SAUDOSO PAULINHO PIRES
Me bateu saudades de um velho parceiro de muitas jornadas. O querido e imortal Paulinho Pires.
Certa feita fui visitar o amigo Pandiá Cardoso, lá em São Lourenço do Sul, que me fez um pedido: - Tem como trazer o Paulinho Pires? Nunca mais o vi e sou um admirador do seu trabalho.
E lá se fomos nós. Minha esposa, eu, o Paulinho e a Dona Angelina, sua recém companheira (o Paulinho ficara viúvo no ano anterior).
Viajar com o Paulinho era um prazeraço porque os causos, as piadas, as terminologias que brotavam do tocador de serrote, autor do Cevador de Mates, Súplica do Rio, e outros tantos sucessos musicais, eram sempre muito engraçadas, tornando a viagem mais curta. Eu, tentando sugar tudo que podia. Pena não ter um gravador...
Esta lenda do Rio Grande estava com 83 anos e sua parceira, a Angelina, que ele chamava amorosamente de Gê, deveria ter idade parecida. Ela cuidava dele com o maior esmero e regramentos pois o Paulinho Pires sempre foi um homem boêmio, meio descuidado com horários. A pressa nunca foi apresentada a este grande músico.
Sempre que eu ia buscá-lo em seu rancho para algum evento, ali na Rua dos Burgueses, em Porto Alegre, tinha que chegar uma hora antes de qualquer partida pois nunca estava pronto, além do que me fazia experimentar todo tipo de canha preparada por ele e também mostrar-me as novas plantas de seu jardim.
Mas voltemos ao causo.
Como todo casal novo, os dois faziam a jornada tapados de carinhos. E eu só negaciando pelo retrovisor...
Vez em quando, na folga do namoro, o Paulinho largava uma que chegava a me doer a cabeça de tanto rir.
Na hora em que os dois tomaram alguns dos diversos remédios diários, ali por perto do município de Cristal, o Paulinho, com sua voz pausada e mansa, me saí com esta:
- Pois sabes, Léo, que eu e a Gê "temo" igual a junta de boi carrero passando em ponte estreita. Um se firmando no outro....
Oiga-lê, Rio Grande velho.