NASCE SIMÕES LOPES NETO
João Simões Lopes Neto, o primeiro escritor gaúcho a publicar um livro (Contos Gauchescos e Lendas do Sul), nasceu em Pelotas no dia 9 de março de 1865, ou seja, há exatamente 156 anos.
Era filho de Catão
Bonifácio Lopes e Teresa de Freitas Ramos. Com treze anos de idade, foi para o Rio
de Janeiro para estudar. Retornando ao Rio Grande do Sul, fixou-se em sua terra
natal, Pelotas, então rica e próspera pelas mais de cinqüenta charqueadas que
lhe davam a base econômica.
Simões Lopes Neto
envolveu-se em uma série de iniciativas de negócios que incluíram uma fábrica
de vidros e uma destilaria. Porém, todos fracassaram. Uma guerra civil no Rio
Grande do Sul – a Revolução Federalista de 1893 - abalou duramente a economia
local. Depois disso, construiu uma fábrica de cigarros. Os produtos, fumos e
cigarros, receberam o nome de "Marca Diabo", o que gerou protestos
religiosos. Sua audácia empresarial levou-o ainda a montar uma firma para
torrar e moer café, e desenvolveu um remédio para combater sarna e carrapato contendo
o tabaco como base da fórmula. Ele fundou, ainda, uma mineradora para explorar
prata em Santa Catarina.
Casou-se em Pelotas,
aos 27 anos, com Francisca de Paula Meireles Leite. Não tiveram filhos. Como
escritor, procurou em sua produção literária valorizar a história do gaúcho e
suas tradições. Sob o pseudônimo de "Serafim Bemol", e em parceria
com Sátiro Clemente e Dom Salustiano, escreveram, em forma de folhetim, "A
Mandinga", poema em prosa. Mas a própria existência de seus co-autores é
questionada. Provavelmente foi mais uma brincadeira de João Simões Lopes Neto.
Em certa fase da vida,
empobrecido, sobreviveu como jornalista em Pelotas. Publicou apenas quatro
livros em sua vida: Cancioneiro Guasca (1910), Contos Gauchescos (1912), Lendas
do Sul (1913) e Causos do Romualdo (1914).
Ao lançar a primeira
edição de Lendas do Sul, seu autor anunciou que estavam por sair Casos do
Romualdo, que viria a ser lançado em 1914, e Terra Gaúcha e a existência das
obras inéditas Peona e Dona, Jango Jorge, Prata do Taió e Palavras Viajantes.
Mas dessas obras só foram encontradas por Dona Velha, como era conhecida a
viúva do escritor, o que seria o segundo volume de Terra Gaúcha.
Dos demais, nada se
encontrou, levando a crer que, ao se referir a inéditos, Simões Lopes Neto
tinha em mente obras que ainda planejava escrever.
Terra Gaúcha, embora
incompleta, foi publicada pela Editora Sulina, de Porto Alegre, em 1955.
João Simões Lopes Neto
só alcançou a glória literária postumamente, em especial após o lançamento da
edição crítica de Contos Gauchescos e Lendas do Sul, em 1949, organizada para a
Editora Globo por Augusto Meyer e com o decisivo apoio do editor Henrique
Bertaso e de Èrico Veríssimo.
O livro Lendas do Sul
foi a primeira obra literária no idioma português a ser publicada na rede
mundial de computadores pelo aclamado Projeto Gutenberg, um empreendimento sem
fins lucrativos empenhado em disseminar grandes clássicos da literatura
gratuitamente (ou a preços nominais) ao grande público.
João Simões Lopes Neto
morreu em Pelotas em 1916, aos 51 anos, de uma úlcera perfurada. Sua literatura
ultrapassou as fronteiras do Rio Grande do Sul e do Brasil e hoje pertence à
literatura universal, tendo sido traduzido para diversas línguas.