RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

sábado, 6 de fevereiro de 2021

COSTURA NO CÓS


 

Mario Santos, João Batista e Léo Ribeiro


Nestes tempos de reclusão, inventei de dar uma ajeitada no meu guarda-roupas. Nem eu sabia que tinha tantas bombachas apesar das diversas que já dei. Então, voltei no tempo, lá pelos meus 14 anos de idade quando entrei para a invernada artística do colégio aonde estudava, o Ginásio Industrial Antônio Francisco da Costa Lisboa, de São Francisco de Paula, quando nem bombacha eu tinha.

Acho, até, que já contei esta história aqui, mas tudo bem....

Lembro que quase não pude participar de nossa primeira apresentação em um baile no Salão Esperança - e aqui eu faço um aparte para depois seguir na prosa da bombacha - .

O Salão Esperança era um clube para negros mas que aceitava, com muita hospitalidade e alegria, a presença de brancos. Já a sociedade da cidade não permitia a entrada de negros sem uma verdadeira e constrangedora sindicância na entrada. Talvez daí a simbologia do nome, Esperança. Esperança de um dia ter igualdade.

Mas bueno. Para que eu pudesse me apresentar e não guardasse uma frustração para o resto da vida a minha mãe pediu a bombacha de meu avô, seu pai, Manoel Ribeiro. Como eu era muito magro foi preciso fazer uns ajustes no cós. Aperta daqui, alinhava dali e me fui, feliz da vida.

As botas eram as de trabalho de meu pai, dois números maior que o meu pé mas nada que umas buchas de pano no bico não resolvesse.

Esse foi o meu primeiro rumo para me tornar um preservador da cultura regional gaúcha. 

Não meço a vida pelas vestes do meu corpo mas bombeando aquela pilha de bombachas, eu agradeço a Deus por tudo o que sou e tenho.