BATEU SAUDADES DESTE AMIGO
Desenho: Léo Ribeiro
Meio apartado do povo, aqui pelo litoral (os
veranistas já abriram o pala), vez em quando bate uma
nostalgia. Hoje é um destes dias.
Meu saudoso amigo Porca Véia,
se fisicamente estivesse entre nós, estaria completando mais um ano de vida. Nasceu
num 02 de março de 1952.
O Porca foi uma referência para
mim. Era destes que comprava qualquer parada para defender um amigo. Franco,
leal, farrista, gaiteiro dos buenos, junto com Honeyde Bertussi foi meu grande
ídolo no gauchismo.
Acreditando haver uma nova vida
em outro plano ainda quero abraçar este parceiro novamente.
Em tempo: Quando anunciou que não
animaria mais fandangos por causa de sua enfermidade rabisquei esta letra que o
José Claro musicou.
O ÚLTIMO BAILE
Letra: Léo Ribeiro / Música: José Claro – Zezinho
No palco de um baile campeiro
o grande gaiteiro sua vida repassa.
Seus versos, por vezes tristonhos,
embalaram sonhos de toda uma raça.
Nos olhos já brotam saudades
de uma mocidade de lindos momentos.
No peito são tantas lembranças
que ficam d’ herança pro resto dos tempos.
Seu toque é do estilo mais puro,
luzeiro no escuro, tem cheiro de chão,
seu jeito de taura sem medo
brotou no varzedo do velho Pontão.
E agora seus bailes têm fim,
o mundo é assim, se cala o cantor,
não mais a negra cordeona
se abrindo, chorona, sobre o tirador...
Pataqüero da estirpe indomada,
fez da “pianada” fiel companheira
levando ao peão lá de fora
a arte sonora terrunha e campeira.
Na estampa o antigo Rio Grande,
nas veias o sangue de quem faz história,
descansa, mas sua jornada
fica na invernada de nossa memória.
Pois eu que admiro este taita
i’enxergo na gaita a alma do homem
afirmo: - não morre seu canto,
num fundo de campo ecoa seu nome.
Rebrota qual seiva nativa
mais verde e mais viva depois da queimada
voltando de novo o gaitaço
na força do braço desta gurizada.
Porca Véia, amigo e parceiro,
gaudério tropeiro de lindas canções,
enquanto uma gaita se abrir
o teu toque há de vir alegrar os galpões.
Obrigado por tanta alegria
eu sei que um dia o mundo dá volta.
Te esperamos com erva na cuia
e o teu grito de “uiiaaa” noutro baile tu solta.