RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

DOIS ANOS SEM O "CEVADOR DE MATES"


 

Paulinho Pires e seu serrote musical
 
 
Poeta, instrumentista e compositor, aclamado intérprete de serrote musical Paulo Dornelles Pires, o Paulinho Pires, 84 anos, faleceu no dia 29 de outubro de 2018. 
 
Nascido a 18 de março de 1934, na Ilha do Cônsul no Delta do Jacuí, Paulinho Pires, aos três anos, foi morar na Ilha das Flores, onde passou boa parte de sua infância.

Aos 5 anos já se iniciava na gaita de boca e aos 10, mudou-se para a outra margem do rio, Picada Sul, entre a Ilha da Pintada e o município de Guaíba.

Crescendo em contato com a natureza, participava das festas tradicionais onde a música e a poesia faziam parte do convívio popular: eram as procissões religiosas, as quermesses, as reuniões filantrópicas em praças públicas e as folias de carnaval.

Aos 16 anos, idade em que começou a tocar o violão, ganhou um acordeom de 48 baixos, marca Dal-Santos, com a qual, logo passou a se apresentar em festas, bailes, casamentos, tocando vanerão, xotes, valsas e fazendo serenatas. Foi nessa época que compôs sua primeira música, um samba intitulado Vagabundo.

Aos 20 anos, transferiu-se para Porto Alegre, vindo a participar de um grupo ligado a arte nativa, chamado Estância da Amizade.

Nesta época começou a tocar serrote. Passou a frequentar o C.T.G. 35, sendo convidado a participar do grupo como peão artístico e acordeonista, viajando pelo Estado e fronteiras do Rio Grande (Argentina e Uruguai).

Como instrumentista e intérprete, integrou o conjunto vocal Os Carreteiros e o conjunto folclórico da Varig, Pagos da Saudade, onde conheceu o Brasil e boa parte deste mundo velho. Também participou do Conjunto de Folclore Internacional, conhecido, hoje, como Os Gaúchos.

Do final da década de 60 até início dos anos 90, participou como compositor e intérprete de importantes festivais musicais sendo o autor do tema que deu o primeiro grito ecológico nestes eventos, a canção Súplica do Rio.

Participou da abertura e encerramento de importantes eventos do RS, executando em solo de Serrote o Hino Nacional e Rio-grandense.

Em 1963 lançou o Compacto Simples ‘Paulinho Pires’ – Solo de Serrote e Canto, pela Fermata. Em 1984 participou da Coletânea de Músicos de Porto Alegre, o LP ‘POA 84’ , com ‘Exaltação a Porto Alegre’. Em 1993, gravou no estúdio K30, a fita cassete ‘Campo e Cidade’ pelo selo TimbreSul.

Em 2002 lançou o CD ‘Natureza, Campo e Cidade’ pelo selo Raízes.

Atuou como músico violoncelista junto à orquestra exclusivamente montada para o filme Concerto Campestre, de Henrique de Freitas Lima.

Prêmios e Distinções
1962 - Prêmio Glaucus Saraiva – Câmara de Vereadores de Porto Alegre
2001 - Prêmio Açorianos de Música - Melhor Compositor Regional
2002 - Medalha Simões Lopes Neto – Governo do Estado do RS

Meus Parceiros! Duvido que neste Rio Grande, no meio artístico ou fora dele, exista alguém que não goste do Paulinho Pires. Que Santa Criatura. Com sua calma, seu sorriso, chamando a todos de "meu maninho" o Paulinho estava sempre pronto, a qualquer hora, para atender ao pedido de um amigo. Era prender o grito que o Paulinho Pires, com seu serrote embaixo do braço, o violão preso na outra mão, vem se chegando, de mansinho, cuidando para não atrapalhar nem ofender ninguém. E quem chegava na sua casa na rua dos Burgueses, não adiantava ter pressa. Era um traguinho com butiá aqui, outro com losna ali e o mundo podia desabar que a gente não saía sem ver uma planta, uma folhagem que ele, homem preocupado com a ecologia, acabara de semear.

Tenho orgulho em conhecer e ser sido amigo e irmão do Paulinho Pires, um vate que orgulhou nossa Estância da Poesia  Crioula e todo o Rio Grande nativo.
 
 
Paulinho Pires tocando diante da Sesmaria do Infinito
porteira que cruzou em 29 de outubro de 2018
 
Fotos: Léo Ribeiro