornalista especializado em música. Doutor em Comunicação pela PUCRS. Foi repórter da TVE-RS e professor da UPF.