RETRATO DA SEMANA

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Reis Magos Gaúchos - Berega

domingo, 30 de outubro de 2022

 

REFAZENDO AMIZADES

 

As eleições de 2022 protagonizaram marcas de um radicalismo extremado. Muitos amigos deixaram longos anos de convivência em troca de fazer valer sua opinião.

A campanha presidencial rachou o país inteiro. Em suas propagandas eleitorais, no marketing, nos debates e discursos, candidatos e seus respectivos partidos apelaram para os ataques. O clima pesou nas redes sociais, nas mesas de bar, nos almoços em família e nos ambientes de trabalho. Na urgência de tentar convencer o amigo, vizinho, namorado ou colega, muitos esqueceram de regras básicas da democracia – respeitar o direito do outro à própria opinião e não atribuir essa opinião à ignorância ou má-fé. Se respeitadas essas duas regras, o adversário não vira inimigo e a opinião diferente não vira ofensa. “A disputa política mexe com as emoções, como medo de perder e de se frustrar. É aí que mora o perigo”, afirma Antonio Carlos Pereira, psicólogo e professor da PUC-SP.

A eleição acabou neste domingo e a vida segue nesta segunda-feira. O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, governará para as duas metades, talvez para um país dividido.

Política se discute, sim. Diferente de futebol e religião, posições políticas deveriam se orientar pela lógica e podem mudar com o tempo, conforme muda o ambiente e conforme surgem informações novas. Mas o melhor é fazer as pazes. A seguir, algumas sugestões de como conseguir a reconciliação.

Confira seis dicas para reconquistar tais amizades, aliviar o clima com colegas de trabalho e voltar às boas no namoro depois das discussões eleitorais. 

1. SAIBA ESPERAR

Passada a apuração, mesmo que sua intenção seja colocar uma pedra sobre os desentendimentos e recuperar a amizade, espere. Não telefone, não mande mensagens, não chame para conversar pela internet. Espere alguns dias, para que os ânimos comemorativos dos vitoriosos e a frustração dos derrotados se dissipem um pouco. Enquanto o assunto ainda estiver quente, as chances de uma conversa conciliatória desandar para outra briga são grandes. “Às vezes, o silêncio é a melhor estratégia para resolver a situação”, diz Pereira. 

2. CONTENHA A EUFORIA OU A FRUSTRAÇÃO

Se o seu candidato ganhou, fuja da comemoração ostensiva. Não grite o nome do seu candidato, não ofenda o que perdeu, não faça piadas com os eleitores do derrotado (isso vale para todo ambiente, do escritório à internet). Vale um conselho similar se o seu candidato perdeu: demonstrações públicas de raiva, de desejo de confrontação e de suspeição quanto à lisura do resultado tornam mais difícil reatar relacionamentos. 

3. REDES SOCIAIS NÃO SÃO A VIDA

Se a briga aconteceu numa rede social, publicamente, lembre que esse tipo de ambiente virtual baixa inibições e estimula o radicalismo. Muita gente publica comentários com o objetivo de conseguir felicitações e compartilhamento, e não defender um ponto de vista. “Nas redes sociais, muitos usuários querem chamar a atenção. Mesmo quem não é radical fora do computador, às vezes se comporta de forma diferente na frente do teclado”. Se quiser retomar a conversa também por meio da internet, faça isso primeiro de forma privada, por mensagem particular ou e-mail. Seja objetivo: se acha que passou do limite, peça desculpas e afirme que considera o relacionamento pessoal de vocês mais importante que a discordância política. Se sua ofensa foi grave, pública e impossível de apagar, o outro lado tem o direito de só acreditar num pedido de desculpas igualmente público. 

4. CUIDADO COM A TURMA QUE PEDE “BRIGA! BRIGA!”

É comum que uma briga online pública atraia palpiteiros. Pode ser gente sem intimidade com quem está brigando, e por isso mesmo mais inconsequente ao disparar comentários impróprios. Eles tornam o ambiente ainda mais belicoso entre os debatedores, sem ter nada a perder com isso. Use sem receio as ferramentas de edição de comentários – exclua ofensas e agressões, mesmo que tenham sido a seu favor e mesmo que tenham sido escritas faz tempo. Isso mostrará ao outro lado que o seu pedido de desculpas é sincero. Se você considerar algum comentário seu também inadequado e puder apagá-lo, faça- o. 

5. OBSERVE O MUNDO PELOS OLHOS DO OUTRO

Pedir desculpas sinceras será difícil, se você acha que o outro lado só pensa como pensa por causa de motivos ruins, como ignorância, má-fé, tolerância com a corrupção ou insensibilidade quanto aos problemas sociais. Tente entender as causas, anseios e receios do outro. Ele pode apenas atribuir pesos distintos aos mesmos critérios de escolha que você usa. Ou pode ter uma experiência pessoal diferente da sua, e que seja determinante para o voto. “Continuar a olhar para a situação apenas a partir do seu próprio ponto de vista facilita o tropeço na desastrosa repetição da pressão que não deu certo ou no deslize para a tortura do silêncio”, afirmam os professores americanos de administração Allan Cohen, da Babson College, e David Bradford, da Universidade Stanford, no livro “Influência sem autoridade”. 

6. ENFATIZE O QUE VOCÊS TÊM EM COMUM

Política é o território dos acordos, não da exclusão. Entre adversários políticos que aceitam o jogo democrático, sempre há possibilidade de encontrar opiniões e causas comuns.  O guru americano de negociação Robert Cialdini recomenda que uma aproximação comece com a descoberta de semelhanças, de áreas para elogios sinceros e de oportunidades de cooperação. Pense na reaproximação como uma tentativa de influenciar o outro – para que ele desculpe você e a amizade volte a ser como era antes.