RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

sábado, 17 de outubro de 2020

UM HERÓI ALEMÃO ENTRE OS FARRAPOS

 

                     Hans Ferdinand Albrecht Hermann Von Salisch  

 

 
Por: Maxsoel Bastos de Freitas - Poeta e escritor


Para inicio do artigo e uma contextualização histórica devemos relembrar que no dia 25 de julho de 1824, mais de 10 (dez) anos antes do inicio da Revolução Farroupilha, na Província de São Pedro, desembarcou a primeira leva de 39 (trinta e nove) imigrantes alemães na Real Feitoria do Linho Cânhamo, hoje São Leopoldo, totalizando, entre eles 33 (trinta e três) evangélicos e 06 (seis) católicos. 
 
Hermann von Salisch, nasceu na cidade alemã de Pomerânia no ano de 1797,  chegou à Colônia São Leopoldo entre os anos de 1824 e 1827. Era um homem poliglota, tradutor juramentado do Fórum, Professor de Música, casou-se em 17 de fevereiro de 1830, em Porto Alegre, com Maria Vitorina Pereira, filha do sargento-mor Vitorino Pereira Coelho e Maria Joaquina da Conceição.
 
Em setembro de 1835 com o intuito de aproximar as relações com a colônia alemã os farrapos nomearam Hermann von Salisch Inspetor da Colônia de São Leopoldo. Seu grande opositor na alternância da Inspetoria foi Johann Daniel Hillebrand, cujas ideias se alinhavam com as imperialistas.  
 
Em janeiro de 1836 por necessidade de fortalecer as fileiras das forças imperiais por ordem de Araújo Ribeiro, Gaspar de Mena Barreto e João Castro e outros, aliciavam, em São Leopoldo, colonos alemães. Menna Barreto e seus companheiros, depois de terem reunido cerca de 500 (quinhentos) homens alemães, tentaram atravessar o rio dos Sinos, mas foram impedidos por um grupo de cerca de 50 (Cincoenta) patriotas, postados, com um bom numero de colonos, do lado da colônia. Esse grupo era dirigido pelo alemão Hermann von Salisch, entusiasta das ideias liberais farrapas. Com verdadeira ousadia as duas horas da tarde de 21 de janeiro de 1836, retido por um rápido tiroteio, esse cidadão demonstrando sagacidade e muita coragem, empunhando um lenço branco, passou-se sozinho para o campo de guerra do inimigo Gaspar Mena Barreto, com quem discutiu sobre o direito que tinha ele de falar em alemão aos seus patrícios. Conseguiu que o deixassem falar e, em alemão, língua que nem Mena Barreto, nem Castro, nem nenhum dos brasileiros com eles sabia, entusiasmou os seus patrícios pela causa farrapa, terminando por convidá-los a se passarem, com ele, para o lado da colônia, o que todos, prontamente fizeram. Muitos desses patrícios foram incorporar-se aos revolucionários que se aproximavam, nesse mesmo dia, pondo em fuga os chefes legalistas.   
 
A importância deste evento para a causa farrapa foi tão grande que o dia 21 de janeiro passou a ser um símbolo de vitória para os farroupilhas e o ato de coragem do Alemão foi registrado na Assembleia por Domingos José de Almeida que recomendou aos brasileiros gratidão aos feitos de Salisch. 
 
Também por iniciativa de Salisch em 1836, começou a circular O Colono Alemão. Um periódico impresso em Porto Alegre devido à inexistência de tipografia na Colônia de São Leopoldo, o jornal de Hermann Von Salisch (1797-1837) incitava os colonos a participarem da guerra, embora escrito na língua portuguesa por dificuldades técnicas da época com a tipografia na língua alemã.
 
Segundo o registro evangélico de seu falecimento Hermann Von Salisch foi assassinado em Sapucaia no dia 06 de outubro de 1837 à traição, pelas costas, não sendo identificado o seu assassino. Ele foi sepultado pelo pastor farrapo Klingelhöfer.

Referências:
SPALDING, Walter. A Revolução farroupilha: história popular do grande decênio. #. Ed. Il. – São Paulo: Ed. Nacional, 1982. 
FLORES, Hilda Agnes Hübner. Alemães na Guerra dos Farrapos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995. 
 
 
Daniel Hillebrand (esquerda)
e Salisch (Direita em reprodução de tela de Guido Mondin)
 

Jornal editado por Salisch