PRA QUE CORRER?
Como é domingo, levantamos mais tarde e temos um bom tempo até a hora da bóia, vamos postar um causo recolhido por Apparício da Silva Rillo e editado em sua coletânea Rapa de Tacho, volume 3, Editora Tchê. A gravura é de Jorge Rajedell.
Bom domingo a todos
Para seus amigos era o “Caraguatá”, apelido que aceitava naturalmente e que deve ter-se originado de seus bigodões crespos, suas sobrancelhas espessas e arrepiadas ou, talvez, de seu gênio inquieto, de sua franqueza de opiniões, de suas colocações as vezes ásperas para espíritos de gente que estudou em “colégio de freiras”. De quebra, o Caraguatá era poeta que se dividia entre o lírico, o parnasiano e o gênero nativista.
Pois há vários anos quando residia e advogava em Santa Maria, o Caraguatá foi convidado para pronunciar uma palestra no CTG Tapera Velha, de Tupanciretã, e o ensejo de um encontro de “patrões” de entidades tradicionalistas. Foram seus companheiros, nessa jornada de cem quilômetros de estradas, os então estudantes universitários Xiru Vasseur e o Negro Motta. Deste último ouvi o causo que ora alinhavo.
Nosso herói e seus amigos eram conduzidos a seu destino pelo Barin, jovem empresário santa-mariense, famoso por suas habilidades no comando de um automóvel que, no caso, era o seu – uma “barata” Chevrolet importada que só faltava voar.
Estava sendo ultimada a estrada asfaltada entre Santa Maria e Tupã e vários trechos não haviam recebido nem mesmo a primeira camada de pedras. Eram pura terra – na ocasião transformados, pela chuva, em barrais de atolar sapos. O mau estado desses trechos não impediam que o Barin baixasse menos o pé do acelerador da chefrola, derrapando nas curvas, passando perigosamente perto dos barrancos e declives laterais pendendo para socavões de meter medo.
Caraguatá – que sempre teve horror a viagens de automóveis por estradas embarradas e que não admitia velocidades acima de 50/60 km por hora, suava pelo rego da bunda. Mascava o bigode - num gesto muito seu – e largava de quando em quando suas tradicionais fungadas de capincho que saiu do arroio.
Logo após uma derrapada que fez a “barata” dançar, num legítimo cavalo-de-pau em pista de sabão, não resistiu. Endireitou-se no banco, alisou a bigodeira arrepiada, fez tremer os pulmões numa fungada macha e indagou do Barin:
- Me conta uma coisa, Barin...
- O quê, bacharel?
- Automóvel é passarinho, Barin?
- Não, não é. Por que?
- Por nada. Só outra coisita, Barin. Tu gostas de fazer sexo, Barin?
- Quem não gosta, bacharel. E gosto barbaridade!
- Pois então, filho da mãe, alivia o galope deste teu auto que não demora a gente roda, entope num precipício desses e tu nunca mais vais trepar com ninguém, Barin de merda!