Ao iniciar o mês de setembro diversas cavalgadas com a intenção de trazer a Chama Crioula até a sede de cada município rio-grandense estão sendo realizadas. Mas o leitor sabe qual foi a maior cavalgada que já ocorreu até hoje?
Um dos grandes feitos
promovidos pelo cavalo Crioulo ocorreu em 1925, quando o suíço Aimé Félix
Tschiffely iniciou uma peregrinação com dois animais da raça. Os cavalos Gato,
com 16 anos, e Mancha, com 15 anos, de propriedade da Estância El Cardal, do
criador Emilio Solanet, partiram de Buenos Aires e atravessaram 21,5 mil
quilômetros até chegar em Nova Iorque no dia 22 de setembro de 1928, com
direito à desfile na famosa Quinta Avenida, que parou para reverenciar o feito.
O objetivo de
Tschiffely era realizar a travessia das Três Américas no lombo dos dois
animais. Foram 504 etapas com percursos médios de 42,6 quilômetros por dia. No
caminho, enfrentaram a altitude de 5,9 mil metros do Passo de El Condor, na
Bolívia, depois de ter enfrentado as nevascas da Cordilheira dos Andes. No
caminho das 23 nações que atravessaram, alguns obstáculos como o Deserto
Mata-Cavalo, no Peru, e selvas da América Central não foram páreos para a
resistência dos animais, que cresceram na Patagônia e estavam acostumados às
adversidades do clima.
Para o coordenador da
Subcomissão de Resistência da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos
Crioulos (ABCCC), Alexandre Selistre, a jornada foi uma propaganda para o mundo
da resistência e rusticidade do cavalo Crioulo. Além disso, o feito do trio
serviu de inspiração para a criação das marchas de resistência, que depois
foram adaptadas para reproduzir em uma prova o trabalho das tropilhas das
estâncias antigas. "Era uma aventura, ele não sabia se estes cavalos iriam
voltar desta jornada. Por acreditar nisto é que o Solanet cedeu os animais e a
façanha foi realizada e é lembrada por qualquer um que goste de andar à
cavalo", afirma.
A jornada de Gato, Mancha e Tschiffely foi eternizada no Museu Enrique Udaondo na cidade de Luján, província de Buenos Aires. Os dois animais foram embalsamados após suas mortes, nos anos 40, e estão expostos no local. O desbravador suíço, falecido em 1954, teve suas cinzas sepultadas em Ayacucho, onde fica a Estância El Cardal.