RETRATO DA SEMANA

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Identidade Visual dos Festejos Farroupilha 2024 / Cintia Matte Ruschel

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

QUEM ERAM AS CARPIDEIRAS


Carpideiras

Há três ontontes falamos aqui sobre as benzedeiras e fiz uma breve referência sobre as carpideiras. Pois alguns de nossos leitores fizeram contato solicitando que falássemos um pouco mais sobre o tema.

Nos meus tempos de moço, os velórios eram realizados nas próprias casas dos finados. Se a sala fosse pequena, como os ranchos eram de madeira, se retirava alguma parede para dar mais espaço.

Diante do corpo inerte, entre um terço cantado e outro  (as mulheres cantavam as contas do rosário), era servido roscas de milho, bolinhos fritos, torresmo e, na madrugada, um brodo quente (caldo de galinha). Disfarçadamente a gauchada repassava uma boteja de canha, para aguentar o tirão da noite fria.

Nestes encontros não faltava assunto. Se falava de lavouras, se atava algum câmbio ou  mesmo alguma carreira, se tratava de serenatas, se iniciava algum namoro... Tudo com muito repeito!

Hoje em dia os velórios são feitos em capelas e aqui pela capital tem que abrir o olho. Não se fica mais a noite inteira guardando o finado por causa dos assaltos. Mas lá pelo interior os tiriricas, os mãos-peladas, os graxains, os sorros-mansos, ainda não deram as caras pois sabem que o pau-de-fogo esquenta o cano...

Nunca vi, lá pela região da serra, as famosas "carpideiras".

Carpideira é uma profissional feminina cuja função consiste em chorar para um defunto alheio. Os homens eram considerados impróprios para isso porque deveriam ser fortes e líderes da família, não dispostos a mostrar qualquer tipo de emoção crua como a tristeza.

É feito um acordo monetário entre a carpideira e os familiares do defunto, a carpideira chorava e mostrava seus prantos sem nenhum sentimento, grau de parentesco ou amizade.

A profissão existe há mais de 2 mil anos. Mencionada na Bíblia e em outros textos religiosos, a ocupação é amplamente invocada e explorada na literatura, desde os épicos ugaríticos do início dos séculos AC à poesia moderna. Há também menções às carpideiras em documentações iconográficas e documental da Antiguidade e, em alguns países do mundo, diferentes culturas continuam praticando usos semelhantes.

Seu uso sempre foi variável no ritual fúnebre, desde a possibilidade de infectar ou causar imitações de choro nos familiares para realizar uma catarse de luto, até para aumentar a importância social de um falecido. Algumas culturas creem que o uso das carpideiras traz uma certa aplicação religiosa e histórica às procissões fúnebres. De acordo com Tom Lutz, em seu livro “A História Cultural das Lágrimas”, nos tempos antigos, o luto dos enlutados ajudava a limpar a alma do falecido e a trazê-lo à plenitude.

No Brasil este ofício é mais comum na região nordeste.