Do livro: Rapa de Tacho / Apparício da Silva Rillo
Seu Deco era um tipo
popularíssimo na então vila de Bossoroca, nas Missões. Uma espécie de faz-tudo, seu Deco pegava em qualquer ponta, fosse em serviço de campo, fosse em ofícios
urbanos. E o que o distinguia era o fato
de, via de regra, responder em versos as indagações que lhe faziam. Por isso
era considerado o poeta do lugar.
Uma feita vinha
descendo a rua principal, com a cabeça cheia desse "veneno" que se
compra nos balcões de bolicho, em copitos de fundo grosso. Parecendo, pelo
andar balanceado, que totalmente borracho.
Ao seu encontro vinha o
padre que, deparando com o seu Deco naquele estado o interpelou:
- E então, seu Deco, se
emborrachando de novo?
A resposta veio pronta:
"Cada qual
na sua ponta
para comer a
linguiça.
Eu bebo em hora
de folga
e o padre em
hora de missa".
OUTRA DO SEU DECO
Vinha o seu Deco
novamente pela rua central balanceando o corpo, como pelincho no
arame. Muita gente não sabia, exatamente, se este modo de andar do seu Deco era
do seu natural ou devido as doses excessivas da "moça branca", com
quem tinha diários encontros nos balcões das bodegas. Pois vinha o seu Deco
desenhando o carpido, meio lá, meio cá, quando alguém o interpelou:
- E
então, seu Deco, se passou no trago?
Seu Deco deu uma
limpada nos beiços com o dorso da mão e recitou, com sua voz meio pendente pro fanha:
"O vinho
não me faz mal
a canha não me empanturra
se o vento não
tá tão forte
eu não sei o que
me empurra".