REFAZENDO AMIZADES
As eleições de 2022 protagonizaram marcas
de um radicalismo extremado. Muitos amigos deixaram longos anos de convivência
em troca de fazer valer sua opinião.
A campanha presidencial rachou o
país inteiro. Em suas propagandas eleitorais, no marketing, nos debates e
discursos, candidatos e seus respectivos partidos apelaram para os ataques. O
clima pesou nas redes sociais, nas mesas de bar, nos almoços em família e nos
ambientes de trabalho. Na urgência de tentar convencer o amigo, vizinho,
namorado ou colega, muitos esqueceram de regras básicas da democracia –
respeitar o direito do outro à própria opinião e não atribuir essa opinião à
ignorância ou má-fé. Se respeitadas essas duas regras, o adversário não vira
inimigo e a opinião diferente não vira ofensa. “A disputa política mexe com as
emoções, como medo de perder e de se frustrar. É aí que mora o perigo”, afirma
Antonio Carlos Pereira, psicólogo e professor da PUC-SP.
A eleição acabou neste domingo e a
vida segue nesta segunda-feira. O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva,
governará para as duas metades, talvez para um país
dividido.
Política se discute, sim.
Diferente de futebol e religião, posições políticas deveriam se orientar pela
lógica e podem mudar com o tempo, conforme muda o ambiente e conforme surgem
informações novas. Mas o melhor é fazer as pazes. A seguir, algumas sugestões
de como conseguir a reconciliação.
Confira seis dicas para reconquistar tais amizades, aliviar o clima com colegas de trabalho e voltar às boas no namoro depois das discussões eleitorais.
1. SAIBA ESPERAR
Passada a apuração, mesmo que sua intenção seja colocar uma pedra sobre os desentendimentos e recuperar a amizade, espere. Não telefone, não mande mensagens, não chame para conversar pela internet. Espere alguns dias, para que os ânimos comemorativos dos vitoriosos e a frustração dos derrotados se dissipem um pouco. Enquanto o assunto ainda estiver quente, as chances de uma conversa conciliatória desandar para outra briga são grandes. “Às vezes, o silêncio é a melhor estratégia para resolver a situação”, diz Pereira.
2. CONTENHA A EUFORIA OU A
FRUSTRAÇÃO
Se o seu candidato ganhou, fuja da comemoração ostensiva. Não grite o nome do seu candidato, não ofenda o que perdeu, não faça piadas com os eleitores do derrotado (isso vale para todo ambiente, do escritório à internet). Vale um conselho similar se o seu candidato perdeu: demonstrações públicas de raiva, de desejo de confrontação e de suspeição quanto à lisura do resultado tornam mais difícil reatar relacionamentos.
3. REDES SOCIAIS NÃO SÃO A VIDA
Se a briga aconteceu numa rede social, publicamente, lembre que esse tipo de ambiente virtual baixa inibições e estimula o radicalismo. Muita gente publica comentários com o objetivo de conseguir felicitações e compartilhamento, e não defender um ponto de vista. “Nas redes sociais, muitos usuários querem chamar a atenção. Mesmo quem não é radical fora do computador, às vezes se comporta de forma diferente na frente do teclado”. Se quiser retomar a conversa também por meio da internet, faça isso primeiro de forma privada, por mensagem particular ou e-mail. Seja objetivo: se acha que passou do limite, peça desculpas e afirme que considera o relacionamento pessoal de vocês mais importante que a discordância política. Se sua ofensa foi grave, pública e impossível de apagar, o outro lado tem o direito de só acreditar num pedido de desculpas igualmente público.
4. CUIDADO COM A TURMA QUE PEDE
“BRIGA! BRIGA!”
É comum que uma briga online pública atraia palpiteiros. Pode ser gente sem intimidade com quem está brigando, e por isso mesmo mais inconsequente ao disparar comentários impróprios. Eles tornam o ambiente ainda mais belicoso entre os debatedores, sem ter nada a perder com isso. Use sem receio as ferramentas de edição de comentários – exclua ofensas e agressões, mesmo que tenham sido a seu favor e mesmo que tenham sido escritas faz tempo. Isso mostrará ao outro lado que o seu pedido de desculpas é sincero. Se você considerar algum comentário seu também inadequado e puder apagá-lo, faça- o.
5. OBSERVE O MUNDO PELOS OLHOS DO
OUTRO
Pedir desculpas sinceras será difícil, se você acha que o outro lado só pensa como pensa por causa de motivos ruins, como ignorância, má-fé, tolerância com a corrupção ou insensibilidade quanto aos problemas sociais. Tente entender as causas, anseios e receios do outro. Ele pode apenas atribuir pesos distintos aos mesmos critérios de escolha que você usa. Ou pode ter uma experiência pessoal diferente da sua, e que seja determinante para o voto. “Continuar a olhar para a situação apenas a partir do seu próprio ponto de vista facilita o tropeço na desastrosa repetição da pressão que não deu certo ou no deslize para a tortura do silêncio”, afirmam os professores americanos de administração Allan Cohen, da Babson College, e David Bradford, da Universidade Stanford, no livro “Influência sem autoridade”.
6. ENFATIZE O QUE VOCÊS TÊM EM
COMUM
Política é o território dos
acordos, não da exclusão. Entre adversários políticos que aceitam o jogo
democrático, sempre há possibilidade de encontrar opiniões e causas comuns. O guru americano de negociação Robert Cialdini
recomenda que uma aproximação comece com a descoberta de semelhanças, de áreas
para elogios sinceros e de oportunidades de cooperação. Pense na reaproximação
como uma tentativa de influenciar o outro – para que ele desculpe você e a
amizade volte a ser como era antes.