Como hoje é domingo, dia que temos um tempinho a mais, vamos a um causo bem gauchesco. Desta feita buscamos uma pataquada recolhida pelo saudoso e imortal Apparício Silva Rillo, transcrito em seu livro Rapa de Tacho Vol. 2.
MILICIANAS
Maurício Fagundes, por apelido "Mosquetão", era protegido do então tenente-coronel Serafim Vargas, que comandava, no governo de Jucelino, o Regimento João Manoel, de São Borja.
Chegara o Maurício, aos trancos e barrancos, à graduação de primeiro-sargento. Era uma espécie de soldado campeiro. Competia-lhe o cuidado da invernada do quartel, o racionamento de bovinos de raça e cavalos de salto, a tirada do leite e serviços desta natureza. Nem mesmo chamada respondia.
Substituído Juscelino Kubitschek por Jânio Quadros, houve um remanejamento nos comandos do 3º Exército. O tenente-coronel Serafim foi transferido para a cidade de Uruguaiana e outro oficial veio comandar o João Manoel.
Mosquetão - que tinha horror ao apelido - foi exonerado de suas funções de capataz da invernada e destacado para sargenteante de um dos batalhões. Homem de escassas letras, anos e anos na mesma tarefa, foi com extrema dificuldade que passou a se readaptar à rotina do quartel.
Chegavam ao quartel, de diversos pontos das Missões, os conscritos da classe que devia servir naquele ano e tocou ao Mosquetão pronunciar, na ausência do sargento-instrutor, uma aula sobre armamentos convencionais aos recrutas. Sentados em semi-círculo, cabeças raspadas a máquina, com menos de uma semana de quartel, a rapaziada prestava medrosa atenção ao instrutor.
Apanhando um fuzil o sargento dirigiu-se à turma:
- Quem me diz como é o nome desta arma?
Olharam-se os recrutas, indecisos. Um deles, mais afoito, animou-se à resposta:
- Eu sei, sargento.
- Pois se alevante e diga em voz alta.
- Mosquetão!
O sargento saltou dos coturnos.
- Mosquetão é a tua mãe, guampudo! Sargento Maurício é o meu nome!