RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

quinta-feira, 1 de abril de 2021

A TROVA NO RIO GRANDE DO SUL

 

Ontem, dai 31 de março, em face do falecimento de Derly Silva um dos baluartes da trova no Rio Grande do Sul, muitas pessoas nos sugeriram falar mais a miúde sobre esta arte tão bonita mas que anda um pouco esquecida. Buscamos, então, um texto da cantora Maria Luiza Benitez sobre o tema. 


Gildo de Freitas e Teixeirinha - Dois grandes trovadores

 

Em 04 de dezembro de 1982 falecia Leovegildo José de Freitas, mais conhecido como Gildo de Freitas, eternamente reconhecido como o imbatível Trovador dos Pampas. No mesmo dia também, porém, em 1985, ficou marcado o falecimento de Vitor Mateus Teixeira, mais conhecido como Teixeirinha, que é reconhecido como o Rei do Disco. Não é mero acaso do destino que os dois nomes mais expoentes da música Rio-Grandense vieram a falecer no mesmo 04 de dezembro.

Criaram um fake que os dois eram rivais, muito antes pelo contrário, eram amigos. Em 1989, a Assembleia Legislativa aprovou um projeto de Lei do deputado Joaquim Moncks, que fixa o 04 de dezembro como o “Dia do Poeta Repentista Gaúcho e do Artista Regional Gaúcho” e que consagra como patronos, respectivamente, Gildo de Freitas e Teixeirinha.

Desse modo, esta data não deve ser lembrada simplesmente como o dia da morte do Gildo e do Teixeirinha, mas para recordar e exaltar o que esses homens representaram para a cultura Rio-Grandense.

E que sirva para lembrar a todos os gaúchos que Gildo de Freitas e Teixeirinha, durante suas vidas e nas suas músicas, exaltaram nossa cultura, nosso Estado, nossa vida, nossa história. Suas músicas jamais deixam de ser atuais e de retratar nosso sistema de vida, como diria o Gildo de Freitas. Eles são exemplos para todos os demais artistas regionais do passado, do presente e do futuro. Assim como Paixão Cortes recriou o espírito Farroupilha e aumentou nosso orgulho das tradições Gaúchas, Gildo de Freitas e Teixeirinha criaram a identidade da música regional gaúcha.

Homenagens ao Gildo e Teixeirinha não se resumem apenas ao dia 04 de dezembro. Gildo de Freitas é nome de CTG, de rua, de bairros, do mesmo modo que Teixeirinha. Segundo o historiador Fraga Cirne, o canto de improviso é uma das mais expressivas manifestações da cultura espontânea do Rio Grande do Sul. É, talvez, a forma fundamental da música regionalista do nosso Estado. Para diferenciar da trova literária, adotou-se chamar de Trova Galponeira.

O Trovador do Rio Grande do Sul, na parte do improviso, tem estilo próprio. Sua propagação se deu nos galpões da estâncias para a modernidade das cidades de hoje. A trova galponeira é a arte de improvisar versos em diferentes modalidades de versificação e com diferentes gêneros musicais de acompanhamento, identificadores da cultura gaúcha.

Início – o improviso de antigamente era em quadrinhas, ou seja, de 4 versos (linhas), com rimas intercaladas ( 2º verso com o 4º). Normalmente, ao som da viola de 10 ou 12 cordas. As primeiras caracterizavam-se por apresentar melodia livre, as chamadas QUERO-MANAS, do período fandangueiro.

Trova Galponeira – é a denominação atribuída a toda forma de improviso no Rio Grande do Sul. Atualmente as mais conhecidas são: Trova Campeira, Trova Tira-Teima (em desuso), Trova em Milonga, Trova do Martelo, Trova Estilo Gildo de Freitas e ainda a Pajada, que também é improviso.

Trova Campeira – É a trova tradicional de desafio (disputa) no Rio Grande do sul, com estrofes em sextilhas (6 versos ou linhas). Versos em redondilha maior, onde as rimas são alternadas (2º, 4º e 6º versos) e a métrica é setissilábica, isto é, versos em sete sílabas. Esta modalidade, popularizou-se a partir das comemorações do Centenário da Revolução Farroupilha em 1935. Seus primeiros grandes divulgadores foram os trovadores e gaiteiros Inácio Cardoso e Pedro Raymundo. Inácio Cardoso introduziu a sextilha (estrofe de 6 versos), que até então cantavam em quadra (4 linhas). Por ter acompanhamento de gaita com a nota musical MI MAIOR, numa ocasião Inácio Cardoso teria chamado de MI MAIOR DE GAVETÃO, sendo que também chamavam esta tradicional modalidade de Trova Campeira. Recentemente designou-se chamar de Trova Campeira e o gênero musical de gavetão.

Gavetão – Recentemente adotou-se chamar o gênero da Trova Campeira de Gavetão, por estar a melodia entre o chote e a toada.

Tema – Por volta de 1956 surgiu o Tema nas trovas de disputa, para evitar a repetição de velhos chavões, bem como para testar o conhecimento dos trovadores.

Trova Tira-Teima – Modalidade atualmente em desuso. A melodia difere um pouco do Gavetão e não há intervalo musical entre um cantador e outro. A parte poética é a mesma da trova campeira.

Trova em Milonga – O trovador improvisa em ritmo de milonga. Normalmente é utilizada em apresentações individuais e não de disputa. As estrofes não tem um número padrão de versos, estes em redondilha maior.

Trova de Martelo – Versos em redondilha maior, com rimas alternadas. A música é vaneira e marcha, com início em Mi Maior. A característica é a rima interestrófica, o concorrente completa a rima do outro. Esta modalidade teria surgido por volta de 1955.

Trova estilo Gildo de Freitas – Os trovadores improvisam em cima da música DEFINIÇÃO DO GRITO, de Gildo de Freitas. Estrofes de 9 versos em redondilha maior, com rima no 2º, 4º, 6º e 9º versos e 7º e 8º entre si.

Pajada – Improviso assemelhado à Trova em Milonga. O canto é lento, próximo à uma declamação, com estrofes de 10 versos. Modalidade com poucos adeptos. Seu maior representante foi nosso colega aqui na Rádio Guaíba com o programa Brasil Grande do Sul – o magistral Jaime Caetano Braun.

O programa Nos Quadrantes do Sul promove sempre no último sábado de cada mês o Dia da Trova. A iniciativa tem por objetivo preservar essa modalidade.

FONTE: Maria Luiza Benitez